ENTREVISTA EXCLUSIVA COM ZÉ BURNAY
2020-12-07
Zé Burnay é um ilustrador e cartunista de Sintra, Portugal. Nascido em 1991, o seu amor pela arte e pelo desenho foi estimulado ao herdar a extensa coleção de banda desenhada franco/belga do seu pai e por passar algum tempo na loja de antiguidades do seu avô. Trabalha como ilustrador freelance para várias bandas e marcas. Atualmente escreve, desenha, compõe música e publica a sua própria série de BD mítica/de terror intitulada “Andrómeda”.
+info: www.zeburnay.com
Zé Burnay é um ilustrador e cartunista de Sintra, Portugal. Nascido em 1991, o seu amor pela arte e pelo desenho foi estimulado ao herdar a extensa coleção de banda desenhada franco/belga do seu pai e por passar algum tempo na loja de antiguidades do seu avô. Trabalha como ilustrador freelance para várias bandas e marcas. Atualmente escreve, desenha, compõe música e publica a sua própria série de BD mítica/de terror intitulada “Andrómeda”.
+info: www.zeburnay.com
Entrevista
Quando fizeste a transição de leitor de BD para a de autor de banda desenhada e qual foi a tua formação?
Penso que essa transição foi mais ou menos instantânea. O meu pai deu-me a sua colecção quando tinha 6 ou 7 anos e não demorou muito até começar a fazer as minhas primeiras experiências. Formalmente, a primeira BD que completei (com capa, paginação, etc.) foi no 11º ano para um projecto escolar.
A tua formação foi útil no teu percurso artístico?
Formei-me em design gráfico na ESAD.CR. Nunca cheguei a exercer a profissão mas o que aprendi em termos de organização visual (cor, harmonia, layouts, paginação, impressão, etc.) foi fundamental para o meu percurso artístico e são ferramentas que uso diariamente. Principalmente enquanto auto-editor.
Quais os temas e conceitos que te interessam mais quando estás a trabalhar as tuas narrativas?
Com o “Andrómeda” (que é um projecto que tem vindo e dominar muito do meu output artístico tanto enquanto autor de BD, ilustrador e, ocasionalmente, compositor de música ambiente/ drone), diria que os temas/ conceitos principais são a relação entre o Homem e o universo, a mitologia e o folclore. Mais vagamente, a sensação de mistério e transcendência.
Quais são as tuas referências e autores preferidos?
Em termos de banda desenhada, o Mike Mignola e o Jean Giraud/ Moebius são absolutamente os meus pilares artísticos. O Jean Giraud é uma grande influência visual mas diria que apesar de poder não parecer à primeira vista, pelas nossas vastas diferenças em termos de desenho, o Mignola é sem dúvida a minha maior referência pela forma como cria atmosfera, layout e storytelling e a maneira como a sua escrita faz uso de contos, mitologia e folclore.
A escrita do Cormac McCarthy, principalmente o “Blood Meridian” (provavelmente o meu livro de ficção favorito) , é uma enorme influência no “Andrómeda”. “An Occurrence at Owl Creek Bridge”, um conto escrito por Ambrose Bierce, também é uma enorme influência. A música da banda Earth (e música em geral) é outra enorme influência. As minhas primeira ideias para o “Andrómeda” formaram-se a ouvir o álbum “Hex; Or Printing in the Infernal Method”. O “Andrei Rublev”, de Tarkovsky, também é muito importante, tal como muito do trabalho do David Lynch.
Ao nível nacional quais são os teus álbuns de BD preferidos?
Já há muitos anos que não a leio mas “A Pior Banda Do Mundo”, do José Carlos Fernandes, é provavelmente a minha BD nacional preferida.
Penso que essa transição foi mais ou menos instantânea. O meu pai deu-me a sua colecção quando tinha 6 ou 7 anos e não demorou muito até começar a fazer as minhas primeiras experiências. Formalmente, a primeira BD que completei (com capa, paginação, etc.) foi no 11º ano para um projecto escolar.
A tua formação foi útil no teu percurso artístico?
Formei-me em design gráfico na ESAD.CR. Nunca cheguei a exercer a profissão mas o que aprendi em termos de organização visual (cor, harmonia, layouts, paginação, impressão, etc.) foi fundamental para o meu percurso artístico e são ferramentas que uso diariamente. Principalmente enquanto auto-editor.
Quais os temas e conceitos que te interessam mais quando estás a trabalhar as tuas narrativas?
Com o “Andrómeda” (que é um projecto que tem vindo e dominar muito do meu output artístico tanto enquanto autor de BD, ilustrador e, ocasionalmente, compositor de música ambiente/ drone), diria que os temas/ conceitos principais são a relação entre o Homem e o universo, a mitologia e o folclore. Mais vagamente, a sensação de mistério e transcendência.
Quais são as tuas referências e autores preferidos?
Em termos de banda desenhada, o Mike Mignola e o Jean Giraud/ Moebius são absolutamente os meus pilares artísticos. O Jean Giraud é uma grande influência visual mas diria que apesar de poder não parecer à primeira vista, pelas nossas vastas diferenças em termos de desenho, o Mignola é sem dúvida a minha maior referência pela forma como cria atmosfera, layout e storytelling e a maneira como a sua escrita faz uso de contos, mitologia e folclore.
A escrita do Cormac McCarthy, principalmente o “Blood Meridian” (provavelmente o meu livro de ficção favorito) , é uma enorme influência no “Andrómeda”. “An Occurrence at Owl Creek Bridge”, um conto escrito por Ambrose Bierce, também é uma enorme influência. A música da banda Earth (e música em geral) é outra enorme influência. As minhas primeira ideias para o “Andrómeda” formaram-se a ouvir o álbum “Hex; Or Printing in the Infernal Method”. O “Andrei Rublev”, de Tarkovsky, também é muito importante, tal como muito do trabalho do David Lynch.
Ao nível nacional quais são os teus álbuns de BD preferidos?
Já há muitos anos que não a leio mas “A Pior Banda Do Mundo”, do José Carlos Fernandes, é provavelmente a minha BD nacional preferida.
Quando e como surgiu a ideia de produzir a BD “Andrómeda”? Qual foi o teu processo de trabalho para esta BD e como decorreu a criação do mundo ficcional (worldbuiding)?
Durante cerca de dois anos fiz um webcomic chamado “Witch Gauntlet”, um projecto com inspiração em fantasia e heavy metal. Nunca acabei o projecto porque me fartei completamente das temáticas por serem muito limitadas e superficiais.
Quando comecei a formular ideias para um futura BD cheguei a duas conclusões: tenho tendência em projetar histórias longas e farto-me rapidamente se estiver constrangido por limitações de género, por isso decidi que o meu próximo projecto teria de ser "aberto" o suficiente para que eu o pudesse moldar ao longo do tempo. Decidi então criar um projeto que englobasse todos os meus interesses visuais e narrativos com a possibilidade de facilmente introduzir novas influências e ideias enquanto vão surgindo. Baseei-me muito na estrutura de westerns como “Kung Fu”, “El Topo”, “Shaolin Cowboy”, “Samurai Jack” e a trilogia de Sergio Leone: Um deambulante (com um objectivo em mente) que tem "aventuras" episódicas por onde passa. Existe uma ideia central que serve como espinha dorsal do projecto mas a mesma é maleável o suficiente para que eu possa explorar um enorme leque de possibilidades e isso é o que me mais entusiasma. É um projecto fundamentalmente exploratório.
Antes de fazer a primeira história curta (“Bugonia”) fiz algum trabalho de worldbuilding mas o meu processo é muito intuitivo. Muitos dos principais elementos simbólicos que uso no projecto começaram por ser ideias soltas que de uma forma ou outra vão entrando no meu vocabulário. Acaba por ser um processo de ir semeando ideias e vê-las ganhar vida própria. Um exemplo disso são as abelhas que introduzi em “Bugonia”; não tinha qualquer plano em torná-las num elemento recorrente.
Como e porquê decidiste usar a estratégia de crowdfunding pela Indiegogo para autopublicares o teu trabalho?
O “Andrómeda” é um projecto que criei 100% para satisfazer os meus próprios interesses e, devido à sua estrutura narrativa minimalista, praticamente muda e pouco convencional não é, a meu ver, um projecto com grande potencial comercial para maioria das editoras de BD. Isso torna o crowdfunding a plataforma ideal para poder fazer exactamente o projecto tal como o idealizei sem ter de comprometer a minha visão e isso é muito, muito importante para mim.
Como preparaste a pré-campanha e a campanha para o álbum? Networking e as redes sociais foram importantes no processo?
Felizmente tinha já uma pequena audiência nas redes sociais. Quando lancei o primeiro comic de “Andrómeda”, fui ao Thought Bubble em Leeds. Foi a minha primeira experiência num evento internacional e isso ajudou-me muito a perceber o mundo não só da auto edição/ crowdfunding tal como criar contactos com outros autores e editores.
Que vantagens e desvantagens descobriste ao usar uma campanha de crowdfunding para a autopublicação do álbum “Andrómeda”?
Para além da dificuldade de chegar a um público mais alargado, que requer muita auto-promoção da parte do autor, a maior desvantagem é a quantidade de chapéus que temos de usar. Autor, editor, promotor, estafeta de entregas.
É muito trabalho e requer dedicação e esforço mas no final do dia, comigo tem valido a pena.
Que exemplos observaste para criar a tua campanha?
Na altura lembro-me de investigar várias campanhas no Kickstarter, entre as quais o “Head Lopper” do Andrew Mclean.
Que achas do crescimento da BD nacional nos últimos anos?
A nível de autores e da qualidade do que se faz por cá diria que a cena nacional está saudável, activa e cheia de talento. A nível económico e oportunidades parece-me ainda muito, muito fraco. Não acho que seja por falta de esforço e iniciativa tanto dos autores como dos editores, mas continua ainda a ser apenas um hobby que não traz sustentabilidade para nenhum autor que eu conheça.
Como está a decorrer o processo de criar o segundo álbum da série Andrómeda?
Está a ser demorado mas está a correr bem. Infelizmente não posso disponibilizar tanto tempo como desejaria ao projecto por isso é algo em que trabalho quando possível entre outros trabalhos de ilustração. Penso que possivelmente terei material suficiente para um segundo volume em finais de 2022.
Já sabes como a narrativa irá ser concluída? Já tens tudo planeado ou estás aberto a alterações durante o processo criativo?
Uma das minhas primeiras ideias para o projecto foi precisamente a cena final, que entretanto vai-se alterando à medida que o projecto evolui. Costumo pensar nessa ideia frequentemente. Acho que tenho várias versões apontadas em cadernos e e-mails.
Que alterações irás fazer na campanha de crowdfunding para o segundo álbum? Que lições retiraste da primeira campanha?
Penso que irei usar basicamente a mesma fórmula. Fiz muita pesquisa e falei com muita gente na altura da primeira e, se há uma lição que retirei, é a de não prometer demasiado ou corre-se o risco de desapontar as pessoas. Principalmente com o número de extras promocionais (comissões, prints exclusivos, pins, postais, etc.). Ser directo, simples e apresentar o projecto da melhor forma é o essencial.
A adaptação da narrativa Andrómeda para o cinema ou outro meio faz parte dos teus planos para o futuro da narrativa?
Não faz parte dos meus planos e parece-me muito, mas muito pouco provável, mas era algo que adorava que acontecesse. Honestamente, nunca vi como fosse possível adaptar o projecto ao cinema até ver “Jauja”, um filme do realizador Argentino Lisandro Alonso. Penso que ele faria algo espetacular com o material.
Entrevistador: Marco Fraga Silva
Artigo web: Sérgio Santos
Futuramente continuarão a ser publicadas entrevistas referentes a várias personalidades de destaque ligadas ao universo da BD.