RESENHA BD
Viagem, de Yūichi Yokoyama
03-01-2022
Sabemos à partida que uma proposta editorial da Chili Com Carne não estará nas vertentes mais padronizadas da banda desenhada. Ver mangá, um estilo de BD com um enorme pendor comercial, nas propostas de uma editora que cultiva a irreverência vanguardista, tem o seu quê de surpreendente. Mas mal se folheia este livro, percebe-se o porquê do seu lugar no alinhamento editorial.
Yūichi Yokoyama não é um nome ligado ao mainstream do manga. Este artista plástico japonês utiliza a linguagem gráfica do manga para explorar novas estéticas. Não replica o estilismo que associamos ao género. De certa forma, vai à sua raiz, aos antecedentes gráficos do mangá na cultura visual e história da arte japonesa. Apesar de ter um forte lado experimental, a obra incorpora um rigoroso sentido narrativo. Este livro tanto pode ser lido como obra literária, como visto de forma fragmentada, em exposição de pranchas. Claro que em exposição de galeria, perder-se-ia o dinamismo narrativo que dá força a esta obra.
Sabemos à partida que uma proposta editorial da Chili Com Carne não estará nas vertentes mais padronizadas da banda desenhada. Ver mangá, um estilo de BD com um enorme pendor comercial, nas propostas de uma editora que cultiva a irreverência vanguardista, tem o seu quê de surpreendente. Mas mal se folheia este livro, percebe-se o porquê do seu lugar no alinhamento editorial.
Yūichi Yokoyama não é um nome ligado ao mainstream do manga. Este artista plástico japonês utiliza a linguagem gráfica do manga para explorar novas estéticas. Não replica o estilismo que associamos ao género. De certa forma, vai à sua raiz, aos antecedentes gráficos do mangá na cultura visual e história da arte japonesa. Apesar de ter um forte lado experimental, a obra incorpora um rigoroso sentido narrativo. Este livro tanto pode ser lido como obra literária, como visto de forma fragmentada, em exposição de pranchas. Claro que em exposição de galeria, perder-se-ia o dinamismo narrativo que dá força a esta obra.
Dinamismo é a palavra certa para descrever este livro. O ritmo visual de uma história que se conta sem palavras é implacável, constantemente reforçado pelo trabalho gráfico, pelos enquadramentos e pela forma como Yokoyama estrutura as suas pranchas. A narrativa visual é, em grande medida, a arte de controlar o movimento do olhar do leitor, e este é um daqueles raros livros que é sublime na forma como o consegue. A partir do momento em que viramos a primeira página e contemplamos a primeira vinheta, o nosso olhar fica capturado. Resta-nos aproveitar a viagem.
O nosso olhar viaja numa história que é, em si, sobre viagens. Esta é de uma tremenda simplicidade. Três homens entram num comboio, viajam, e saem quando chegam ao seu destino. O cerne da história é minimalista. E a partir daqui, tudo o resto se constrói. A omnipresença das paisagens, entrecortadas pelas janelas do comboio. A transição entre geografias. A vertigem da velocidade. O interior das carruagens e os restantes passageiros. Yokoyama retrata tudo com um estilo que se aproxima da abstração, o real é destilado às suas linhas e geometrias elementares. Este abstracionismo vinca o ritmo narrativo, sendo muito similar à estética visual da vertigem da velocidade dos pintores do futurismo clássico.
Este livro vertiginoso surpreende, mostra até que ponto a linguagem do manga pode ser manipulada para desenvolver novas estéticas. Equilibra o experimentalismo estético com rigor narrativo, mostrando-nos que o manga tem uma diversidade mais alargado do que a vertente mais comercial que nos chega à Europa. Uma excelente proposta da Chili Com Carne.
Artur Coelho
O nosso olhar viaja numa história que é, em si, sobre viagens. Esta é de uma tremenda simplicidade. Três homens entram num comboio, viajam, e saem quando chegam ao seu destino. O cerne da história é minimalista. E a partir daqui, tudo o resto se constrói. A omnipresença das paisagens, entrecortadas pelas janelas do comboio. A transição entre geografias. A vertigem da velocidade. O interior das carruagens e os restantes passageiros. Yokoyama retrata tudo com um estilo que se aproxima da abstração, o real é destilado às suas linhas e geometrias elementares. Este abstracionismo vinca o ritmo narrativo, sendo muito similar à estética visual da vertigem da velocidade dos pintores do futurismo clássico.
Este livro vertiginoso surpreende, mostra até que ponto a linguagem do manga pode ser manipulada para desenvolver novas estéticas. Equilibra o experimentalismo estético com rigor narrativo, mostrando-nos que o manga tem uma diversidade mais alargado do que a vertente mais comercial que nos chega à Europa. Uma excelente proposta da Chili Com Carne.
Artur Coelho
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Viagem
Autor: Yūichi Yokoyama
Editora: Chili Com Carne
Ano de edição: 2021
Páginas: 192 páginas, capa mole
Preço: 15€
Viagem
Autor: Yūichi Yokoyama
Editora: Chili Com Carne
Ano de edição: 2021
Páginas: 192 páginas, capa mole
Preço: 15€