RESENHA BD
A Viagem da Virgem, Pepedelrey, Jorge Coelho, Rui Gamito e Rui Lacas.
04-08-2019
Este livro foge claramente aos estereótipos da Ficção Científica, embora faça um uso liberal deles. É o tipo de história que se espera de quem a criou, uma meditação livre e libertina, de estética independente. Apesar de ser a quatro mãos, espelha o sentido estético do seu criador, que, como já conhecemos, não é complacente com caminhos já trilhados, nem faz banda desenhada que serve para entreter.
A ideia sai da mente de Pepedelrey, e transmuta-se para o papel através das escolhas gráficas deste, em conjunto com Jorge Coelho, Rui Gamito e Rui Lacas. Isto significa que cada episódio do livro vive de grafismos muito diversos, embora não o sejam de forma radical entre si. Estes artistas, apesar de cada um ter o seu traço individual, são representativos de uma geração de criadores de banda desenhada em Portugal e co-polinizam-se nas suas influências. A narrativa e a cor são os elementos unificadores que dão a coerência a esta obra.
Este livro foge claramente aos estereótipos da Ficção Científica, embora faça um uso liberal deles. É o tipo de história que se espera de quem a criou, uma meditação livre e libertina, de estética independente. Apesar de ser a quatro mãos, espelha o sentido estético do seu criador, que, como já conhecemos, não é complacente com caminhos já trilhados, nem faz banda desenhada que serve para entreter.
A ideia sai da mente de Pepedelrey, e transmuta-se para o papel através das escolhas gráficas deste, em conjunto com Jorge Coelho, Rui Gamito e Rui Lacas. Isto significa que cada episódio do livro vive de grafismos muito diversos, embora não o sejam de forma radical entre si. Estes artistas, apesar de cada um ter o seu traço individual, são representativos de uma geração de criadores de banda desenhada em Portugal e co-polinizam-se nas suas influências. A narrativa e a cor são os elementos unificadores que dão a coerência a esta obra.
Não esperemos uma história dentro dos limites clássicos da Ficção Científica. Claro, há andróides, aliens e naves espaciais, cidades futuristas e cibernética dura, mas não se esperaria de Pepedelrey um baralhar e tornar a dar destas iconografias. A narrativa que constrói segue caminhos catárticos, de sexualização assumida. Poderia ser igual a tantas outras histórias que se lêem na banda desenhada independente, mas mexe com FC e não com as mais habituais sensações e impressões autobiográficas dos autores.
Esta é uma história de encontros e engates, e de uma bela andróide que, apesar do seu ar distante, misterioso e força de liberdade, serve essencialmente para ser usada. Quer para gratificação sexual, quer como elemento de navegação ou motorização de naves espaciais (a história nisto não é muito clara, o que faz parte do estilo do autor). O dedo apontado à misoginia muitas vezes inerente ao género literário é notório. Afinal, recordem-se lá de quantas personagens femininas das aventuras no espaço não são meros apêndices agradáveis ao olhar, para sublinhar o heroísmo dos personagens? A Viagem da Virgem não é a FC limpa e de design clean ao estilo de Star Trek, é uma lente distorcida das relações humanas em estado cru.
Se se atreverem a pegar neste livro, algo que recomendo fortemente, preparem-se. É incómodo, como normalmente o são as obras de Pepedelrey. Avassala-vos os centros de processamento visual cerebral com imagética muito forte, distorções do futurismo clássico cruzados com cyberpunk escatológico. Não é uma obra confortável. Mas isso, francamente, é o que se esperaria deste grupo de criadores.
Artur Coelho
Esta é uma história de encontros e engates, e de uma bela andróide que, apesar do seu ar distante, misterioso e força de liberdade, serve essencialmente para ser usada. Quer para gratificação sexual, quer como elemento de navegação ou motorização de naves espaciais (a história nisto não é muito clara, o que faz parte do estilo do autor). O dedo apontado à misoginia muitas vezes inerente ao género literário é notório. Afinal, recordem-se lá de quantas personagens femininas das aventuras no espaço não são meros apêndices agradáveis ao olhar, para sublinhar o heroísmo dos personagens? A Viagem da Virgem não é a FC limpa e de design clean ao estilo de Star Trek, é uma lente distorcida das relações humanas em estado cru.
Se se atreverem a pegar neste livro, algo que recomendo fortemente, preparem-se. É incómodo, como normalmente o são as obras de Pepedelrey. Avassala-vos os centros de processamento visual cerebral com imagética muito forte, distorções do futurismo clássico cruzados com cyberpunk escatológico. Não é uma obra confortável. Mas isso, francamente, é o que se esperaria deste grupo de criadores.
Artur Coelho
A Viagem da Virgem
Autor: Pepedelrey, Jorge Coelho, Rui Gamito, Rui Lacas
Editora: Escorpião Azul
Ano de edição: 2019
Páginas: 64 páginas, capa mole
Preço: 12,90€