RESENHA BD
Umbra #01
18-12-2019
Vou dizer algo muito óbvio. Estamos a viver um excelente momento de banda desenhada em portugal. Depois de décadas de falsos inícios e de constante míngua editorial, parece agora haver o contrário. Chega a sentir-se uma sobrecarga de edições no mercado. Masz mais interessante do que a disponibilidade facilitada de comics ou mangá que, para quem estava habituado a lê-los só em inglês e francês, é um misto de estranheza e alegria ler em tradução portuguesa, são os projetos de edição independente que, cada vez mais, ganham asas e tornam este bom momento interessante.
Estão a ler este texto no site de um desses projetos, que dá voz a novíssimos autores. Sucedem-se outros, que temos lido e assinalado por aqui. Revistas e antologias, que reúnem novos autores que surgem, e veteranos que regressam à edição. Este é o caso de Umbra, uma nova aposta na antologia curta de banda desenhada. Há nomes veteranos neste primeiro número, que talvez tenham sentido que este bom momento da BD é uma excelente oportunidade para retirar algumas histórias das pastas esquecidas do disco rígido.
Vou dizer algo muito óbvio. Estamos a viver um excelente momento de banda desenhada em portugal. Depois de décadas de falsos inícios e de constante míngua editorial, parece agora haver o contrário. Chega a sentir-se uma sobrecarga de edições no mercado. Masz mais interessante do que a disponibilidade facilitada de comics ou mangá que, para quem estava habituado a lê-los só em inglês e francês, é um misto de estranheza e alegria ler em tradução portuguesa, são os projetos de edição independente que, cada vez mais, ganham asas e tornam este bom momento interessante.
Estão a ler este texto no site de um desses projetos, que dá voz a novíssimos autores. Sucedem-se outros, que temos lido e assinalado por aqui. Revistas e antologias, que reúnem novos autores que surgem, e veteranos que regressam à edição. Este é o caso de Umbra, uma nova aposta na antologia curta de banda desenhada. Há nomes veteranos neste primeiro número, que talvez tenham sentido que este bom momento da BD é uma excelente oportunidade para retirar algumas histórias das pastas esquecidas do disco rígido.
Umbra começa com Estrada da Coca Cola, por João Chambel e João Sequeira. Num cenário pós-apocalíptico, um casal vive isolado por entre os destroços da civilização. O homem tem uma obsessão por monitorizar sinais e frequências eletromagnéticas, espalhando antenas por todo o lado. Talvez na esperança de encontrar sobreviventes, ou talvez o que destruiu o mundo tenha tido origem na indução de alucinações por radiação. O estilo preto e branco do desenho a pincel tinta da china dá a esta história um sentimento cru e aguçado. Segue-se Óscar, por Pedro Moura e Filipe Abranches. Nesta história, uma limpeza de sótão leva um homem a redescobrir as suas memórias de juventude. E, ao ligar um velho equipamento de rádio-amador, começa a receber estranhas mensagens. Entre o éter da rádio, reconhece a voz de um amigo de adolescência, que o envolveu neste mundo. A voz conta-lhe fragmentos de uma história estranha, sobre controlo de mentes e organizações secretas globais. Uma história demasiado mirabolante para ser real, mas quando o homem começa a querer saber sobre a vida do seu amigo, percebe indícios que o deixam assustado. Esta viagem pela paranóia de Pedro Moura tem acompanhamento gráfico de Filipe Abranches, num traço incómodo que sublinha a psicose da narrativa.
Em Herbicida, uma cientista caída em desgraça e uma ex-operacional militar cruzam-se numa missão especial. Têm de averiguar o que se passa num centro de pesquisas genéticas, que ficou incontactável. O que descobrem, perante uma natureza não natural, transformada pela intervenção científica, requer intervenção radical. Uma história em tom de FC clássica por Pedro Moura, ilustrada num eficaz estilo de linha clara por Sérgio Sequeira. Segue-se Carne, uma história negra onde, quando a vítima de um serial killer parece concordar com as obsessões do vitimizador, o jogo muda e o perseguidor passa a perseguido. Por estranho que pareça ter um assassino em série na cidade de Coimbra. O traço incómodo sublinha a violência desta história de José Joaquim, Pedro Moura e Hugo Maciel.
Umbra encerra com Zodíaco. Visualmente muito forte, a contribuição do brasileiro Sama leva-nos à vida de um jornalista especialista em crime despromovido para os horóscopos, que viaja num táxi assombrado e tem uma esposa que o trai, sob a omnipresença de câmaras escondidas.
Umbra é uma antologia sólida, seguindo um estilo visual independente. As histórias oscilam entre o leve surreal e a ficção fantástica, embora não se assumam diretamente como pertencentes a géneros específicos. Esta é uma bem vinda adição às publicações regulares de BD por cá. Esperemos que ganhe leitores e se aguente a médio prazo.
Artur Coelho
Em Herbicida, uma cientista caída em desgraça e uma ex-operacional militar cruzam-se numa missão especial. Têm de averiguar o que se passa num centro de pesquisas genéticas, que ficou incontactável. O que descobrem, perante uma natureza não natural, transformada pela intervenção científica, requer intervenção radical. Uma história em tom de FC clássica por Pedro Moura, ilustrada num eficaz estilo de linha clara por Sérgio Sequeira. Segue-se Carne, uma história negra onde, quando a vítima de um serial killer parece concordar com as obsessões do vitimizador, o jogo muda e o perseguidor passa a perseguido. Por estranho que pareça ter um assassino em série na cidade de Coimbra. O traço incómodo sublinha a violência desta história de José Joaquim, Pedro Moura e Hugo Maciel.
Umbra encerra com Zodíaco. Visualmente muito forte, a contribuição do brasileiro Sama leva-nos à vida de um jornalista especialista em crime despromovido para os horóscopos, que viaja num táxi assombrado e tem uma esposa que o trai, sob a omnipresença de câmaras escondidas.
Umbra é uma antologia sólida, seguindo um estilo visual independente. As histórias oscilam entre o leve surreal e a ficção fantástica, embora não se assumam diretamente como pertencentes a géneros específicos. Esta é uma bem vinda adição às publicações regulares de BD por cá. Esperemos que ganhe leitores e se aguente a médio prazo.
Artur Coelho
Umbra #01
Autores: João Chambel, João Sequeira, Pedro Moura, Filipe Abranches; Sama, Sérgio Sequeira, José Carlos Joaquim, Hugo Maciel.
Editora: Umbra
Ano de edição: 2019
Páginas: 112 páginas, capa mole
Preço: 12,50€