RESENHA BD
Shanghai Dream, Philippe Thirault e Jorge Miguel
18-12-2020
Fechar o ano editorial de 2020 com chave de ouro. Creio que é a primeira observação que se pode fazer a Shangai Dream. Por várias razões. A mais óbvia é a de nos trazer o trabalho de um ilustrador português que trabalha para o mercado editorial francês, e cujo traço era, até agora, inédito em Portugal. Mas também pela qualidade da edição, que colige dois álbuns numa história completa, num livro muito cuidado. Ainda juntaria o ser mais uma janela para o imenso mundo da banda desenhada francófona, que após uma era de hegemonia no nosso panorama editorial, parece ter sido eclipsado pelos comics e mangá.
Sejamos honestos. Se não pelo trabalho de Jorge Miguel, não estaríamos a ler este livro por cá. É o chamariz para a edição para os leitores nacionais, a oportunidade de descobrir o traço de um desenhador portuguès que nos é inédito. E vale bem a pena. O seu traço, dentro das clássicas estruturas da linha clara, é rigoroso, com uma forte atenção aos pormenores que compõem as cenas em vinhetas. É sintético quando tal é necessário à história, e enche o olho quando é preciso. O rigor assenta não só no traço cuidado, mas também em cuidadas pesquisas de referências visuais, que dão a Shangai Dream o sabor de época.
Fechar o ano editorial de 2020 com chave de ouro. Creio que é a primeira observação que se pode fazer a Shangai Dream. Por várias razões. A mais óbvia é a de nos trazer o trabalho de um ilustrador português que trabalha para o mercado editorial francês, e cujo traço era, até agora, inédito em Portugal. Mas também pela qualidade da edição, que colige dois álbuns numa história completa, num livro muito cuidado. Ainda juntaria o ser mais uma janela para o imenso mundo da banda desenhada francófona, que após uma era de hegemonia no nosso panorama editorial, parece ter sido eclipsado pelos comics e mangá.
Sejamos honestos. Se não pelo trabalho de Jorge Miguel, não estaríamos a ler este livro por cá. É o chamariz para a edição para os leitores nacionais, a oportunidade de descobrir o traço de um desenhador portuguès que nos é inédito. E vale bem a pena. O seu traço, dentro das clássicas estruturas da linha clara, é rigoroso, com uma forte atenção aos pormenores que compõem as cenas em vinhetas. É sintético quando tal é necessário à história, e enche o olho quando é preciso. O rigor assenta não só no traço cuidado, mas também em cuidadas pesquisas de referências visuais, que dão a Shangai Dream o sabor de época.
Shangai Dream é um livro de época. Transporta-nos aos tempos marcantes da II Guerra, com uma história tocante onde a guerra está em pano de fundo. São as transformações forçadas à vida dos personagens, e um perene amor ao cinema, que fazem o cerne narrativo. Na Alemanha nas vésperas da II Guerra, a perseguição aos judeus está a atingir proporções cada vez mais insuportáveis. Um casal judaico ligado ao cinema, ele que se poderia ter tornado realizador se não tivesse sido expulso dos estúdios, ela argumentista, percebem que só terão hipótese de sobreviver se fugirem da Alemanha. Mas com a guerra a aproximar-se, as saídas estão a fechar-se, e resta-lhes refugiarem-se em Xangai como única saída possível. No entanto, o casal irá ficar separado (e para saberem como e porquê, têm bom remédio, o livro está em livrarias e quiosques). O homem chega a Xangai só, acabando por saber da morte da esposa num campo de concentração. Terá de sobreviver à outra grande força opressora, o império Japonês, que era um pouco mais brando a lidar com os refugiados europeus no território chinês do que com os chineses. Apesar de tudo, o homem conseguirá sobreviver e levar a cabo um sonho: filmar o argumento que a mulher escreveu, em sua memória. E, no processo, talvez encontrar outro amor.
O argumento de Philippe Thirault é eficaz. Transporta-nos à época, e gera empatia para com personagens que, apesar dos destinos trágicos num mundo em convulsão, mantém os seus sonhos. A história tem um cuidadoso substrato histórico, retratando com rigor os tempos conturbados, bem como a curiosa internacionalidade da cidade de Xangai, onde a Europa se cruzava com a China, numa cultura cosmopolita mesmo debaixo das botas cardadas da ocupação japonesa.
Num ano complexo como 2020, mas que teve lançamentos notáveis - não tenho tempo para os acompanhar em detalhe, mas foi o ano em que estacionaram definitivamente nas minhas estantes obras como a genial O Penteador, a deslumbrante Desvio, duas edições de Dylan Dog (eu tinha de referir...), e foram editadas dezenas de bandas desenhadas, Shangai Dream é uma excelente forma de encerrar o ano editorial. Com uma história cativante, que nos recorda a qualidade da banda desenhada francófona, dá-nos a conhecer a enorme qualidade do traço de um ilustrador inédito por cá, apesar de ser português. Uma excelente edição em parceria da Seita com a Arte de Autor.
Artur Coelho
O argumento de Philippe Thirault é eficaz. Transporta-nos à época, e gera empatia para com personagens que, apesar dos destinos trágicos num mundo em convulsão, mantém os seus sonhos. A história tem um cuidadoso substrato histórico, retratando com rigor os tempos conturbados, bem como a curiosa internacionalidade da cidade de Xangai, onde a Europa se cruzava com a China, numa cultura cosmopolita mesmo debaixo das botas cardadas da ocupação japonesa.
Num ano complexo como 2020, mas que teve lançamentos notáveis - não tenho tempo para os acompanhar em detalhe, mas foi o ano em que estacionaram definitivamente nas minhas estantes obras como a genial O Penteador, a deslumbrante Desvio, duas edições de Dylan Dog (eu tinha de referir...), e foram editadas dezenas de bandas desenhadas, Shangai Dream é uma excelente forma de encerrar o ano editorial. Com uma história cativante, que nos recorda a qualidade da banda desenhada francófona, dá-nos a conhecer a enorme qualidade do traço de um ilustrador inédito por cá, apesar de ser português. Uma excelente edição em parceria da Seita com a Arte de Autor.
Artur Coelho
Shangai Dream
Autores: Philippe Thirault, Jorge Miguel
Editora: A Seita/Arte de Autor
Ano de edição: 2020
Páginas: 120 páginas, capa dura
Preço: 24€