RESENHA BD
Selva!!!, de Filipe Abranches
02-12-2019
Quando folheei o mais recente livro de Filipe Abranches no espaço erudito da Tinta nos Nervos, pareceu-me uma homenagem aos comics clássicos de guerra. Num estilo pessoal, pareceu-me ver vénias gráficas a Aces High (um dos meus favoritos de sempre neste género) e à longa lista de títulos clássicos que, em tempos culturalmente menos complexos, glorificavam a violência da guerra sob o simplismo da aventura (e, de caminho, perpetuavam estereótipos racistas e visões históricas redutoras). Mas esta não foi a leitura que esperava.
O toque de homenagem a todo um género que teve o condão de aquecer o sangue de adolescentes, deixando boas memórias, é um dos elementos marcantes deste livro. Mas a vénia não é um exercício de estilo. Poderia sê-lo. O melhor destas antigas revistas era a sua estética, o poder da imagem sobrepunha-se sempre às histórias, que raramente ultrapassavam a banalidade. Trabalhar esse estilo seria um caminho válido. Mas não foi o escolhido por Abranches. Embora não negue as referências estéticas, este livro leva-nos por diferentes vertentes gráficas.
Quando folheei o mais recente livro de Filipe Abranches no espaço erudito da Tinta nos Nervos, pareceu-me uma homenagem aos comics clássicos de guerra. Num estilo pessoal, pareceu-me ver vénias gráficas a Aces High (um dos meus favoritos de sempre neste género) e à longa lista de títulos clássicos que, em tempos culturalmente menos complexos, glorificavam a violência da guerra sob o simplismo da aventura (e, de caminho, perpetuavam estereótipos racistas e visões históricas redutoras). Mas esta não foi a leitura que esperava.
O toque de homenagem a todo um género que teve o condão de aquecer o sangue de adolescentes, deixando boas memórias, é um dos elementos marcantes deste livro. Mas a vénia não é um exercício de estilo. Poderia sê-lo. O melhor destas antigas revistas era a sua estética, o poder da imagem sobrepunha-se sempre às histórias, que raramente ultrapassavam a banalidade. Trabalhar esse estilo seria um caminho válido. Mas não foi o escolhido por Abranches. Embora não negue as referências estéticas, este livro leva-nos por diferentes vertentes gráficas.
Creio que a melhor forma de explicar este livro é pensá-lo como a transposição da brincadeira de uma criança para banda desenhada. Visto como se o imaginário infantil ganhasse realmente vida, como se o toque das mãos da criança insuflasse espírito nos brinquedos, e a tranquilidade do quarto de brincar se transformasse nas paisagens da fantasia. Este trabalho de Filipe Abranches fez-me recordar as minhas brincadeiras de criança, e recordar que durante o ato de brincar, as narrativas de fantasia que criamos são quase reais e palpáveis, apesar das suas imprecisões e desconexão. É um caminho que o autor trilha muito bem, oscilando entre vislumbres de um real infantil entre a fantasia assumidamente irreal.
Numa ilha do Pacífico, soldados enfrentam os seus inimigos de outra nação e vivem aventuras na selva. Num sótão tranquilo, uma criança alinha os seus soldados de plástico e modelos de aviões num jogo elaborado. Um jogo que se inspira nas suas leituras. Vislumbres de vinhetas esquecidas de banda desenhada de aventura, pensem Falcão ou as republicações portuguesas do clássico britânico Commando, cruzam-se com cenas algo surreais de modelos por montar que se transformam em visões militares.
Há muito em jogo neste livro. Abranches traduz, sem nostalgias banais, a visão fantasista da infância. Toca nas iconografias de toda uma vertente da Banda Desenhada. Introduz contextos meta-ficcionais, entre referências diretas à técnica narrativa em BD ou a dicotomia entre a realidade histórica e sangrenta da guerra versus as suas representações simplistas na cultura popular.
Artur Coelho
Numa ilha do Pacífico, soldados enfrentam os seus inimigos de outra nação e vivem aventuras na selva. Num sótão tranquilo, uma criança alinha os seus soldados de plástico e modelos de aviões num jogo elaborado. Um jogo que se inspira nas suas leituras. Vislumbres de vinhetas esquecidas de banda desenhada de aventura, pensem Falcão ou as republicações portuguesas do clássico britânico Commando, cruzam-se com cenas algo surreais de modelos por montar que se transformam em visões militares.
Há muito em jogo neste livro. Abranches traduz, sem nostalgias banais, a visão fantasista da infância. Toca nas iconografias de toda uma vertente da Banda Desenhada. Introduz contextos meta-ficcionais, entre referências diretas à técnica narrativa em BD ou a dicotomia entre a realidade histórica e sangrenta da guerra versus as suas representações simplistas na cultura popular.
Artur Coelho
Selva!!!
Autores: Filipe Abranches
Editora: Umbra
Ano de edição: 2019
Páginas: 64 páginas, capa mole
Preço: 10,00€