RESENHA BD
Umbra #02
01-09-2020
Se já o tinha sido afirmado no primeiro número, neste segundo, é plenamente assumido e consolidado. O foco da Umbra está na banda desenhada de ficção científica, procurando recuperar, como observa o excelente editorial, uma tradição clássica cujo pináculo está nos títulos da EC Comics. Histórias curtas, plot twists provocadores, e essencialmente enorme qualidade artística, assumindo a importância do estilo gráficos dos desenhadores. Ideias que deixam este fã confesso de ficção científica rendido, babado, ou o que lhe quiserem chamar. No restrito mas dinâmico panorama da BD portuguesa, apenas duas publicações regulares olhavam para este género - A Apocryphus, de forma temática, e a H-alt, como consequência do seu foco na história alternativa. A Umbra, apesar do título que remete para um fantástico mais na senda do gótico entre Stoker e o visual Hammer, vai mais longe, e foca-se como um laser na Ficção Científica
Se a primeira edição desta revista surpreendeu, este segundo número consolida. A aposta na qualidade estética é reforçada, a linha editorial é mantida com rigor. A leitura é divertida e fecha-se a contracapa com aquela sensação desconcertante de foi tão bom, queria mais.
Se já o tinha sido afirmado no primeiro número, neste segundo, é plenamente assumido e consolidado. O foco da Umbra está na banda desenhada de ficção científica, procurando recuperar, como observa o excelente editorial, uma tradição clássica cujo pináculo está nos títulos da EC Comics. Histórias curtas, plot twists provocadores, e essencialmente enorme qualidade artística, assumindo a importância do estilo gráficos dos desenhadores. Ideias que deixam este fã confesso de ficção científica rendido, babado, ou o que lhe quiserem chamar. No restrito mas dinâmico panorama da BD portuguesa, apenas duas publicações regulares olhavam para este género - A Apocryphus, de forma temática, e a H-alt, como consequência do seu foco na história alternativa. A Umbra, apesar do título que remete para um fantástico mais na senda do gótico entre Stoker e o visual Hammer, vai mais longe, e foca-se como um laser na Ficção Científica
Se a primeira edição desta revista surpreendeu, este segundo número consolida. A aposta na qualidade estética é reforçada, a linha editorial é mantida com rigor. A leitura é divertida e fecha-se a contracapa com aquela sensação desconcertante de foi tão bom, queria mais.
O que podem esperar desta segunda Umbra? Bem, já perceberam que FC da boa, unindo bons argumentos a desenhos a condizer. Abre com uma profundamente irónica distopia de Simon Roy, com mentes transplantadas para corpos robóticos e atos de terrorismo arquitetados de forma particularmente convoluta, numa daquelas histórias que só o final nos dá a chave que nos permite compreender a sua amplitude. Para quem conhece este autor canadiano apenas de Prophet, a sua genial e fortemente influenciado por Moebius space opera bizarra, descobre que Roy é capaz de explorar muito bem outras vertentes do género. E, é impressão minha, ou a edição de Jan's Atomic Heart na Umbra é a primeira vez que este autor é publicado em português?
Segue-se Duas Espadas, com um acutilante argumento de distopia religiosa futurista - imaginem uma enorme guerra civil europeia entre facções de um catolicismo fascista que chegou ao poder cavalgando uma onda de conservadorismo... e vou parar aqui, senão faço demasiados spoilers. Deixo só uma referência à divertida ironia de um final no santuário de Fátima, esse local que herdámos dos cultos supersticiosos estadonovistas. Pedro Moura, uma das vozes literárias em que a Umbra assenta, concebe a história que recebe uma roupagem visual estonteante de Jorge Coelho, que lá por estar a desenhar para uma publicação independente portuguesa não fica nada atrás do que faria para os títulos de primeira linha que tem ilustrado no mercado americano.
Depois desta nota de ironia distópica, o tom acalma em Camping Gás, com Pedro Moura novamente a contar-nos uma história que pode ser melhor qualificada como profundamente inspirada na série clássica Os Cinco, em modo caçadores do sobrenatural. Um grupo de adolescentes vai acampar no litoral de Sintra em busca de OVNIS, e embora pareça, não sairá defraudado. O traço leve e inocente de Bárbara Lopes assenta como uma luva nesta história de frescura juvenil.
Esta segunda Umbra encerra com Os Pesadões, de Fernando Relvas. Uma banda desenhada resgatada ao esquecimento dos idos de 1978, e isso nota-se, sente-se que é algo datada no argumento e estilo gráfico. Reparem que datada não implica ser má, apenas que nos remete para outras épocas onde a FC vivia de outras estéticas. Levar a descobrir, ou redescobrir (desconheço se esta história já foi editada) banda desenhada cai dentro da missão afirmada pela Umbra, e os leitores só ficam a ganhar por isso, percebendo a evolução estética e temática do género mesmo num país como o nosso, onde a FC tem uma expressão ínfima.
Terão de perdoar o meu óbvio excesso de entusiasmo. Mas como fanboy confesso de FC, a Umbra é uma publicação que me está a encher as medidas. indo onde a Apocryphus e a H-alt não foram. Nem têm de o fazer, estes dois projetos de BD têm os seus próprios focos e objetivos, tendo-se tornado elementos fundamentais da publicação regular de BD periódica em Portugal. Ou melhor, semi-regular, porque o enorme esforço dos seus editores colide com a realidade de um público reduzido num meio pequeno como o português. A Umbra surgiu com força neste panorama, e atreve-se a focar-se em exclusivo na FC, em paralelo com aposta na qualidade gráfica e literária. Se o primeiro número surpreendeu, o segundo reforça a boa impressão. Pessoalmente, cá estarei para ler o terceiro, bem como os seguintes. Projetos destes merecem todo o apoio.
Artur Coelho
Segue-se Duas Espadas, com um acutilante argumento de distopia religiosa futurista - imaginem uma enorme guerra civil europeia entre facções de um catolicismo fascista que chegou ao poder cavalgando uma onda de conservadorismo... e vou parar aqui, senão faço demasiados spoilers. Deixo só uma referência à divertida ironia de um final no santuário de Fátima, esse local que herdámos dos cultos supersticiosos estadonovistas. Pedro Moura, uma das vozes literárias em que a Umbra assenta, concebe a história que recebe uma roupagem visual estonteante de Jorge Coelho, que lá por estar a desenhar para uma publicação independente portuguesa não fica nada atrás do que faria para os títulos de primeira linha que tem ilustrado no mercado americano.
Depois desta nota de ironia distópica, o tom acalma em Camping Gás, com Pedro Moura novamente a contar-nos uma história que pode ser melhor qualificada como profundamente inspirada na série clássica Os Cinco, em modo caçadores do sobrenatural. Um grupo de adolescentes vai acampar no litoral de Sintra em busca de OVNIS, e embora pareça, não sairá defraudado. O traço leve e inocente de Bárbara Lopes assenta como uma luva nesta história de frescura juvenil.
Esta segunda Umbra encerra com Os Pesadões, de Fernando Relvas. Uma banda desenhada resgatada ao esquecimento dos idos de 1978, e isso nota-se, sente-se que é algo datada no argumento e estilo gráfico. Reparem que datada não implica ser má, apenas que nos remete para outras épocas onde a FC vivia de outras estéticas. Levar a descobrir, ou redescobrir (desconheço se esta história já foi editada) banda desenhada cai dentro da missão afirmada pela Umbra, e os leitores só ficam a ganhar por isso, percebendo a evolução estética e temática do género mesmo num país como o nosso, onde a FC tem uma expressão ínfima.
Terão de perdoar o meu óbvio excesso de entusiasmo. Mas como fanboy confesso de FC, a Umbra é uma publicação que me está a encher as medidas. indo onde a Apocryphus e a H-alt não foram. Nem têm de o fazer, estes dois projetos de BD têm os seus próprios focos e objetivos, tendo-se tornado elementos fundamentais da publicação regular de BD periódica em Portugal. Ou melhor, semi-regular, porque o enorme esforço dos seus editores colide com a realidade de um público reduzido num meio pequeno como o português. A Umbra surgiu com força neste panorama, e atreve-se a focar-se em exclusivo na FC, em paralelo com aposta na qualidade gráfica e literária. Se o primeiro número surpreendeu, o segundo reforça a boa impressão. Pessoalmente, cá estarei para ler o terceiro, bem como os seguintes. Projetos destes merecem todo o apoio.
Artur Coelho
Revista Umbra #02
Autores: Filipe Abranches, Pedro Moura, Jorge Coelho, Bárbara Lopes, Fernando Relvas, Simon Roy
Editora: Umbra
Ano de edição: 2020
Páginas: 112 páginas, capa mole
Preço: 12,50€