RESENHA BD
O Terror Negro, Jayme Cortez
27-11-2022
A exposição antológica dedicada a Jayme Cortez foi uma das que mais apreciei visitar na edição deste ano do Amadora BD. Em parte, por permitir descobrir a obra deste autor português que se radicou no Brasil. Mas a principal razão está no gosto pelos prazeres culposos das estéticas pulp e horror, de que Cortez foi um exímio praticante.
Nem só de iconografias pop se fazia a obra de Cortez, e a curta mas abrangente exposição antológica mostrou vários aspetos da obra de um ilustrador sólido, com um enorme domínio de linha, forma, cor e composição. Se o lado pulp despertava o olhar, entre as capas garridas de pura estética exploitaiton e a linha barroca da ilustração de BD de terror, outras obras em exposição mostram a capacidade do autor para invocar visões mais bucólicas e classicistas. Cortez ilustrava comercialmente, trabalhando à medida dos pedidos dos seus clientes e do gosto dos públicos das obras que ilustrava.
Como parte dos seus trabalhos, desenvolveu histórias de terror para revistas de banda desenhada brasileira deste género. Em termos temáticos, são o que podemos esperar do tipo de conto de terror de meados do século XX. Com as suas histórias de ironia negra, em que os desmandos ou maus comportamentos de algum personagem levam sempre a castigos tenebrosos vindos das forças ocultas do sobrenatural.
A exposição antológica dedicada a Jayme Cortez foi uma das que mais apreciei visitar na edição deste ano do Amadora BD. Em parte, por permitir descobrir a obra deste autor português que se radicou no Brasil. Mas a principal razão está no gosto pelos prazeres culposos das estéticas pulp e horror, de que Cortez foi um exímio praticante.
Nem só de iconografias pop se fazia a obra de Cortez, e a curta mas abrangente exposição antológica mostrou vários aspetos da obra de um ilustrador sólido, com um enorme domínio de linha, forma, cor e composição. Se o lado pulp despertava o olhar, entre as capas garridas de pura estética exploitaiton e a linha barroca da ilustração de BD de terror, outras obras em exposição mostram a capacidade do autor para invocar visões mais bucólicas e classicistas. Cortez ilustrava comercialmente, trabalhando à medida dos pedidos dos seus clientes e do gosto dos públicos das obras que ilustrava.
Como parte dos seus trabalhos, desenvolveu histórias de terror para revistas de banda desenhada brasileira deste género. Em termos temáticos, são o que podemos esperar do tipo de conto de terror de meados do século XX. Com as suas histórias de ironia negra, em que os desmandos ou maus comportamentos de algum personagem levam sempre a castigos tenebrosos vindos das forças ocultas do sobrenatural.
É no lado visual que o terror de Cortez ganha força. Portuguès a viver e trabalhar no Brasil, canaliza para a página o tipo de estética gótica que esperamos encontrar nos ilustradores clássicos de terror norte-americanos e europeus da segunda metade do século XX. Cortez era um excelso praticante de um estilo que enche o olho, uma espécie de barroco gótico a preto e branco onde as vinhetas se esbatem e o visual final da prancha aproxima-se do psicadélico.
Corro o risco de estar a traçar paralelos onde eles podem não existir, e as notas biográficas e bibliográficas de Fabio Moraes que contextualizam o livro não tocam nisso. Mas, para o meu olhar treinado nos clássicos comics de terror da EC, o traço de Cortez não fica nada atrás do de ilustradores como John Severin ou Esteban Maroto, e, embora com temáticas diferentes, Sergio Toppi. As estéticas são similares, de barroco visual assente numa elegância gótica.
Claro, o meu lado amargo recorda-me que se recordamos estes autores, foi por terem criado dentro dos mercados europeus e americanos. Cortez pertence a um mundo marginal, trabalhando sempre no Brasil e não tendo dado o salto para as editoras americanas. É talvez essa a diferença que o distingue de outros criadores, porque ao nível estético e estilístico, merece bem ser incluído na galeria dos grandes desenhadores clássicos de banda desenhada.
Nesta edição da Polvo podemos descobrir a obra de terror de Cortez. O destaque vai para a a história O Retrato do Mal!, que foi criteriosamente publicada nas suas duas versões, o que permite perceber o crescimento estético do autor. As restantes são mais estereotipadas, criadas para choque fácil de um público considerado menos sofisticado, mas mesmo assim visualmente muito interessantes. As assombrações e coisas do demo, os cemitérios soturnos e os crimes hediondos que são o pão nosso de cada dia do terror clássico ganham contornos surreais sob o traço de Cortez.
A edição é cuidada, com um notável esforço de curadoria e restauro do material gráfico. Dá uma nova vida a histórias que, apesar de pensadas para consumo de entretenimento, merecem pela sua qualidade visual um segundo olhar.
Artur Coelho
Corro o risco de estar a traçar paralelos onde eles podem não existir, e as notas biográficas e bibliográficas de Fabio Moraes que contextualizam o livro não tocam nisso. Mas, para o meu olhar treinado nos clássicos comics de terror da EC, o traço de Cortez não fica nada atrás do de ilustradores como John Severin ou Esteban Maroto, e, embora com temáticas diferentes, Sergio Toppi. As estéticas são similares, de barroco visual assente numa elegância gótica.
Claro, o meu lado amargo recorda-me que se recordamos estes autores, foi por terem criado dentro dos mercados europeus e americanos. Cortez pertence a um mundo marginal, trabalhando sempre no Brasil e não tendo dado o salto para as editoras americanas. É talvez essa a diferença que o distingue de outros criadores, porque ao nível estético e estilístico, merece bem ser incluído na galeria dos grandes desenhadores clássicos de banda desenhada.
Nesta edição da Polvo podemos descobrir a obra de terror de Cortez. O destaque vai para a a história O Retrato do Mal!, que foi criteriosamente publicada nas suas duas versões, o que permite perceber o crescimento estético do autor. As restantes são mais estereotipadas, criadas para choque fácil de um público considerado menos sofisticado, mas mesmo assim visualmente muito interessantes. As assombrações e coisas do demo, os cemitérios soturnos e os crimes hediondos que são o pão nosso de cada dia do terror clássico ganham contornos surreais sob o traço de Cortez.
A edição é cuidada, com um notável esforço de curadoria e restauro do material gráfico. Dá uma nova vida a histórias que, apesar de pensadas para consumo de entretenimento, merecem pela sua qualidade visual um segundo olhar.
Artur Coelho
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O Terror Negto
Autor: Jayme Cortez, Fábio Moraes (curadoria)
Editora: Polvo
Ano de edição: 2022
Páginas: 72 páginas, capa dura
O Terror Negto
Autor: Jayme Cortez, Fábio Moraes (curadoria)
Editora: Polvo
Ano de edição: 2022
Páginas: 72 páginas, capa dura