RESENHA BD
O infeliz pacto de George Walden, André Morgado e Rodolfo Oliveira
01-12-2022
Este livro foi outra das boas surpresas da Amadora BD deste ano. As pranchas do ilustrador em exposição cativaram pelo seu traço, e não resisti a ler a obra. Foi uma excelente surpresa, que confirmou a impressão inicial. Um livro tranquilo, de fino bom humor, e doces amarguras.
André Morgado já tinha dado aos leitores portugueses esse corpo estranho que é A Vida Oculta de Fernando Pessoa, onde se atreveu a pegar num dos sacrossantos ícones da literatura séria, com L maiúsculo, portuguesa, e a reinventá-lo como um caçador de assombrações. Deste heterónimo não nos falam os compêndios e cátedras.
O Infeliz Pacto de George Walden confirma o talento do argumentista. A história é aparentemente simples, mas sentimos um contínuo adensar à medida que vamos virando as páginas. É um revisitar do clássico mito faustiano, é certo, mas longe das conotações de grande tragédia a que o associamos. Aqui, o Diabo está mais interessado em divertir-se dando largas às pulsões humanas das pessoas. Já os personagens, apesar de atormentados pelos pactos que fizeram, são na verdade mais atormentados pelos seus erros do passado, não há inocentes, mas uma busca pela redenção, e os pactos diabólicos fazem parte dessa demanda.
Este livro foi outra das boas surpresas da Amadora BD deste ano. As pranchas do ilustrador em exposição cativaram pelo seu traço, e não resisti a ler a obra. Foi uma excelente surpresa, que confirmou a impressão inicial. Um livro tranquilo, de fino bom humor, e doces amarguras.
André Morgado já tinha dado aos leitores portugueses esse corpo estranho que é A Vida Oculta de Fernando Pessoa, onde se atreveu a pegar num dos sacrossantos ícones da literatura séria, com L maiúsculo, portuguesa, e a reinventá-lo como um caçador de assombrações. Deste heterónimo não nos falam os compêndios e cátedras.
O Infeliz Pacto de George Walden confirma o talento do argumentista. A história é aparentemente simples, mas sentimos um contínuo adensar à medida que vamos virando as páginas. É um revisitar do clássico mito faustiano, é certo, mas longe das conotações de grande tragédia a que o associamos. Aqui, o Diabo está mais interessado em divertir-se dando largas às pulsões humanas das pessoas. Já os personagens, apesar de atormentados pelos pactos que fizeram, são na verdade mais atormentados pelos seus erros do passado, não há inocentes, mas uma busca pela redenção, e os pactos diabólicos fazem parte dessa demanda.
A história é de tranquila fantasia, sobre um vendedor de sonhos que é incapaz de sonhar. Captura os sonhos dos outros, e revende-os em troca de tempo de vida a quem precisar de novas ideias, cumprindo os termos do seu contrato com o diabo. O cruzamento, aparentemente fortuito, com uma jovem música decidida vai abalar a vida pacata de Walden. E, em pano de fundo, um Satanás impiedoso, que se delicia em brincar com as aspirações humanas.
O tom é bucólico e de uma certa melancolia. É um livro de pura fantasia urbana, que se socorre do fantástico para efabular sobre a solidão. A ilustração, a cargo do brasileito Rodolfo Oliveira, acompanha bem e sublinha a melancolia e aparente simplicidade da obra. Walden é cativante a todos os níveis, quer estético quer literário.
Há leituras que terminamos com um sorriso nos lábios, mesmo que tenham um final amargo. Pela sua inocência, bucolismo, recordando que na simplicidade das pequenas coisas se escondem grandes sonhos. Mesmo que sejam necessários pactos com o demo para os fazer desabrochar.
Artur Coelho
O tom é bucólico e de uma certa melancolia. É um livro de pura fantasia urbana, que se socorre do fantástico para efabular sobre a solidão. A ilustração, a cargo do brasileito Rodolfo Oliveira, acompanha bem e sublinha a melancolia e aparente simplicidade da obra. Walden é cativante a todos os níveis, quer estético quer literário.
Há leituras que terminamos com um sorriso nos lábios, mesmo que tenham um final amargo. Pela sua inocência, bucolismo, recordando que na simplicidade das pequenas coisas se escondem grandes sonhos. Mesmo que sejam necessários pactos com o demo para os fazer desabrochar.
Artur Coelho
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O Infeliz Pacto de George Walden
Autor: André Morgado, Rodolfo Oliveira
Editora: A Seita
Ano de edição: 2022
Páginas: 116 páginas, capa dura
O Infeliz Pacto de George Walden
Autor: André Morgado, Rodolfo Oliveira
Editora: A Seita
Ano de edição: 2022
Páginas: 116 páginas, capa dura