RESENHA BD
O Infante, de Daniela Viçoso
14-09-2020
Este é um daqueles livros que me fascinou o olhar aquando da primeira vez que o vi, nos saudosos espaços do Imaviz Underground. E, no entanto, demorei a apanhar um exemplar para a biblioteca. São daqueles acasos estranhos que acometem os bibliófagos. Mas com o passar do tempo, a curiosidade sobre o livro não diminui- Agora que, finalmente, terminei a leitura, posso observar que a primeira impressão do livro saiu reforçada. É uma pequena obra apaixonante.
O Infante é uma criatura curiosa: um entrançar de yaoi com história. O cenário é Portugal no final da monarquia, o palco os paços reais e palácios neo-manuelinos de Sintra, e as personagens o jovem infante do Reino, quarto filho de um rei que irá ser deposto, e o seu fiel pagem, um jovem um pouco mais velho. Duas crianças que crescem juntas, construindo uma amizade e cumplicidade apesar do fosso nobiliárquico. Uma amizade que irá desabrochar em sentimentos mais profundos.
Este é um daqueles livros que me fascinou o olhar aquando da primeira vez que o vi, nos saudosos espaços do Imaviz Underground. E, no entanto, demorei a apanhar um exemplar para a biblioteca. São daqueles acasos estranhos que acometem os bibliófagos. Mas com o passar do tempo, a curiosidade sobre o livro não diminui- Agora que, finalmente, terminei a leitura, posso observar que a primeira impressão do livro saiu reforçada. É uma pequena obra apaixonante.
O Infante é uma criatura curiosa: um entrançar de yaoi com história. O cenário é Portugal no final da monarquia, o palco os paços reais e palácios neo-manuelinos de Sintra, e as personagens o jovem infante do Reino, quarto filho de um rei que irá ser deposto, e o seu fiel pagem, um jovem um pouco mais velho. Duas crianças que crescem juntas, construindo uma amizade e cumplicidade apesar do fosso nobiliárquico. Uma amizade que irá desabrochar em sentimentos mais profundos.
Seguimos o inocente infante, que vive protegido do mundo, entre as lendas do passado e as arquitecturas feéricas. Um infante que vai descobrindo os seus reais sentimentos à medida que se vai apercebendo de como realmente é o mundo. Entretanto, as impiedosas engrenagens da história vão-se movimentando, e todo o pequeno mundo de porcelana do Infante irá desabar. Mas nos momentos em que as trevas se aproximam, a força do amor vai manifestar-se.
No argumento, Daniela Viçoso segue um tom bucólico, propositadamente inocente. Não entra em campos como os dos amores impossíveis, ou os escândalos de época se se descobrisse o amor entre rapazes que imagina. Sublinhando a inocência, e o caráter mundo de porcelana do livro, aborda a história de Portugal de forma algo difusa e distante. Preocupação com o realismo histórico não é um dos objetivos deste livro, e seguir esse caminho até seria pernicioso. O ser difuso contribui para o seu caráter inocente, focado nos sentimentos e não nos movimentos históricos.
Mas o que deslumbra neste livro é o seu grafismo. Daniela Viçoso faz algo que me parece incrível, e fascina o olhar. O livro em si tem uma estética barroca, cheia de pranchas que enchem o olhar. Esta é conseguida cruzando, com mestria e sintetismo, os estilismos do mangá e do neo-manuelino. Como descrever, caso não venham a ter o livro à mão para o descobrir com o vosso olhar? Imaginem os palácios sintrenses, com a sua arquitetura que revive o gótico, o manuelino e o arabesco, com as suas colunas entrançadas e painéis de azulejo, desenhadas num estilo mangá. É uma mistura curiosa de dois formalismos que a autora consegue fazer com um traço muito expressivo.
É este o ponto de fascínio do livro, aquilo que capta o olhar. Abri-lo é mergulhar numa história inocente e simples, de ternura e alheamento das agruras do mundo exterior. Uma belíssima leitura, visualmente deslumbrante.
Artur Coelho
No argumento, Daniela Viçoso segue um tom bucólico, propositadamente inocente. Não entra em campos como os dos amores impossíveis, ou os escândalos de época se se descobrisse o amor entre rapazes que imagina. Sublinhando a inocência, e o caráter mundo de porcelana do livro, aborda a história de Portugal de forma algo difusa e distante. Preocupação com o realismo histórico não é um dos objetivos deste livro, e seguir esse caminho até seria pernicioso. O ser difuso contribui para o seu caráter inocente, focado nos sentimentos e não nos movimentos históricos.
Mas o que deslumbra neste livro é o seu grafismo. Daniela Viçoso faz algo que me parece incrível, e fascina o olhar. O livro em si tem uma estética barroca, cheia de pranchas que enchem o olhar. Esta é conseguida cruzando, com mestria e sintetismo, os estilismos do mangá e do neo-manuelino. Como descrever, caso não venham a ter o livro à mão para o descobrir com o vosso olhar? Imaginem os palácios sintrenses, com a sua arquitetura que revive o gótico, o manuelino e o arabesco, com as suas colunas entrançadas e painéis de azulejo, desenhadas num estilo mangá. É uma mistura curiosa de dois formalismos que a autora consegue fazer com um traço muito expressivo.
É este o ponto de fascínio do livro, aquilo que capta o olhar. Abri-lo é mergulhar numa história inocente e simples, de ternura e alheamento das agruras do mundo exterior. Uma belíssima leitura, visualmente deslumbrante.
Artur Coelho
O Infante
Autores: Daniela Viçoso
Editora: El Pep
Ano de edição: 2015
Páginas: 80 páginas, capa mole
Preço: 12€