ENTREVISTA EXCLUSIVA COM MATEUS BOGA
2021-03-23
Para o meu projeto de doutoramento estou também a entrevistar autores de BD nacionais e internacionais para perceber como estes desenvolvem os seus projetos.
O banda desenhista e ilustrador português Mateus Boga, nasceu em Setúbal. Tem vindo a desenvolver o seu estilo através da produção de ilustrações e curtas de banda desenhada digital. Neste momento, está a iniciar o seu webcomic longo sob o título
“The Dark Peak Incident”, que pode ser lido, em inglês, no website oficial .
+info:
https://mateusboga.wixsite.com/darkpeakcomic
Para o meu projeto de doutoramento estou também a entrevistar autores de BD nacionais e internacionais para perceber como estes desenvolvem os seus projetos.
O banda desenhista e ilustrador português Mateus Boga, nasceu em Setúbal. Tem vindo a desenvolver o seu estilo através da produção de ilustrações e curtas de banda desenhada digital. Neste momento, está a iniciar o seu webcomic longo sob o título
“The Dark Peak Incident”, que pode ser lido, em inglês, no website oficial .
+info:
https://mateusboga.wixsite.com/darkpeakcomic
Entrevista
Nasceste no seio de uma família de artistas em Setúbal. Para além da pintura e da literatura, recordo-me dos teus pais publicarem livros ilustrados e banda desenhada. Quais são as tuas primeiras memórias de ler banda desenhada?
A primeira banda desenhada que me marcou mesmo foram as do Asterix e Obelix, sem dúvida. O estilo do Uderzo marcou-me até aos dias de hoje e consegue-se ver ainda as influências franco-belgas no meu estilo de desenho. Adorei, e sempre vou adorar, a expressividade que ele punha nas suas personagens.
Como e quando é que descobres que a BD é um bom meio para contar o tipo de estórias que desejas partilhar? Porquê a banda desenhada e não outro meio artístico para te expressares?
Várias razões. A mais básica é que é o meio que mais facilmente consigo usar para sozinho me exprimir. Texto apenas para mim não é suficiente, preciso da imagem também. O formato da banda desenhada tem umas vantagens sobre outros media que eu sou fã, como por exemplo o facto de poder condensar muita informação em apenas uma imagem, e poder partilhar facilmente também numa era em que as imagens são o principal meio de comunicação na maioria das redes sociais. De qualquer forma, é também o meio que mais gosto de consumir.
A primeira banda desenhada que me marcou mesmo foram as do Asterix e Obelix, sem dúvida. O estilo do Uderzo marcou-me até aos dias de hoje e consegue-se ver ainda as influências franco-belgas no meu estilo de desenho. Adorei, e sempre vou adorar, a expressividade que ele punha nas suas personagens.
Como e quando é que descobres que a BD é um bom meio para contar o tipo de estórias que desejas partilhar? Porquê a banda desenhada e não outro meio artístico para te expressares?
Várias razões. A mais básica é que é o meio que mais facilmente consigo usar para sozinho me exprimir. Texto apenas para mim não é suficiente, preciso da imagem também. O formato da banda desenhada tem umas vantagens sobre outros media que eu sou fã, como por exemplo o facto de poder condensar muita informação em apenas uma imagem, e poder partilhar facilmente também numa era em que as imagens são o principal meio de comunicação na maioria das redes sociais. De qualquer forma, é também o meio que mais gosto de consumir.
Tens escolhido a Internet para partilhar as tuas ilustrações e as tuas narrativas gráficas. Na plataforma Tapas tens publicadas as estórias “L.I.S.A.”, “Soul Swapper”, “The Rest” e “Avant-Garden”. Num website da Wix começaste recentemente a tua bedê “The Dark Peak Incident”. Que vantagens vês em autopublicares-te online? Como tem sido a experiência de publicar na Internet?
Webcomics é para mim a forma mais fácil de chegar ao publico que eu quero. Corto nos custos de publicação e impressão e apenas preciso de um espaço na internet para onde posso enviar qualquer pessoa que, talvez de outra forma, nunca iria comprar ou ler o livro em formato físico. Não estou a dizer que não quero ter trabalhos impressos no futuro, claro, simplesmente que para mim neste momento é a única forma que vejo a resultar. Até agora não tenho chegado a muito lugar com as minhas histórias, mas as coisas vão devagar, e tenho esperança que consiga chegar mais longe desta forma se insistir o suficiente.
Como nasce a ideia para criares o mundo da narrativa de “The Dark Peak Incident”? Alguma relação (direta ou indireta) com a montanha do Pico?
Hahahaha bem observado! A ideia surgiu-me um pouco ao acaso, foi uma mistura de coisas que fizeram *snap* ao mesmo tempo. Tinha estado a ler sobre o livro da Agatha Christie "And Then There Were None", e histórias de terror, e queria muito fazer um webcomic que não fosse demasiado grande nem demasiado curto. Tinha estado também fascinado pela história verídica do incidente de Dyatlov Pass nessa altura, que é uma das inspirações mais óbvias. Pouco tem a ver com a montanha do Pico, apenas talvez o design da montanha em si, mas claro que uso a minha experiência de a subir como referência pessoal.
O prólogo antecipa um lado mitológico para este webcomic no género do horror. Dá-te mais gozo construíres o mundo da narrativa (worldbuilding) ou contares a estória (storytelling)? Porquê o género especulativo do horror?
Gosto imenso do processo de contar a história sem duvida. Eu tenho um processo pouco usual de worldbuilding para ser sincero. Eu pego em coisas que gosto e tento encaixá-las de forma a fazer sentido. Precisava de um local para a história se desenrolar, e de um "perigo" iminente e decidi ir buscar coisas às lendas nativas do Alaska, mais especificamente das tribos Atapascas. A parte que mais gostei foi arranjar forma de encaixar as lendas na narrativa que queria contar e descobri todo um mundo que quero imenso explorar. O mais engraçado foi que praticamente não tive de inventar nada, pois estava tudo lá à espera de ser usado. Até que ponto as lendas dentro da história são mais que isso, ou não, vou deixar em aberto, por agora.
Como foi o teu processo criativo e de investigação para a construção do universo de “The Dark Peak Incident”? Quais foram as principais referências (em qualquer media) para este webcomic?
Acho que já dei algumas pistas nas respostas anteriores. Tive de pesquisar imenso sobre o Dyatlov Pass, e sobre escalada e montanhismo em geral. Tive de me embrenhar nas lendas do Alaska, tentando encontrar coisas interessantes, e fiz imensa pesquisa sobre o clima, história e geografia do estado em si também. Gosto de ser detalhado e o mais realista possível quando descrevo coisas reais ou semi-reais. Principais referências foram o “The Revenant”, “And Then There Were None” da Agatha Christie, “IT” do Stephen King, algumas inspirações no “The Blair Witch Project” também e, claro, a mitologia do Alaska.
Webcomics é para mim a forma mais fácil de chegar ao publico que eu quero. Corto nos custos de publicação e impressão e apenas preciso de um espaço na internet para onde posso enviar qualquer pessoa que, talvez de outra forma, nunca iria comprar ou ler o livro em formato físico. Não estou a dizer que não quero ter trabalhos impressos no futuro, claro, simplesmente que para mim neste momento é a única forma que vejo a resultar. Até agora não tenho chegado a muito lugar com as minhas histórias, mas as coisas vão devagar, e tenho esperança que consiga chegar mais longe desta forma se insistir o suficiente.
Como nasce a ideia para criares o mundo da narrativa de “The Dark Peak Incident”? Alguma relação (direta ou indireta) com a montanha do Pico?
Hahahaha bem observado! A ideia surgiu-me um pouco ao acaso, foi uma mistura de coisas que fizeram *snap* ao mesmo tempo. Tinha estado a ler sobre o livro da Agatha Christie "And Then There Were None", e histórias de terror, e queria muito fazer um webcomic que não fosse demasiado grande nem demasiado curto. Tinha estado também fascinado pela história verídica do incidente de Dyatlov Pass nessa altura, que é uma das inspirações mais óbvias. Pouco tem a ver com a montanha do Pico, apenas talvez o design da montanha em si, mas claro que uso a minha experiência de a subir como referência pessoal.
O prólogo antecipa um lado mitológico para este webcomic no género do horror. Dá-te mais gozo construíres o mundo da narrativa (worldbuilding) ou contares a estória (storytelling)? Porquê o género especulativo do horror?
Gosto imenso do processo de contar a história sem duvida. Eu tenho um processo pouco usual de worldbuilding para ser sincero. Eu pego em coisas que gosto e tento encaixá-las de forma a fazer sentido. Precisava de um local para a história se desenrolar, e de um "perigo" iminente e decidi ir buscar coisas às lendas nativas do Alaska, mais especificamente das tribos Atapascas. A parte que mais gostei foi arranjar forma de encaixar as lendas na narrativa que queria contar e descobri todo um mundo que quero imenso explorar. O mais engraçado foi que praticamente não tive de inventar nada, pois estava tudo lá à espera de ser usado. Até que ponto as lendas dentro da história são mais que isso, ou não, vou deixar em aberto, por agora.
Como foi o teu processo criativo e de investigação para a construção do universo de “The Dark Peak Incident”? Quais foram as principais referências (em qualquer media) para este webcomic?
Acho que já dei algumas pistas nas respostas anteriores. Tive de pesquisar imenso sobre o Dyatlov Pass, e sobre escalada e montanhismo em geral. Tive de me embrenhar nas lendas do Alaska, tentando encontrar coisas interessantes, e fiz imensa pesquisa sobre o clima, história e geografia do estado em si também. Gosto de ser detalhado e o mais realista possível quando descrevo coisas reais ou semi-reais. Principais referências foram o “The Revenant”, “And Then There Were None” da Agatha Christie, “IT” do Stephen King, algumas inspirações no “The Blair Witch Project” também e, claro, a mitologia do Alaska.
Que webcomics andas a ler? E que BD impressa andas a consumir? Partilha alguns dos títulos que mais te influenciaram e que tens nas tuas prateleiras de BD? Que autores segues com mais atenção?
Para ser sincero, pouca coisa ultimamente. Estou a seguir alguns webcomics, mas têm andado parados. Assim de cabeça posso dizer o “LeveL” do Nate Swineheart, e o “Rising Sand” de Dunitz e Lee. Gosto muito do trabalho do Junji Ito no género de terror, mas não li muita coisa dele, ainda. Não tenho tido dinheiro para comprar BD impressa, infelizmente...
Em termos técnicos, como escreves, desenhas e publicas as páginas da tua BD digital? Tudo processos digitais ou alguma fase analógica?
Em primeiro lugar, tive de escrever o guião, que demorou praticamente um ano a completar. Reescrevi-o várias vezes, mas estou satisfeito com o resultado. No entanto, quando há alguma coisa que não gosto, não hesito em alterar quando vou fazer a página em si. Tenho de organizar as páginas por cada capítulo, e nunca sei o que cabe em cada uma até fazer o esboço, por isso faço isso em primeiro lugar e depois organizo o texto dentro da página (algo que não existe noutros media). Tenho de ter em atenção as páginas pares, pois se for imprimir isto, tenho de disfrutar ao máximo da antecipação do virar a página. Após estar contente com o design de todos os elementos, começo a finalizar as páginas uma por uma, tudo digital.
Para ser sincero, pouca coisa ultimamente. Estou a seguir alguns webcomics, mas têm andado parados. Assim de cabeça posso dizer o “LeveL” do Nate Swineheart, e o “Rising Sand” de Dunitz e Lee. Gosto muito do trabalho do Junji Ito no género de terror, mas não li muita coisa dele, ainda. Não tenho tido dinheiro para comprar BD impressa, infelizmente...
Em termos técnicos, como escreves, desenhas e publicas as páginas da tua BD digital? Tudo processos digitais ou alguma fase analógica?
Em primeiro lugar, tive de escrever o guião, que demorou praticamente um ano a completar. Reescrevi-o várias vezes, mas estou satisfeito com o resultado. No entanto, quando há alguma coisa que não gosto, não hesito em alterar quando vou fazer a página em si. Tenho de organizar as páginas por cada capítulo, e nunca sei o que cabe em cada uma até fazer o esboço, por isso faço isso em primeiro lugar e depois organizo o texto dentro da página (algo que não existe noutros media). Tenho de ter em atenção as páginas pares, pois se for imprimir isto, tenho de disfrutar ao máximo da antecipação do virar a página. Após estar contente com o design de todos os elementos, começo a finalizar as páginas uma por uma, tudo digital.
A publicação da estória em inglês permite-te chegar a um publico maior. Imaginas o “The Dark Peak Incident” a ser adaptado para outro meio como o da animação, cinema, videojogos, ou outro? Se a Netflix te comprasse os direitos para a adaptação deste webcomic para uma série, quem escolherias para realizar o episódio piloto?
Não gosto de sonhar muito alto. Ficaria satisfeito se o comic ficasse famoso dentro do nicho dos webcomics de terror. Mas se formos por aí, conseguia ver o comic a ter uma adaptação para filme ou animação, até não necessitaria de um budget muito grande, provavelmente. Não conheço muitos realizadores para ser honesto, mas se tivesse de escolher gostava de ver o que o Emmanuel Lubezki ou o Jordan Peele faziam.
Quantas páginas estás a programar para este webcomic? Podemos contar com um spin-off ou uma sequela/ prequela depois de finalizares este arco narrativo?
Pelos meus cálculos, o comic vai ter pouco mais de 200 páginas. Não planeio fazer mais nada com a série, depois de acabar todos os capítulos. Quero seguir para algo diferente, tenho demasiados projetos à minha espera. Considero isto mais como experiência, do que algo para dar frutos.
Entrevistador: Marco Fraga Silva
Artigo web: Sérgio Santos
Futuramente continuarão a ser publicadas entrevistas referentes a várias personalidades de destaque ligadas ao universo da BD.