O SUICÍDIO NO QUOTIDIANO E IMAGINÁRIO DO JUSTICEIRO
2017-09-19
Nova York, mais uma noite na vida de Frank Castle, conhecido como o anti-herói Justiceiro. Num prédio abandonado Frank vive num bunker que o protegeria de uma guerra nuclear. Sentado numa cadeira ele observa uma fotografia da sua esposa e filhos, relembra do assassinato da sua família e fica depressivo. Neste momento ele saca a sua arma, coloca-a na boca e destrava-a. Ele cogita matar-se. O silêncio invade a sala e Frank hesita. Ele trava a arma, veste a sua roupa que tem um símbolo de caveira no peito e parte rumo a uma guerra sem fim.
A descrição acima é baseada na adaptação do filme Punisher: War Zone, de 2008, dirigido por Lexi Alexander e com interpretação de Ray Stevenson como Justiceiro. A cena retrata um elemento comum na rotina de Justiceiro, que é a ideia constante do suicídio, um tema que carece de estudos nas áreas de humanidades.
O suicídio é, segundo Durkheim, “todo o caso de morte que resulta, directa ou indiretamente, de um acto, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”.
Cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias, e o que interessa à sociologia sobre o suicídio é a análise de todo o processo social, dos factores sociais que agem não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo, sobre o conjunto da sociedade. Cada sociedade possui, a cada momento da sua história, uma atitude definida em relação ao suicídio. (COSTA, 2014,p. 04)
Por se tratar de um personagem trabalhado num sistema comercial de produção, Justiceiro foi escrito e desenhado por diversos autores ao longo de sua existência, e sua essência foi mantida ao longo desse período, diferentemente de outros personagens que morreram, ressuscitaram, ficaram mais jovens, mudaram a etnia entre outras alterações. É importante destacar, no entanto, que cada personagem de séries como o Justiceiro possui determinados elementos de construção de arquétipo que não são negociáveis, no intuito da personagem ser identificável com o público-alvo.
Para Adilson Xavier, histórias dão sentido à vida. Sustentam nossos valores básicos, as religiões, a ética, os costumes, as leis, os múltiplos aspectos culturais que nos cercam. Histórias nos dão segurança, estabilidade grupal, erguem celebridades, empresas e nações. Soa exagerado, mas até isso faz parte das histórias: acentuar os traços para impressionar o público e reforçar pontos de vista. (XAVIER, 2015, p.321)
Nova York, mais uma noite na vida de Frank Castle, conhecido como o anti-herói Justiceiro. Num prédio abandonado Frank vive num bunker que o protegeria de uma guerra nuclear. Sentado numa cadeira ele observa uma fotografia da sua esposa e filhos, relembra do assassinato da sua família e fica depressivo. Neste momento ele saca a sua arma, coloca-a na boca e destrava-a. Ele cogita matar-se. O silêncio invade a sala e Frank hesita. Ele trava a arma, veste a sua roupa que tem um símbolo de caveira no peito e parte rumo a uma guerra sem fim.
A descrição acima é baseada na adaptação do filme Punisher: War Zone, de 2008, dirigido por Lexi Alexander e com interpretação de Ray Stevenson como Justiceiro. A cena retrata um elemento comum na rotina de Justiceiro, que é a ideia constante do suicídio, um tema que carece de estudos nas áreas de humanidades.
O suicídio é, segundo Durkheim, “todo o caso de morte que resulta, directa ou indiretamente, de um acto, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”.
Cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias, e o que interessa à sociologia sobre o suicídio é a análise de todo o processo social, dos factores sociais que agem não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo, sobre o conjunto da sociedade. Cada sociedade possui, a cada momento da sua história, uma atitude definida em relação ao suicídio. (COSTA, 2014,p. 04)
Por se tratar de um personagem trabalhado num sistema comercial de produção, Justiceiro foi escrito e desenhado por diversos autores ao longo de sua existência, e sua essência foi mantida ao longo desse período, diferentemente de outros personagens que morreram, ressuscitaram, ficaram mais jovens, mudaram a etnia entre outras alterações. É importante destacar, no entanto, que cada personagem de séries como o Justiceiro possui determinados elementos de construção de arquétipo que não são negociáveis, no intuito da personagem ser identificável com o público-alvo.
Para Adilson Xavier, histórias dão sentido à vida. Sustentam nossos valores básicos, as religiões, a ética, os costumes, as leis, os múltiplos aspectos culturais que nos cercam. Histórias nos dão segurança, estabilidade grupal, erguem celebridades, empresas e nações. Soa exagerado, mas até isso faz parte das histórias: acentuar os traços para impressionar o público e reforçar pontos de vista. (XAVIER, 2015, p.321)
O Justiceiro é mais conservador nas suas alterações e, diferentemente de outros personagens ele mantém um distanciamento em relação ao público jovem. Um exemplo disso é a sua representação gráfica, um homem que vai envelhecendo e mantendo a coerência do facto de ser um veterano da Guerra do Vietnam, conflito que a cada dia se torna mais distante do imaginário e quotidiano do jovem leitor de BD.
A personagem não glorifica o suicídio e não apresenta uma identificação com o mesmo. Há um distanciamento, tanto na representação gráfica quanto à construção de personalidade e portanto de motivos que o Justiceiro suscita o suicídio.
O suicídio no universo de heróis, dos quais Castle foi concebido por Gerry Conway na década de 70 é um assunto a ser evitado pela preocupação de não provocar uma apologia à prática, principalmente se levarmos em consideração o público leitor de comics, são autores pontuais que falam acerca do tema e na maior parte das vezes como um acto de heroísmo. Segundo Anatol Rosenfeld:
A ficção é um lugar ontológico privilegiado: lugar em que o homem pode viver e contemplar, através de personagens variadas, a plenitude da sua condição, e em que se torna transparente a si mesmo; lugar em que, transformando-se imaginariamente no outro, vivendo outros papéis e destacando-se de si mesmo, verifica, realiza e vive a sua condição fundamental de ser autoconsciente e livre, capaz de desdobrar-se de si mesmo e de objetivar a sua própria situação. (ROSENFELD, 2014, p.48)
(...) as personagens atingem a uma validade universal que em nada diminui a sua concreção individual; e mercê desse fato liga-se na experiência estética, à contemplação, a intensa participação emocional. Assim, o leitor contempla e ao mesmo tempo vive as possibilidades humanas que a sua vida pessoal dificilmente lhe permite viver e contemplar, visto o desenvolvimento individual se caracterizar pela crescente redução de possibilidades.. (ROSENFELD, 2014, p.46)
Apesar de ter sido criado na década de 1970, Justiceiro vai ter a sua origem contada de forma completa na década de 1990, com a história Justiceiro ano Zero (1994), escrita por e ilustrada por Dan Abnett , Andy Lanning, Dale Eaglesham. Na trama, Frank Castle cogita o suicídio após perceber que a polícia arquivou o caso do massacre de sua família devido a corrupção entremeada com policias e mafiosos. Castle mira uma arma para a própria cabeça, mas atira na contra a parede no momento derradeiro.
Em Corporação de Assassinos (1988), escrita por Jo Duffy e ilustrada por Jorge Zaffino, temos o Justiceiro como coadjuvante de um acto de suicídio. Na trama Justiceiro desbaratina uma quadrilha que usa menores para cometerem crimes e ao mesmo tempo investiga uma família japonesa de assassinos de aluguel. Unidos no intuito de acabar com a quadrilha, o Justiceiro junta forças com Reiko e o seu discípulo, Masumi.
Após invadirem o prédio do líder da quadrilha, eles conseguem chegar ao líder, mas sofrem uma baixa de guerra. Masumi é ferido e feito prisioneiro. O mesmo consegue escapar e mortalmente ferido. Justiceiro e Reiko não conseguem chegar perto do líder, Sr. Fletcher, que está prestes a fugir e se proteger com um vidro blindado. Eis que o discípulo agarra o líder e exige que o Justiceiro atire no líder, mesmo que isso resulte na sua morte.
O Justiceiro hesita, mas entende que o sacrifício do discípulo é por um bem maior e executa ambos. A autora Jo Duffy remete ao personagem de origem oriental um código de honra conhecido como meifumadou ou “caminho errante do mundo dos mortos”, do qual o guerreiro é capaz de dar sua vida em nome de cumprir uma determinada missão, o que preservaria a sua própria honra.
Ao analisarmos o Justiceiro escrito por Garth Ennis o debate ganha novas relações de sentido, uma vez que o autor escreve histórias sobre Castle antes de se tornar Justiceiro, com desfechos possíveis para o anti herói e a marca da enunciação do suicídio está presente na vida Castle, seja como testemunha ou como protagonista da ação. Segundo Xavier (2015), “verdade. Este é o grande tesouro a ser extraído de toda a história, especialmente as ficcionais. Uma boa história tem que ser verdadeira, mesmo quando totalmente inventada.”
As histórias de BD do Justiceiro, principalmente as escritas por Garth Ennis, desafiam as recomendações de especialistas sobre as formas de apresentar o suicídio, ainda mais quando o assunto é o público infanto-juvenil, apesar da publicação do Justiceiro ter uma advertência estampada na capa, que é voltado para o público adulto. Este aviso pode ser respeitado nos Estados Unidos, país de origem da publicação, mas no Brasil nem por isso, uma vez que o foco de venda desse tipo de BD são as bancas de jornal, que colocam as revistas de BD, infantis, juvenis ou adultos, no mesmo local. Este artigo visa analisar esse tema distante na vida de outros heróis, mas impregnado na jornada do anti-herói de Justiceiro.
Comics e suicídio
Apesar de Comics ser a denominação para qualquer tipo de história de BD produzidas no mercado americano, ela também é sinónimo de BD de Super-heróis.
É uma das primeiras fontes de leitura do público infanto-juvenil e o tema do suicídio foi abordado de maneira superficial pelos autores na maior parte da história dos comics com ênfase em Super heróis.
Isso se deve a própria concepção da criação e popularização dos comics americanos, que tem como premissa uma leitura superficial e popular, com objetivo de venda massificada de BD, franquias de marcas e personagens e adaptação das histórias de BD para outros meios de comunicação.
É uma peça de ficção, ainda que evidentemente calcada em nós do quotidiano, e não há terreno mais adequado para discutir questões delicadas, não importa quais sejam, do que obras de arte ou peças da cultura popular.
(...) a grande obra de arte literária (ficcional) é o lugar em que nos defrontamos com seres humanos de contornos definidos e definitivos, em ampla medida transparentes, vivendo situações exemplares de um modo exemplar (exemplar também no sentido negativo). (ROSENFELD, 2014, p.45)
Dito isso é compreensível que temas como o suicídio seja pouco explorado nos comics. Ao mesmo tempo ressalta a relevância do Justiceiro como fenómeno comunicacional, uma vez que o mesmo é uma personagem que está entre as mais populares e vendáveis, desde bandas desenhadas até t-shirts com o logotipo da caveira estampado no peito.
Após invadirem o prédio do líder da quadrilha, eles conseguem chegar ao líder, mas sofrem uma baixa de guerra. Masumi é ferido e feito prisioneiro. O mesmo consegue escapar e mortalmente ferido. Justiceiro e Reiko não conseguem chegar perto do líder, Sr. Fletcher, que está prestes a fugir e se proteger com um vidro blindado. Eis que o discípulo agarra o líder e exige que o Justiceiro atire no líder, mesmo que isso resulte na sua morte.
O Justiceiro hesita, mas entende que o sacrifício do discípulo é por um bem maior e executa ambos. A autora Jo Duffy remete ao personagem de origem oriental um código de honra conhecido como meifumadou ou “caminho errante do mundo dos mortos”, do qual o guerreiro é capaz de dar sua vida em nome de cumprir uma determinada missão, o que preservaria a sua própria honra.
Ao analisarmos o Justiceiro escrito por Garth Ennis o debate ganha novas relações de sentido, uma vez que o autor escreve histórias sobre Castle antes de se tornar Justiceiro, com desfechos possíveis para o anti herói e a marca da enunciação do suicídio está presente na vida Castle, seja como testemunha ou como protagonista da ação. Segundo Xavier (2015), “verdade. Este é o grande tesouro a ser extraído de toda a história, especialmente as ficcionais. Uma boa história tem que ser verdadeira, mesmo quando totalmente inventada.”
As histórias de BD do Justiceiro, principalmente as escritas por Garth Ennis, desafiam as recomendações de especialistas sobre as formas de apresentar o suicídio, ainda mais quando o assunto é o público infanto-juvenil, apesar da publicação do Justiceiro ter uma advertência estampada na capa, que é voltado para o público adulto. Este aviso pode ser respeitado nos Estados Unidos, país de origem da publicação, mas no Brasil nem por isso, uma vez que o foco de venda desse tipo de BD são as bancas de jornal, que colocam as revistas de BD, infantis, juvenis ou adultos, no mesmo local. Este artigo visa analisar esse tema distante na vida de outros heróis, mas impregnado na jornada do anti-herói de Justiceiro.
Comics e suicídio
Apesar de Comics ser a denominação para qualquer tipo de história de BD produzidas no mercado americano, ela também é sinónimo de BD de Super-heróis.
É uma das primeiras fontes de leitura do público infanto-juvenil e o tema do suicídio foi abordado de maneira superficial pelos autores na maior parte da história dos comics com ênfase em Super heróis.
Isso se deve a própria concepção da criação e popularização dos comics americanos, que tem como premissa uma leitura superficial e popular, com objetivo de venda massificada de BD, franquias de marcas e personagens e adaptação das histórias de BD para outros meios de comunicação.
É uma peça de ficção, ainda que evidentemente calcada em nós do quotidiano, e não há terreno mais adequado para discutir questões delicadas, não importa quais sejam, do que obras de arte ou peças da cultura popular.
(...) a grande obra de arte literária (ficcional) é o lugar em que nos defrontamos com seres humanos de contornos definidos e definitivos, em ampla medida transparentes, vivendo situações exemplares de um modo exemplar (exemplar também no sentido negativo). (ROSENFELD, 2014, p.45)
Dito isso é compreensível que temas como o suicídio seja pouco explorado nos comics. Ao mesmo tempo ressalta a relevância do Justiceiro como fenómeno comunicacional, uma vez que o mesmo é uma personagem que está entre as mais populares e vendáveis, desde bandas desenhadas até t-shirts com o logotipo da caveira estampado no peito.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem orientações muito claras sobre como mostrar o suicídio nos meios de comunicação de massa. De acordo com a OMS:
Os meios de comunicação desempenham um papel significativo na sociedade atual, ao proporcionar uma ampla gama de informações, através dos mais variados recursos. Influencia fortemente as atitudes, crenças e comportamentos da comunidade e ocupa um lugar central nas práticas políticas, econômicas e sociais. (p.03, 2000)
Os jovens enfrentam risco maior do que os adultos quando são expostos ao suicídio, seja na televisão, seja em jornais, seja em revistas e podem imitar o comportamento suicida.
Com isso o anti-herói vigilante lida com a depressão e a culpa, uma vez que outrora era um promotor de justiça que ao ter sua família assassinada se torna um vigilante, assim como ocorreu com Frank Castle.
O ápice da depressão do vigilante dá-se quanto ele mata por acidente um detective da polícia. Sem hesitar ele regressa à residência, vai até à casa de banho e dispara um tiro na cabeça.
Para os casos de Jean Grey e Vigilante é importante refletir que esses personagens não possuem a questão norteadora do suicídio na sua construção ou jornada, diferentemente do Justiceiro. Mesmo o Vigilante com uma origem equivalente ao Justiceiro opta pelo suicídio num capítulo derradeiro e, diferentemente do Justiceiro, executa-o.
As marcas de suicídio em Justiceiro foram exploradas por diversos escritores que trabalharam com o personagem, entretanto Garth Ennis foi pioneiro em trabalhar o suicídio em diversos momentos da vida de Castle, a ponto de passar de um elemento imaginário para um ato presente no seu quotidiano.
(...) É precisamente a ficção que possibilita viver e contemplar tais possibilidades, graças ao modo de ser irreal de suas camadas profundas, graças aos quase-juízos que fingem referir-se a realidades sem realmente se referirem a seres reais e graças ao modo de aparecer concreto e quase-sensível deste mundo imaginário nas camadas exteriores. (ROSENFELD, p.46, 2014)
Garth Ennis escreveu toda a jornada do anti-herói, abordando desde sua infância até os últimos dias de Castle. É importante frisar que Garth não se preocupa em escrever um personagem alinhado com a cronologia de escritores antecessores e sim busca conhecer a essência do personagem e o reconfigura a ponto de oferecer uma versão definitiva do personagem, utilizada em versões para BD e outros medias.
O primeiro acto de suicídio que Justiceiro depara-se acontece na infância, descrito na história Tyger, escrita por Garth Ennis e ilustrada por John Severin. Na trama temos o Justiceiro do alto de um prédio em tocaia, esperando um importante mafioso sair de um restaurante. Durante essa espera, Justiceiro percebe que viveu naquela vizinhança e passa a recordar o jovem Frank Castle e as experiências que ajudaram a moldar o seu caráter.
Entre as lembranças, Castle presenciou um acto de suicídio. Andando na calçada com uma garota, Castle viu uma amiga em comum caminhando perdida no meio da rua, até um veículo atropelar e matar a moça.
Ao descrever o período de Castle na Guerra do Vietnam, em Punisher: Born, Garth Ennis expõe o tema na trama de Castle. O seu superior militar comete suicídio ao saber da invasão da frente de combate pelos vietnamitas. Nesse caso Frank não testemunha o acto, mas relaciona-se com personagens com tendências suicidas, como o próprio superior hierárquico e soldados.
Ao trabalhar com o personagem Justiceiro na sua jornada contra o crime, Garth Ennis trabalha em diversos momentos a questão do suicídio. Na história Bem-Vindo de volta Frank Castle, o escritor apresenta o Justiceiro como alguém tolerado e aceite informalmente entre a polícia, mas que precisa ser detido pelos mesmos, ainda que de forma a dar satisfação à sociedade e ressaltar o imaginário colectivo da premissa que Justiceiros e Vigilantes são uma anarquia ao sistema.
Para tanto a polícia designa seu pior detective para a tarefa, o policial Soup. Oferecem a ele as piores condições possíveis de trabalho e apenas um profissional para auxiliá-lo, o psicólogo Buddy Plugg. Ele considera-se um profundo pesquisador da psique do Justiceiro e apresenta os seus estudos a Soup que critica o trabalho. O psicólogo sente-se ofendido e humilhado a ponto de cometer suicídio.
Outro momento na jornada do anti-herói escrita por Garth Ennis e ilustrada por Lan Medina. Neste arco narrativo, Garth apresenta uma personagem que busca vingança contra um grupo de mulheres, viúvas de criminosos mortos pelo Justiceiro. Essa personagem se aproxima do Justiciero a ponto de vestir a roupa dele e executa essas mulheres. A mulher tinha um cancro terminal e ambos aproximam-se de uma relação de paixão e vingança, que culmina no suicídio da personagem, na presença de Castle enquanto mantinham relações sexuais.
Os meios de comunicação desempenham um papel significativo na sociedade atual, ao proporcionar uma ampla gama de informações, através dos mais variados recursos. Influencia fortemente as atitudes, crenças e comportamentos da comunidade e ocupa um lugar central nas práticas políticas, econômicas e sociais. (p.03, 2000)
Os jovens enfrentam risco maior do que os adultos quando são expostos ao suicídio, seja na televisão, seja em jornais, seja em revistas e podem imitar o comportamento suicida.
Com isso o anti-herói vigilante lida com a depressão e a culpa, uma vez que outrora era um promotor de justiça que ao ter sua família assassinada se torna um vigilante, assim como ocorreu com Frank Castle.
O ápice da depressão do vigilante dá-se quanto ele mata por acidente um detective da polícia. Sem hesitar ele regressa à residência, vai até à casa de banho e dispara um tiro na cabeça.
Para os casos de Jean Grey e Vigilante é importante refletir que esses personagens não possuem a questão norteadora do suicídio na sua construção ou jornada, diferentemente do Justiceiro. Mesmo o Vigilante com uma origem equivalente ao Justiceiro opta pelo suicídio num capítulo derradeiro e, diferentemente do Justiceiro, executa-o.
As marcas de suicídio em Justiceiro foram exploradas por diversos escritores que trabalharam com o personagem, entretanto Garth Ennis foi pioneiro em trabalhar o suicídio em diversos momentos da vida de Castle, a ponto de passar de um elemento imaginário para um ato presente no seu quotidiano.
(...) É precisamente a ficção que possibilita viver e contemplar tais possibilidades, graças ao modo de ser irreal de suas camadas profundas, graças aos quase-juízos que fingem referir-se a realidades sem realmente se referirem a seres reais e graças ao modo de aparecer concreto e quase-sensível deste mundo imaginário nas camadas exteriores. (ROSENFELD, p.46, 2014)
Garth Ennis escreveu toda a jornada do anti-herói, abordando desde sua infância até os últimos dias de Castle. É importante frisar que Garth não se preocupa em escrever um personagem alinhado com a cronologia de escritores antecessores e sim busca conhecer a essência do personagem e o reconfigura a ponto de oferecer uma versão definitiva do personagem, utilizada em versões para BD e outros medias.
O primeiro acto de suicídio que Justiceiro depara-se acontece na infância, descrito na história Tyger, escrita por Garth Ennis e ilustrada por John Severin. Na trama temos o Justiceiro do alto de um prédio em tocaia, esperando um importante mafioso sair de um restaurante. Durante essa espera, Justiceiro percebe que viveu naquela vizinhança e passa a recordar o jovem Frank Castle e as experiências que ajudaram a moldar o seu caráter.
Entre as lembranças, Castle presenciou um acto de suicídio. Andando na calçada com uma garota, Castle viu uma amiga em comum caminhando perdida no meio da rua, até um veículo atropelar e matar a moça.
Ao descrever o período de Castle na Guerra do Vietnam, em Punisher: Born, Garth Ennis expõe o tema na trama de Castle. O seu superior militar comete suicídio ao saber da invasão da frente de combate pelos vietnamitas. Nesse caso Frank não testemunha o acto, mas relaciona-se com personagens com tendências suicidas, como o próprio superior hierárquico e soldados.
Ao trabalhar com o personagem Justiceiro na sua jornada contra o crime, Garth Ennis trabalha em diversos momentos a questão do suicídio. Na história Bem-Vindo de volta Frank Castle, o escritor apresenta o Justiceiro como alguém tolerado e aceite informalmente entre a polícia, mas que precisa ser detido pelos mesmos, ainda que de forma a dar satisfação à sociedade e ressaltar o imaginário colectivo da premissa que Justiceiros e Vigilantes são uma anarquia ao sistema.
Para tanto a polícia designa seu pior detective para a tarefa, o policial Soup. Oferecem a ele as piores condições possíveis de trabalho e apenas um profissional para auxiliá-lo, o psicólogo Buddy Plugg. Ele considera-se um profundo pesquisador da psique do Justiceiro e apresenta os seus estudos a Soup que critica o trabalho. O psicólogo sente-se ofendido e humilhado a ponto de cometer suicídio.
Outro momento na jornada do anti-herói escrita por Garth Ennis e ilustrada por Lan Medina. Neste arco narrativo, Garth apresenta uma personagem que busca vingança contra um grupo de mulheres, viúvas de criminosos mortos pelo Justiceiro. Essa personagem se aproxima do Justiciero a ponto de vestir a roupa dele e executa essas mulheres. A mulher tinha um cancro terminal e ambos aproximam-se de uma relação de paixão e vingança, que culmina no suicídio da personagem, na presença de Castle enquanto mantinham relações sexuais.
Média, quotidiano e suicídio
O imaginário coletivo acerca do suicídio é reforçado no nosso quotidiano por uma massiva mensagem do quanto é errado cometer esse ato. Encontramos em doutrinas religiosas intolerância ao assunto, independente dos motivos que culminaram em tal ação. Na política há ausência de debate acerca do tema e mesmo no nosso quotidiano o assunto é tratado como um tabu. Assim a ficção ganha contornos de meio de discussão e reflexão.
Numa outra vertente temos, a partir da cultura de conexão indivíduos que produzem, compartilham e interagem nas redes sociais e criam nichos de conhecimento diversos. Dentre eles, temos comunidades voltadas para a disseminação da prática de suicídio. Jovens filmam a própria morte em lives de internet, ou procuram em tempo real, informações de como executar tal ação.
No Brasil. o caso de maior impacto foi do jovem músico Vinícius, conhecido como Yoñlu. Dono de um talento raro, cometeu suicídio com apenas 16 anos, conectado até o fim na internet e debatendo com internautas de todo o mundo em como executar o ato.
Em 2006, Yoñlu usou a internet para descobrir maneiras efetivas de se suicidar. Com a ajuda de fóruns, aprendeu o método, pediu ajuda e foi até o fim, deixando para trás um HD cheio de fotos, desenhos, escritos e músicas. Dois anos depois, o caso repercutiu nos mass-media nacionais quando seu pai decidiu tornar “imortal” o que restou de Vinícius, lançando o CD póstumo “A Society in Which no Tear is Shed is Inconceivably Mediocre” (em tradução livre: Uma sociedade que não derrama uma lágrima é inconcebivelmente medíocre). (FERREIRA e RAMALHO, p. 19, 2013)
Nesse caso específico, podemos considerar que apesar dos meios de comunicação, e fazemos aqui a inclusão das histórias em BD, o pudor e receio de tratar o tema, o que faz com que o leitor obtenha poucas informações complementares a formar seu conceito acerca do tema. No entanto, esse indivíduo pesquise, por conta própria, onde buscar informações e pares, o que resulta em aconselhamentos, informações e ações que só complementam e incentivam a prática do suicídio.
A morte de Vinícius/Yoñlu não ocorreu sem causa aparente. Grande parte deve-se à depressão, mas a maior parte deve ser atribuída aos sites que frequentava. O acesso ao histórico do computador do garoto revelou que ele era membro assíduo de um fórum americano de suicídio, e foi nele que postou suas últimas mensagens, dizendo que havia acendido duas grelhas no banheiro e como deveria proceder para desmaiar e morrer de forma pouco dolorosa. Em poucos minutos foi respondido (Um dos membros era ex-
bombeiro e informou-lhe que deveria enrolar-se em um pano molhado para suportar o calor até o momento da morte), e dali há pouco o ato havia se consumado. (COSTA, p.08, 2014)
Outro elemento de discussão mediática que envolve o tema é o suicídio assistido, do qual um paciente em estado terminal solicita a abreviação de seu sofrimento. O exemplo mediático mais recente e da atleta paralímpica Marieke Vervoot que possui, desde 2008 a documentação necessária para solicitar a eutanásia assistida.
Na área das narrativas audiovisuais, podemos citar a série 13 Reasons Why, adaptado da obra de Jay Asher de 2007, que possui como tema central o suicídio e é exibida na Netflix. O lançamento da série foi realizado com amparo de instituições de apoio psicológico e psiquiátrico, justamente para reduzir ao mínimo o risco de contaminação da ideia de suicídio.
(...) “Sou eu ao vivo e em estéreo. Sem a promessa de retorno, sem bis e, desta vez, sem atender aos pedidos. Pegue um lanche. Acomode-se. Porque eu vou contar a história da minha vida. Mais especificamente, porque minha vida terminou.” Não é spoiler, não se trata de revelar o segredo antes mesmo de a trama mal começar. A jovem personagem começa anunciando que tirou a própria vida - e, com isso, a série deflagrou um debate difícil: deve-se tratar um suicídio com tanta abertura, sobretudo entre adolescentes? (VIDALE, CUMINALE E BOTELHO, p.99, 2017)
A Netflix procurou o Centro de Valorização da Vida (CVV) no Brasil solicitando autorização para divulgar o número do serviço (141) no episódio final. As narrativas audiovisuais possuem um debate mediático mais imediato que as histórias em BD, por ter uma curva de popularidade massificada maior e em um espaço temporal mais breve. Segundo o Psiquiatra Humberto Corrêa, citado por VIDALE, CUMINALE e BOTELHO, “13 Reasons Why é perigosa por romantizar o suicídio e simplificar o assunto ao apontar culpados. Nada do que se refira ao suicídio pode ser simples” (p.100, 2017)
Com esse cenário exposto, entendemos que o Justiceiro é um dos poucos personagens que aborda a questão durante a sua cronologia e que estabelece um debate acerca do tema com o público-alvo dos comics. Não devemos entender que o Justiceiro faça apologia ao tema, pelo contrário. O personagem possui marcas do discurso que o torna uma pessoa impossível de ser referenciada ou admirada, como é um Superman ou Homem-aranha, entretanto, considerando que o personagem atinge um público-alvo com taxa de suicídio, torna-se de extrema importância a exposição do tema e a proliferação de debate acerca do mesmo com responsabilidade de autores, editores e críticos de BD. Por fim, é de suma importância que as empresas que licenciam personagens dessa natureza realizam parceria com centros e organizações que trabalhem com a prevenção e conscientização desse acto entre jovens.
Considerações Finais
O presente artigo visa demonstrar as marcas de construção de sentido em Justiceiro a partir da temática do suicídio e como um personagem polémico como este consegue estabelecer um debate acerca do tema a partir da sua popularidade mediática.
Ao longo dos 43 anos de criação do anti-herói, o Justiceiro foi retratado como um homem melancólico, depressivo e suicida em diversas esferas, seja na sua eterna guerra ao crime como na dor da sua perda pessoal.
A condição peculiar da personagem promove a não apologia ao suicídio, uma vez que afasta-se do jovem comum, seja pela idade, por ser um veterano de uma guerra que é distante do jovem contemporâneo e pela tragédia pessoal em sua construção, mas enquanto personagem de uma cultura de massa-media estabelece o debate presente no quotidiano e imaginário acerca não apenas da violência urbana, mas da própria condição humana, com ênfase na depressão e na posição de querer acabar com a própria vida.
É importante ressaltar que em nenhuma história o Justiceiro demonstra que o suicídio é algo bom ou o mesmo estimula a prática, mas enquanto meio de comunicação e ficção cabe-lhe cumprir com a responsabilidade de reflectir assuntos que são presente entre nós e que ainda são considerados tabus devido aos nossos credos pessoais e sociais, responsáveis pela construção do nosso imaginário pessoal. A narrativa ficcional permite que o indivíduo reflicta sem o intermédio de outras pessoas, o que é importante no universo do jovem e adolescente, uma vez comprometido na cultura de conexão com uma miríade de grupos, comunidades e pessoas que não estão interessados em um bem estar, mas de proliferar a prática do suicídio.
Esperar do comics ou de personagens heróicos um aprofundamento acerca do tema é algo inviável se analisarmos o atual cenário comercial e mediático dos personagens de BD, mas vale ressaltar que em outras escolas de arte sequencial como o comics underground o tema é discutido com bastante maturidade, mas sem o apelo mediático que o tema precisa.
Por se tratar de uma ficção, o autor não se sente obrigado a seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde acerca do tema, mas entendemos que o autor deBD pode, em suas pesquisas de criação de histórias, considerar as recomendações da OMS. Isso complementa a ficção e estabelece um diálogo de auxílio ao jovem que busca em seus personagens de BD uma fonte de inspiração.
O Justiceiro acaba por ser um meio importante de leitura, construção de sentido e temática diante do tema, seja pela qualidade das histórias e pelo seu alcance mediático, podendo ser utilizado como estratégia complementar de ensino e debate em sala de aula ou em outros ambientes educacionais.
O seu sucesso comercial acaba por fim abrindo espaço para outros autores abordar a temática com outros personagens, como já o fazem com temas sobre racismo, homossexualidade...
O Justiceiro acaba por ser um dos pioneiros nessa temática difícil de ser tratada pela sociedade, mas com necessidade urgente de ser discutida abordada no nosso quotidiano, e que a comunicação pode actuar no intuito de desconstrução de um imaginário preconceituoso religioso e se reconfigura para um entendimento crítico, é acima de tudo empático com aquele que opta por esse fim.
O presente artigo visa demonstrar as marcas de construção de sentido em Justiceiro a partir da temática do suicídio e como um personagem polémico como este consegue estabelecer um debate acerca do tema a partir da sua popularidade mediática.
Ao longo dos 43 anos de criação do anti-herói, o Justiceiro foi retratado como um homem melancólico, depressivo e suicida em diversas esferas, seja na sua eterna guerra ao crime como na dor da sua perda pessoal.
A condição peculiar da personagem promove a não apologia ao suicídio, uma vez que afasta-se do jovem comum, seja pela idade, por ser um veterano de uma guerra que é distante do jovem contemporâneo e pela tragédia pessoal em sua construção, mas enquanto personagem de uma cultura de massa-media estabelece o debate presente no quotidiano e imaginário acerca não apenas da violência urbana, mas da própria condição humana, com ênfase na depressão e na posição de querer acabar com a própria vida.
É importante ressaltar que em nenhuma história o Justiceiro demonstra que o suicídio é algo bom ou o mesmo estimula a prática, mas enquanto meio de comunicação e ficção cabe-lhe cumprir com a responsabilidade de reflectir assuntos que são presente entre nós e que ainda são considerados tabus devido aos nossos credos pessoais e sociais, responsáveis pela construção do nosso imaginário pessoal. A narrativa ficcional permite que o indivíduo reflicta sem o intermédio de outras pessoas, o que é importante no universo do jovem e adolescente, uma vez comprometido na cultura de conexão com uma miríade de grupos, comunidades e pessoas que não estão interessados em um bem estar, mas de proliferar a prática do suicídio.
Esperar do comics ou de personagens heróicos um aprofundamento acerca do tema é algo inviável se analisarmos o atual cenário comercial e mediático dos personagens de BD, mas vale ressaltar que em outras escolas de arte sequencial como o comics underground o tema é discutido com bastante maturidade, mas sem o apelo mediático que o tema precisa.
Por se tratar de uma ficção, o autor não se sente obrigado a seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde acerca do tema, mas entendemos que o autor deBD pode, em suas pesquisas de criação de histórias, considerar as recomendações da OMS. Isso complementa a ficção e estabelece um diálogo de auxílio ao jovem que busca em seus personagens de BD uma fonte de inspiração.
O Justiceiro acaba por ser um meio importante de leitura, construção de sentido e temática diante do tema, seja pela qualidade das histórias e pelo seu alcance mediático, podendo ser utilizado como estratégia complementar de ensino e debate em sala de aula ou em outros ambientes educacionais.
O seu sucesso comercial acaba por fim abrindo espaço para outros autores abordar a temática com outros personagens, como já o fazem com temas sobre racismo, homossexualidade...
O Justiceiro acaba por ser um dos pioneiros nessa temática difícil de ser tratada pela sociedade, mas com necessidade urgente de ser discutida abordada no nosso quotidiano, e que a comunicação pode actuar no intuito de desconstrução de um imaginário preconceituoso religioso e se reconfigura para um entendimento crítico, é acima de tudo empático com aquele que opta por esse fim.