RESENHA BD
Ilha dos Gatos, de Tokushige Kawakatsu
26-06-2022
A mais recente oferta editorial da Sendai mantém quer a qualidade, quer o elemento de surpresa literária a que esta editora já nos habituou. Soa repetitivo escrever isto, mas esperar o inesperado é talvez aquilo que Cassiano Soares, o editor, nos reserva. Desta vez, num livro curto, mas com um ritmo narrativo alucinante.
Ilha dos Gatos é uma daquelas obras que se delicia em ser ambígua. Em leitura linear, percebe-se com um conto de terror, com monstros, pessoas obcecadas, atrocidades hediondas e aquele sentimento fatalista e fuga à coerência do horror japonês. Mas, enquanto acompanhamos a linearidade deste horror, não podemos deixar de nos questionar se estamos a ler uma velada metáfora, onde o ponto de vista sobrenatural oculta uma história de crime pulp, com contornos psicológicos.
A mais recente oferta editorial da Sendai mantém quer a qualidade, quer o elemento de surpresa literária a que esta editora já nos habituou. Soa repetitivo escrever isto, mas esperar o inesperado é talvez aquilo que Cassiano Soares, o editor, nos reserva. Desta vez, num livro curto, mas com um ritmo narrativo alucinante.
Ilha dos Gatos é uma daquelas obras que se delicia em ser ambígua. Em leitura linear, percebe-se com um conto de terror, com monstros, pessoas obcecadas, atrocidades hediondas e aquele sentimento fatalista e fuga à coerência do horror japonês. Mas, enquanto acompanhamos a linearidade deste horror, não podemos deixar de nos questionar se estamos a ler uma velada metáfora, onde o ponto de vista sobrenatural oculta uma história de crime pulp, com contornos psicológicos.
Numa estância balnear japonesa, dois amigos de verão e a namorada descobrem um inesperado rochedo na baía. Uma ilha não mapeada, mas conhecida por um pescador, que lhes conta a história do martírio de um antigo senhor feudal japonês, cuja cabeça teria, por meios sobrenaturais, ido parar à baía. No local onde existe a pequena ilha desabitada, santuário onde os que conhecem a história vão deixar oferendas aos gatos, o animal favorito do antigo senhor feudal. A tentação de exploração é inevitável, e os três amigos desembarcam na ilha. Aí, vão cruzar-se com um feroz felino, que despertará a loucura assassina na rapariga, e levará a mortes violentas. Escapa apenas o narrador, que acabará preso e condenado à morte pelos assassinatos, incapaz de convencer os tribunais da veracidade da sua história tétrica.
É nesta simplicidade que reside o brilhantismo do livro. Podemos seguir a leitura do horror, que até nos reserva algumas cenas de revirar as entranhas. Ou podemos perceber que estamos a ler a história sob o ponto de vista do principal suspeito, que pode ter efabulado tudo para sublimar o verdadeiro horror de, enciumado por a rapariga ter preferido o seu amigo, ter perdido a cabeça e executado violentos assassinatos. O foco é exclusivo no seu ponto de vista, o que lemos, é a visão do criminoso. A sensação de que talvez a história seja profundamente diferente da que nos é contada é intuída pelo leitor, nunca tornada explícito, o que me parece típico do horror japonês, que nunca perde tempo com explicações racionais para a insanidade.
O estilo gráfico é bastante agressivo, o traço é cru e por vezes disforme. Tudo se conjuga para um retrato psicológico perturbador, cruzamento de lendas, efabulações, e a realidade de um crime do passado. Entre o horror e o crime pulp, a Sendai traz-nos mais um inesperado exemplo do melhor que a banda desenhada japonesa nos tem para oferecer.
Artur Coelho
É nesta simplicidade que reside o brilhantismo do livro. Podemos seguir a leitura do horror, que até nos reserva algumas cenas de revirar as entranhas. Ou podemos perceber que estamos a ler a história sob o ponto de vista do principal suspeito, que pode ter efabulado tudo para sublimar o verdadeiro horror de, enciumado por a rapariga ter preferido o seu amigo, ter perdido a cabeça e executado violentos assassinatos. O foco é exclusivo no seu ponto de vista, o que lemos, é a visão do criminoso. A sensação de que talvez a história seja profundamente diferente da que nos é contada é intuída pelo leitor, nunca tornada explícito, o que me parece típico do horror japonês, que nunca perde tempo com explicações racionais para a insanidade.
O estilo gráfico é bastante agressivo, o traço é cru e por vezes disforme. Tudo se conjuga para um retrato psicológico perturbador, cruzamento de lendas, efabulações, e a realidade de um crime do passado. Entre o horror e o crime pulp, a Sendai traz-nos mais um inesperado exemplo do melhor que a banda desenhada japonesa nos tem para oferecer.
Artur Coelho
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Ilha dos Gatos
Autor: Tokushige Kawakatsu
Editora: Sendai
Ano de edição: 2022
Páginas: 88 páginas, capa mole
Preço: 7,90€
Ilha dos Gatos
Autor: Tokushige Kawakatsu
Editora: Sendai
Ano de edição: 2022
Páginas: 88 páginas, capa mole
Preço: 7,90€