CULTURA DIGITAL
História da BD em Portugal
2019-07-30
Portugal não possui uma indústria de banda desenhada tão desenvolvida como a de alguns países: Bélgica, França, Japão e E.U.A. Apesar disso, possuímos uma diversidade gráfica de estilos muito saudável e um sentido experimental audaz. Infelizmente, a falta de profissionalismo é ainda evidente em muitos projetos. Uma grande parte das publicações hoje em dia são feitas através da auto-publicação de fanzines e fanálbuns.
Portugal não possui uma indústria de banda desenhada tão desenvolvida como a de alguns países: Bélgica, França, Japão e E.U.A. Apesar disso, possuímos uma diversidade gráfica de estilos muito saudável e um sentido experimental audaz. Infelizmente, a falta de profissionalismo é ainda evidente em muitos projetos. Uma grande parte das publicações hoje em dia são feitas através da auto-publicação de fanzines e fanálbuns.
O primeiro fanzine, neologismo que resulta da aglutinação das palavras fanático (ou fã) e magazine, foi publicado no E.U.A., em 1929, sob o título de “Cosmic Stories”. O termo só seria cunhado em 1940 pelo faneditor americano Russ Chauvenet. O primeiro fanzine publicado em Portugal, em 1942, chamou-se “O Melro” e foi criado pelo banda-desenhista José Garcês. É preciso esperar pelo ano de 1972 para assistir ao aparecimento de outros títulos fanzinísticos. Nesse ano contaram-se oito títulos diferentes.
Em 1996, o faneditor português Geraldes Lino cunhou o termo fanálbum, criando um paralelismo com o conceito de fanzine. Para Lino um álbum de banda desenhada autopublicado por um indivíduo não-profissional é um fanálbum. Na minha óptica muitos dos álbuns publicados por micro-editoras nacionais deveriam ser incluídos nesta categoria.
A invenção da banda desenhada (BD; bedê; histórias em quadradinhos; nona arte; literatura gráfica) é comummente atribuída ao autor Rodolph Töpffer (1799-1846) que usou a expressão “literatura em estampas”. Töpffer, para além de ser considerado o “pai” da arte moderna dos comics foi o primeiro autor a escrever um texto teórico sobre o assunto – “Ensaio sobre Fisionomia” –, publicado em 1845. Um fac-símile digital deste ensaio pode ser encontrado no Projeto Gutemberg (do Canadá) sob o título original “Essai de Physiognomonie”. Várias estórias, deste autor, podem ser lidas nesta plataforma, recomendo uma que começou a ser publicada em 1837: “Les amours de Mr. Vieux Bois”.
A primeira banda desenhada publicada em Portugal, em 1850, sob o título “Aventuras Sentimentaes e Dramáticas do Senhor Simplício Baptista”, pertenceu ao autor António Nogueira da Silva. Deste período, o autor mais conceituado é sem sombra de dúvidas Raphael Bordallo Pinheiro que assinou o primeiríssimo álbum de banda desenhada no nosso país. Um feito impressionante. Em 1872 era publicado o referido álbum com o longo título “Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa” (uma versão em PDF pode ser lida online na Biblioteca Nacional de Portugal). Este artista multifacetado é mais conhecido pelos seus trabalhos na área da cerâmica e pela criação do famoso personagem Zé Povinho. Esta representação da classe baixa nacional rapidamente se tornou um símbolo de todos os portugueses, um pouco como o Uncle Sam americano e o John Bull inglês. A obra de Raphael Bordallo Pinheiro foi agraciada com um museu em Lisboa que já conta com mais de cem anos. Pode ser visitado no Campo Grande, não muito longe da estação de Metro.
Websites:
http://purl.pt/28331
http://divulgandobd.blogspot.com
https://museubordalopinheiro.pt
Este texto foi originalmente publicado no artigo Cultura Digital #85 no jornal Açoriano Oriental por Marco Fraga Silva.