HISTÓRIA ANTIGA
2016-12-29
Em boa verdade, o fenómeno da marginalização do desenhador enquanto força-motriz na criação artística e a emancipação do escritor enquanto figura reconhecida pelas massas como "o autor" na criação dos comics tem as suas raízes na própria formação da indústria dos comic books norte-americano e remonta ao final dos anos 1930, quando devido ao sucesso comercial deste novo meio de expressão, surgiram estúdios onde as etapas de produção da banda-desenhada eram subdivididas numa linha de montagem com escritores, desenhadores, arte-finalistas, etc.
Em boa verdade, o fenómeno da marginalização do desenhador enquanto força-motriz na criação artística e a emancipação do escritor enquanto figura reconhecida pelas massas como "o autor" na criação dos comics tem as suas raízes na própria formação da indústria dos comic books norte-americano e remonta ao final dos anos 1930, quando devido ao sucesso comercial deste novo meio de expressão, surgiram estúdios onde as etapas de produção da banda-desenhada eram subdivididas numa linha de montagem com escritores, desenhadores, arte-finalistas, etc.
A distribuição da carga produtiva por diversos indivíduos e a especialização de cada interveniente num aspecto específico da criação procurava potenciar a rapidez de produção dos comics, vistos apenas como um produto de entretenimento barato sem grande espaço para aspirações criativas autorais. Este sistema contribuiu em grande parte para a diluição do reconhecimento do desenhador como espinha dorsal na criação de obras de um meio de expressão que é, antes de tudo, visual. Mais, tratando-se aqui da criação de produtos comerciais, foi sempre do interesse dos editores reduzir ao máximo possível o protagonismo de um interveniente sobre os demais, de modo a controlar o produto final, submetendo assim a hipotética visão autoral à visão editorial.
É importante lembrar que quando falamos de editores falamos quase sempre de profissionais, por tradição e primeiramente, da palavra, da escrita e não do desenho ou das artes visuais. As excepções, tão fulgurantes quanto reduzidas em número, são editores/desenhadores, cujo trabalho editorial, sempre de elevada qualidade, os distingue da maioria dos seus pares. No contexto norte-americano, falamos de pessoas como Harvey Kurtzman, Archie Goodwyn ou o seu discípulo Mark Chiarello. Um breve relance ao currículo editorial destes exemplos serve para confirmar a sua singularidade dentro da máquina... Mas esses são uma excepção. A tradição tem sido sempre a de indivíduos da palavra a dominar a esfera do poder, das tomadas de decisão e da criação de opinião e é precisamente esta tradição que tem sido um elemento decisivo no degredo do desenhador ao papel de um tarefeiro numa linha de montagem.
- O Desenhador Fantasma