RESENHA BD
Revista H-alt #10
10-12-2021
Ler uma recensão à H-alt no site da H-alt soa a algo autofágico. Mas, apesar de aparecer nesta página, a minha leitura é independente. Ou pelo menos tenta sê-lo. Confesso que tenho um grande carinho por este projeto, pela forma independente e sustentada com que tem dado voz aos novos criadores portugueses de banda desenhada. É esse o ponto de partida da leitura, bem como da reflexão.
Notem, o carinho por projetos literários é um recurso vasto, partilho o que tenho por este com a Apocryphus (em breve, nas minhas leituras) e a Umbra, cuja última edição está quase a ser lançada nos dias em que escrevo estas linhas. Todos terão um lugar neste canto, até porque o seu contínuo esforço e qualidade merecem destaque. E, acima de tudo, leitores.
Após dez números, rever a H-alt é um processo mental repetitivo. Nada de errado com isso, uma vez que este projeto explora um espaço muito bem definido. Sabemos exatamente o que esperar dele. Dá espaço editorial a novos talentos, alguns a amadurecer, outros ainda muito crus. Não é uma publicação onde podemos esperar qualidade gráfica e narrativa apurada por muita prática veterana. Não quero com isto dizer que os trabalhos que a H-alt edita têm falta de qualidade. Apenas, que representam um pulsar criativo mais verde e inexperiente, fundamental e necessário para ganhar impulso para outros voos. Isso já se assiste. Autores que mostraram os seus projetos na H-alt já começam a fazer outros voos editoriais, estou a recordar em específico o trabalho de Fábio Veras. O nicho desta revista assenta em talento a afirmar-se, cru mas com garra.
Esta edição da revista foi prejudicada pela pandemia. Algo óbvio de afirmar, e que não se restringiu a este projeto, esteve praticamente tudo parado. No caso deste número da H-alt, o longo hiato entre as edições 9 e 10 prejudica algumas leituras. A revista estava a editar histórias mais longas em formato episódico, e passar-se um ano entre leitura de episódios não ajuda. Não há memória que resista. Se bem que este reparo advém de uma contingência inesperada, que interrompeu quer o calendário de edição, quer os eventos que congregam o público que acarinha este projeto. Talvez estas histórias episódicas ganhem novo corpo, unificado, em edição digital ou em papel.
Ler uma recensão à H-alt no site da H-alt soa a algo autofágico. Mas, apesar de aparecer nesta página, a minha leitura é independente. Ou pelo menos tenta sê-lo. Confesso que tenho um grande carinho por este projeto, pela forma independente e sustentada com que tem dado voz aos novos criadores portugueses de banda desenhada. É esse o ponto de partida da leitura, bem como da reflexão.
Notem, o carinho por projetos literários é um recurso vasto, partilho o que tenho por este com a Apocryphus (em breve, nas minhas leituras) e a Umbra, cuja última edição está quase a ser lançada nos dias em que escrevo estas linhas. Todos terão um lugar neste canto, até porque o seu contínuo esforço e qualidade merecem destaque. E, acima de tudo, leitores.
Após dez números, rever a H-alt é um processo mental repetitivo. Nada de errado com isso, uma vez que este projeto explora um espaço muito bem definido. Sabemos exatamente o que esperar dele. Dá espaço editorial a novos talentos, alguns a amadurecer, outros ainda muito crus. Não é uma publicação onde podemos esperar qualidade gráfica e narrativa apurada por muita prática veterana. Não quero com isto dizer que os trabalhos que a H-alt edita têm falta de qualidade. Apenas, que representam um pulsar criativo mais verde e inexperiente, fundamental e necessário para ganhar impulso para outros voos. Isso já se assiste. Autores que mostraram os seus projetos na H-alt já começam a fazer outros voos editoriais, estou a recordar em específico o trabalho de Fábio Veras. O nicho desta revista assenta em talento a afirmar-se, cru mas com garra.
Esta edição da revista foi prejudicada pela pandemia. Algo óbvio de afirmar, e que não se restringiu a este projeto, esteve praticamente tudo parado. No caso deste número da H-alt, o longo hiato entre as edições 9 e 10 prejudica algumas leituras. A revista estava a editar histórias mais longas em formato episódico, e passar-se um ano entre leitura de episódios não ajuda. Não há memória que resista. Se bem que este reparo advém de uma contingência inesperada, que interrompeu quer o calendário de edição, quer os eventos que congregam o público que acarinha este projeto. Talvez estas histórias episódicas ganhem novo corpo, unificado, em edição digital ou em papel.
O que podemos esperar desta H-alt? As suas habituais 140 páginas de banda desenhada e entrevistas a ilustradores. O destaque deste número vai para o italiano Vicenzo Ricciardi, que trabalhou para a Bonelli com Dragonero. Em banda desenhada, destaco algumas histórias especialmente promissoras. Blackburn Stories, de Kurt Belcher e Rob Croonenborghis, é um delirante western de horror, com um forte humor negro. O Quinto Império de João Vasconcelos surpreende pela ambição, embora tenha ainda muito que evoluir na vertente gráfica. Sérgio Santos e Alberto Pessoa assinam um excelente momento de ficção científica em Saudade. O esquema cromático e o argumento de Homem Criança, por Ana Santos e Luís Guerreiro, é sedutor, embora o traço seja muito rígido.
O olho é imediatamente atraído pelo grafismo de Crianças da Terra, uma interessante história de Liliana Gaio com ilustração de Ricardo Robalo. A longa história O Jogo de Nil conclui, e nota-se a evolução no traço de Pedro Cruz, num grafismo que me pareceu inspirado pela iconografia dos comics dos anos 50. A Lição é uma divertida história entre o infantil e a ficção científica de Marco Silva e Diogo Alves. Pedro N. assina O Último Confronto, com um estilo gráfico muito promissor e uma narrativa surpreendente. Num estilo aparentemente inocente, Lisa de Mateus Braga olha com imensa inteligência para lugares comuns da fantasia e ficção científica. Noir Village de Rapha Pinheiro parece-me ser o menos conseguido desta edição, embora sublinhe que se percebe que é um primeiro passo, muito promissor. A solo, Sérgio Santos assina uma surreal parábola do capitalismo em Lambida. Temos ainda direito às bizarrias obsessivas de Samir Karimo com O Beijo da Morte (quem o conhece certamente que se sente desconcertado por uma pessoa tão tranquila ter um imaginário tão obscuro), ilustrada por Miguel Garcia. A revista encerra com duas vinhetas bastante experimentais, com Todas as Cores de Sandro Leonardo e Charles Hoffmann.
O décimo número da revista não se desvia da sua linha de evolução. Continua a trazer-nos novas vozes, a dar espaço para mostrar e desenvolver novos talentos. Aposta também em parcerias internacionais, entre leituras publicadas e possibilidades de colaboração. Um trabalho metódico, sustentado, que ao longo dos anos tem mantido o seu foco.
Artur Coelho
O olho é imediatamente atraído pelo grafismo de Crianças da Terra, uma interessante história de Liliana Gaio com ilustração de Ricardo Robalo. A longa história O Jogo de Nil conclui, e nota-se a evolução no traço de Pedro Cruz, num grafismo que me pareceu inspirado pela iconografia dos comics dos anos 50. A Lição é uma divertida história entre o infantil e a ficção científica de Marco Silva e Diogo Alves. Pedro N. assina O Último Confronto, com um estilo gráfico muito promissor e uma narrativa surpreendente. Num estilo aparentemente inocente, Lisa de Mateus Braga olha com imensa inteligência para lugares comuns da fantasia e ficção científica. Noir Village de Rapha Pinheiro parece-me ser o menos conseguido desta edição, embora sublinhe que se percebe que é um primeiro passo, muito promissor. A solo, Sérgio Santos assina uma surreal parábola do capitalismo em Lambida. Temos ainda direito às bizarrias obsessivas de Samir Karimo com O Beijo da Morte (quem o conhece certamente que se sente desconcertado por uma pessoa tão tranquila ter um imaginário tão obscuro), ilustrada por Miguel Garcia. A revista encerra com duas vinhetas bastante experimentais, com Todas as Cores de Sandro Leonardo e Charles Hoffmann.
O décimo número da revista não se desvia da sua linha de evolução. Continua a trazer-nos novas vozes, a dar espaço para mostrar e desenvolver novos talentos. Aposta também em parcerias internacionais, entre leituras publicadas e possibilidades de colaboração. Um trabalho metódico, sustentado, que ao longo dos anos tem mantido o seu foco.
Artur Coelho
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H-alt nº10
Autor: Sérgio Santos (editor)
Editora: H-alt
Ano de edição: 2021
Páginas: 140 páginas, capa mole
Preço: 10€
H-alt nº10
Autor: Sérgio Santos (editor)
Editora: H-alt
Ano de edição: 2021
Páginas: 140 páginas, capa mole
Preço: 10€