ENTREVISTA EXCLUSIVA COM RODOLFO MARIANO
11-02-2022
Rodolfo Mariano (n. 1981, Coimbra), é um artista visual, autor de banda desenhada, ilustrador e músico. Autor do livro "Outro Mundo Ultra Tumba" desenvolvido e publicado em 2016, galardoado em 2017 pelo FIBD Amadora com o troféu de melhor publicação independente, criador da série de BD vagamente autobiográfica e de teor absurdo "Rock Bottom" (R.I.P. 2016 - 2021), escritor e desenhador da série de crítica musical vagamente surrealista "As Crónicas da Cemitéria" e participante regular na revista colectiva "Pentângulo" publicada no âmbito de uma parceria entre a editora Chili Com Carne e a escola Ar.Co, em Lisboa. No ano de 2019, decidido a publicar online diariamente, Rodolfo Mariano viu nascer dois novos projectos serializados, “RUÍNAS” e “M.A.L.”, que deram origem a diferentes fanzines de ilustração e banda desenhada, respectivamente. No final desse mesmo ano de 2019, nasceu “Bottoms Up”, uma série desenvolvida e publicada diariamente, proposta vencedora do concurso Toma Lá 500 Paus e Faz uma BD de 2020, promovido pela editora e associação Chili Com Carne. Rodolfo reside em Coimbra, cidade onde trabalha no seu pequeno estúdio, o atelier ABRACADABRA. Encontra-se actualmente a desenvolver o webcomic e título que será o seu segundo livro, "Cloak And Dagger"/"De Capa e Espada".
+Blog/Arquivo e página pessoal:
https://lightninrods.tumblr.com/archive/
https://www.rodolfomariano.com/
+Loja online:
https://www.etsy.com/shop/RodolfoMariano
+“Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada” (Terça e Sexta-feira, publicação semanal):
https://cloakanddaggerwebcrypt.tumblr.com/
https://www.patreon.com/rodolfomariano
Rodolfo Mariano (n. 1981, Coimbra), é um artista visual, autor de banda desenhada, ilustrador e músico. Autor do livro "Outro Mundo Ultra Tumba" desenvolvido e publicado em 2016, galardoado em 2017 pelo FIBD Amadora com o troféu de melhor publicação independente, criador da série de BD vagamente autobiográfica e de teor absurdo "Rock Bottom" (R.I.P. 2016 - 2021), escritor e desenhador da série de crítica musical vagamente surrealista "As Crónicas da Cemitéria" e participante regular na revista colectiva "Pentângulo" publicada no âmbito de uma parceria entre a editora Chili Com Carne e a escola Ar.Co, em Lisboa. No ano de 2019, decidido a publicar online diariamente, Rodolfo Mariano viu nascer dois novos projectos serializados, “RUÍNAS” e “M.A.L.”, que deram origem a diferentes fanzines de ilustração e banda desenhada, respectivamente. No final desse mesmo ano de 2019, nasceu “Bottoms Up”, uma série desenvolvida e publicada diariamente, proposta vencedora do concurso Toma Lá 500 Paus e Faz uma BD de 2020, promovido pela editora e associação Chili Com Carne. Rodolfo reside em Coimbra, cidade onde trabalha no seu pequeno estúdio, o atelier ABRACADABRA. Encontra-se actualmente a desenvolver o webcomic e título que será o seu segundo livro, "Cloak And Dagger"/"De Capa e Espada".
+Blog/Arquivo e página pessoal:
https://lightninrods.tumblr.com/archive/
https://www.rodolfomariano.com/
+Loja online:
https://www.etsy.com/shop/RodolfoMariano
+“Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada” (Terça e Sexta-feira, publicação semanal):
https://cloakanddaggerwebcrypt.tumblr.com/
https://www.patreon.com/rodolfomariano
ENTREVISTA
Pressuponho que o teu gosto pelo desenho tenha surgido cedo como é frequente com muitos ilustradores. Recordas-te do momento em que decidiste ser ilustrador? E como é que chegas à conclusão de que a banda desenhada é um medium interessante para te expressares?
Olá!
Sim, desenhava muito como qualquer criança, mas desenhava muito mal, só aprendi a desenhar ao meu gosto já em adulto. Recordo-me de que gostava bastante mais de ler do que de desenhar, ler continua a ser a minha actividade favorita. Descobri o meu gosto pela ilustração e sobretudo redescobri o meu fascínio pela banda desenhada durante a minha frequência do curso de ilustração e banda desenhada na escola Ar.Co. em Lisboa.
Quando lançaste a série “Cloak and Dagger” afirmaste que a publicação online decorreria no espaço de um ano e uns poucos meses e que depois seria publicada em formato físico. Porque é que decidiste investir nesta estratégia que ainda é pouco comum no nosso país? De que forma a publicação serial online tem alterado a narrativa? Como abordaste a questão junto da editora que irá publicar o livro?
“Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada” é o meu primeiro guião a sério – com princípio, meio e fim. Como a história já estava escrita integralmente, não há alterações ao desenrolar da narrativa. Assim que terminei o storyboard, que serve também de planificação/maquete do livro, calculei quanto tempo iria demorar a publicar duas páginas por semana online e fiz logo um cronograma do projeto, encerrarei a série em meados de Junho 2022. Publicar online é natural para mim uma vez que faço questão de disponibilizar o meu corpo de trabalho publicamente. Estou a meio do processo de execução do livro, enquanto autor independente a fazer banda desenhada alternativa é cedo ainda para saber quando, como, onde e por quem será publicado.
Abriste uma pequena loja/estúdio, atelier com o nome ABRACADABRA. Online, afirmas que gostas que as pessoas te visitem. És alguém que aprecia a partilha e dois dedos de conversa. Foi essa necessidade de um contato direto com o leitor que te levou a publicar “Cloak and Dagger” na internet?
O atelier ABRACADABRA, inaugurado em Agosto de 2017, é, para além do meu espaço de trabalho, um ponto de encontro com os meus leitores, colegas, amigos, familiares, desconhecidos, curiosos e também uma porta aberta para qualquer pessoa que queira visitar uma pequena galeria de ilustração e banda desenhada, não há mais nenhuma em Coimbra. O meu atelier fica num centro comercial típico dos anos 80, agora semi-abandonado, ocupado com escritórios, mas super bem localizado no coração da cidade, em Celas. Sim, adoro receber pessoas e desmistificar o que é a banda desenhada mostrando e falando sobre o assunto.
Tens um estilo peculiar de desenhar e uma forma particular de colorir. Por vezes as tuas vinhetas estão carregadas de informação que convidam o leitor a demorar-se sobre a página para que possa absorver todos os detalhes. Como descreverias o teu estilo gráfico?
Eu gosto muito de outsider art, gosto de olhar para as margens, prefiro as coisas estranhas às coisas familiares, identifico-me com a definição de art brut. Mas, mais do que formas ou estilos, a minha preocupação é conseguir contar uma história que tenha poder de releitura e de divertir o leitor. Não sei ainda se é possível, mas sonho ser capaz de conseguir que cada uma das minhas histórias longas tenham o seu grafismo próprio e que cada texto tenha a sua singularidade.
Um fenómeno interessante que tem vindo a ganhar tração é o da produção de bandas desenhadas para a Internet. Na qualidade de autor que partilha a sua obra online, o que achas deste fenómeno e quais são os webcomics que recomendas? Que bedês andas a ler agora e que autores segues com mais atenção?
Eu disponho da Internet como um canal de comunicação, uma montra digital onde divulgo e partilho o meu trabalho físico, uma extensão do meu atelier. Tenho mantido activos um blog, página pessoal, arquivo e loja online. Enquanto existirem mil mundos de suportes físicos serei fiel às minhas raízes analógicas do papel e da impressão. Não sou um criador de conteúdos para a Internet.
Estou a ler o livro da Ana Matilde Sousa e da Ana Simões, "Einstein, Eddington e o Eclipse", publicado pela Chili Com Carne. Online, estou a ler o webcomic “FORMING”, do Jesse Moynihan, publicado numa página pessoal. Também acompanho o trabalho de vários colegas, como por exemplo o André Pereira que publica banda desenhada regularmente, online no Instagram e, em papel, no jornal a Batalha.
Para além de ilustrador és também escritor. Tens uma clara tendência para narrativas weird e science fantasy. De onde veio esse gosto pelo bizarro e pelo fantástico e quais são as tuas principais referências?
A minha escrita é muito básica e terei pela frente um longo caminho até me considerar um escritor. Tive de estudar técnicas de escrita criativa e guionismo tal como tive de aprender a desenhar e a estudar teoria da arte para fazer banda desenhada, em todos os meus projectos tento aprofundar ou aprender coisas novas para aplicar. As minhas referências literárias na ficção fantástica vão de Mary Shelley a Steven Erikson, são demasiadas para enunciar… De resto, para além de toda a história do conhecimento, arte e cultura humanas também sou influenciado por algum entretenimento e cultura popular como videojogos retro, jogos de tabuleiro e punk rock heavy metal dos anos 70 e 80.
Descreve o teu processo criativo no que toca às ideias e à escrita das tuas estórias? Em termos de worldbuilding, como abordas essa questão?
Pós “Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada”, quando tenho uma ideia, a primeira coisa que faço é descrever a ideia em palavras e, lentamente, dissecar a ideia durante o tempo que for necessário. Se uma ideia sobreviver minimamente à minha filtragem inicial, abro uma entrada definitiva num arquivo de textos onde já se encontram outros títulos imaginários em desenvolvimento. Posteriormente, de acordo com o progresso na construção de cada título provisório, tento escrever um guião completo de onde possa partir para um storyboard e dar início ao desenvolvimento visual. Sou muito desapegado da ideia de world building porque não o faço conscientemente, contudo gostaria de aprender a fazê-lo para aplicar num par de projectos que tenho no fundo da gaveta.
O atelier ABRACADABRA, inaugurado em Agosto de 2017, é, para além do meu espaço de trabalho, um ponto de encontro com os meus leitores, colegas, amigos, familiares, desconhecidos, curiosos e também uma porta aberta para qualquer pessoa que queira visitar uma pequena galeria de ilustração e banda desenhada, não há mais nenhuma em Coimbra. O meu atelier fica num centro comercial típico dos anos 80, agora semi-abandonado, ocupado com escritórios, mas super bem localizado no coração da cidade, em Celas. Sim, adoro receber pessoas e desmistificar o que é a banda desenhada mostrando e falando sobre o assunto.
Tens um estilo peculiar de desenhar e uma forma particular de colorir. Por vezes as tuas vinhetas estão carregadas de informação que convidam o leitor a demorar-se sobre a página para que possa absorver todos os detalhes. Como descreverias o teu estilo gráfico?
Eu gosto muito de outsider art, gosto de olhar para as margens, prefiro as coisas estranhas às coisas familiares, identifico-me com a definição de art brut. Mas, mais do que formas ou estilos, a minha preocupação é conseguir contar uma história que tenha poder de releitura e de divertir o leitor. Não sei ainda se é possível, mas sonho ser capaz de conseguir que cada uma das minhas histórias longas tenham o seu grafismo próprio e que cada texto tenha a sua singularidade.
Um fenómeno interessante que tem vindo a ganhar tração é o da produção de bandas desenhadas para a Internet. Na qualidade de autor que partilha a sua obra online, o que achas deste fenómeno e quais são os webcomics que recomendas? Que bedês andas a ler agora e que autores segues com mais atenção?
Eu disponho da Internet como um canal de comunicação, uma montra digital onde divulgo e partilho o meu trabalho físico, uma extensão do meu atelier. Tenho mantido activos um blog, página pessoal, arquivo e loja online. Enquanto existirem mil mundos de suportes físicos serei fiel às minhas raízes analógicas do papel e da impressão. Não sou um criador de conteúdos para a Internet.
Estou a ler o livro da Ana Matilde Sousa e da Ana Simões, "Einstein, Eddington e o Eclipse", publicado pela Chili Com Carne. Online, estou a ler o webcomic “FORMING”, do Jesse Moynihan, publicado numa página pessoal. Também acompanho o trabalho de vários colegas, como por exemplo o André Pereira que publica banda desenhada regularmente, online no Instagram e, em papel, no jornal a Batalha.
Para além de ilustrador és também escritor. Tens uma clara tendência para narrativas weird e science fantasy. De onde veio esse gosto pelo bizarro e pelo fantástico e quais são as tuas principais referências?
A minha escrita é muito básica e terei pela frente um longo caminho até me considerar um escritor. Tive de estudar técnicas de escrita criativa e guionismo tal como tive de aprender a desenhar e a estudar teoria da arte para fazer banda desenhada, em todos os meus projectos tento aprofundar ou aprender coisas novas para aplicar. As minhas referências literárias na ficção fantástica vão de Mary Shelley a Steven Erikson, são demasiadas para enunciar… De resto, para além de toda a história do conhecimento, arte e cultura humanas também sou influenciado por algum entretenimento e cultura popular como videojogos retro, jogos de tabuleiro e punk rock heavy metal dos anos 70 e 80.
Descreve o teu processo criativo no que toca às ideias e à escrita das tuas estórias? Em termos de worldbuilding, como abordas essa questão?
Pós “Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada”, quando tenho uma ideia, a primeira coisa que faço é descrever a ideia em palavras e, lentamente, dissecar a ideia durante o tempo que for necessário. Se uma ideia sobreviver minimamente à minha filtragem inicial, abro uma entrada definitiva num arquivo de textos onde já se encontram outros títulos imaginários em desenvolvimento. Posteriormente, de acordo com o progresso na construção de cada título provisório, tento escrever um guião completo de onde possa partir para um storyboard e dar início ao desenvolvimento visual. Sou muito desapegado da ideia de world building porque não o faço conscientemente, contudo gostaria de aprender a fazê-lo para aplicar num par de projectos que tenho no fundo da gaveta.
Das várias narrativas que já publicaste qual é a que mais te orgulha? E qual gostarias de ver adaptada para outro medium, como a animação por exemplo?
“M.A.L.” e “RUÍNAS” são os meus títulos favoritos, releio ambos frequentemente e sinto sempre que ultrapassaram as minhas melhores expectativas. Também sinto imenso orgulho em ter conseguido criar “Bottoms Up” porque foi um trabalho que fiz com regras muito restritivas que podiam a qualquer momento falhar e arruinar o projecto por inteiro. O facto de ter sido o meu primeiro livro publicado foi outro pequeno triunfo. Um jogo de plataformas ou RPG de tabuleiro inspirado em “Bottoms Up” seriam duas adaptações de sonho. Estou a fazer uma banda sonora estilo dungeon synth para acompanhar o hipotético livro “Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada”, o que já é uma adaptação de certa forma.
Venceste, em 2020, o prémio Toma Lá 500 Paus e Faz uma BD, da Chili Com Carne. Como decorreu o teu processo criativo para a construção desse álbum? Qual é a ligação do mesmo à narrativa “Cloak and Dagger”?
“Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada” é a sequela espiritual de ”Bottoms Up”, título com o qual partilha o mesmo espaço diegético, a Criptadela – uma cidade ancestral que apesar de ser um cruzamento de civilizações continua parada no tempo e nas trevas à mercê dos caprichos de tiranos e tiranetes enquanto a sua sofisticada população, mantida no limiar da pobreza, sobrevive o melhor que pode. “Bottoms Up” foi executado e publicado (uma página diária) durante cerca de dois meses. O meu processo criativo em “Bottoms Up” foi um bocado caótico e experimental. Inicialmente escrevi uma ideia geral da história e uma sinopse de cada capítulo onde organizei a informação da sequência geral que imaginei para narrativa, depois fui improvisando a história página a página, sem guião nem desenvolvimento visual prévio a não ser traços muito gerais.
O que achas da evolução que a banda desenhada portuguesa teve nos últimos anos e, na tua perspetiva, o que é que se pode fazer melhor no que toca à publicação e promoção do que se faz por cá?
Enquanto autor independente a fazer banda desenhada alternativa em Portugal, sinto que faltam apoios directos, sobretudo financiamento, quer à produção artística, quer apoios à divulgação e promoção de tudo o que está a acontecer e a ser feito na sombra. A banda desenhada, na minha opinião, devia ser uma actividade protegida como são o teatro, a dança, o cinema e outras formas de expressão e práticas artísticas celebradas e apoiadas directamente com financiamento público, ou programas de mecenato, houvera estruturas e plataformas que o permitissem.
A banda desenhada, em Portugal, ainda é tratada como forma de entretenimento e expressão artística menor anexa à literatura, simplesmente não é uma forma de expressão respeitada. Dá um bocado de pena olhar para a forma como a banda desenhada é respeitada e celebrada no mundo anglófono, francófono, nipónico enquanto que por cá ainda temos de explicar o que é a banda desenhada, como há quase 50 anos atrás. Para concluir, que esta conversa já vai longa, penso que devia haver quotas de edição de autores nacionais, tal como há quotas de música portuguesa na rádio, para protecção dos autores locais porque não é justo concorrer com corporações que têm à sua disposição a distribuição em mercados multinacionais.
Obrigado pelo tempo de antena e tudo de bom para vocês e para os vossos leitores!
(Redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1990.)
“M.A.L.” e “RUÍNAS” são os meus títulos favoritos, releio ambos frequentemente e sinto sempre que ultrapassaram as minhas melhores expectativas. Também sinto imenso orgulho em ter conseguido criar “Bottoms Up” porque foi um trabalho que fiz com regras muito restritivas que podiam a qualquer momento falhar e arruinar o projecto por inteiro. O facto de ter sido o meu primeiro livro publicado foi outro pequeno triunfo. Um jogo de plataformas ou RPG de tabuleiro inspirado em “Bottoms Up” seriam duas adaptações de sonho. Estou a fazer uma banda sonora estilo dungeon synth para acompanhar o hipotético livro “Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada”, o que já é uma adaptação de certa forma.
Venceste, em 2020, o prémio Toma Lá 500 Paus e Faz uma BD, da Chili Com Carne. Como decorreu o teu processo criativo para a construção desse álbum? Qual é a ligação do mesmo à narrativa “Cloak and Dagger”?
“Cloak And Dagger”/”De Capa e Espada” é a sequela espiritual de ”Bottoms Up”, título com o qual partilha o mesmo espaço diegético, a Criptadela – uma cidade ancestral que apesar de ser um cruzamento de civilizações continua parada no tempo e nas trevas à mercê dos caprichos de tiranos e tiranetes enquanto a sua sofisticada população, mantida no limiar da pobreza, sobrevive o melhor que pode. “Bottoms Up” foi executado e publicado (uma página diária) durante cerca de dois meses. O meu processo criativo em “Bottoms Up” foi um bocado caótico e experimental. Inicialmente escrevi uma ideia geral da história e uma sinopse de cada capítulo onde organizei a informação da sequência geral que imaginei para narrativa, depois fui improvisando a história página a página, sem guião nem desenvolvimento visual prévio a não ser traços muito gerais.
O que achas da evolução que a banda desenhada portuguesa teve nos últimos anos e, na tua perspetiva, o que é que se pode fazer melhor no que toca à publicação e promoção do que se faz por cá?
Enquanto autor independente a fazer banda desenhada alternativa em Portugal, sinto que faltam apoios directos, sobretudo financiamento, quer à produção artística, quer apoios à divulgação e promoção de tudo o que está a acontecer e a ser feito na sombra. A banda desenhada, na minha opinião, devia ser uma actividade protegida como são o teatro, a dança, o cinema e outras formas de expressão e práticas artísticas celebradas e apoiadas directamente com financiamento público, ou programas de mecenato, houvera estruturas e plataformas que o permitissem.
A banda desenhada, em Portugal, ainda é tratada como forma de entretenimento e expressão artística menor anexa à literatura, simplesmente não é uma forma de expressão respeitada. Dá um bocado de pena olhar para a forma como a banda desenhada é respeitada e celebrada no mundo anglófono, francófono, nipónico enquanto que por cá ainda temos de explicar o que é a banda desenhada, como há quase 50 anos atrás. Para concluir, que esta conversa já vai longa, penso que devia haver quotas de edição de autores nacionais, tal como há quotas de música portuguesa na rádio, para protecção dos autores locais porque não é justo concorrer com corporações que têm à sua disposição a distribuição em mercados multinacionais.
Obrigado pelo tempo de antena e tudo de bom para vocês e para os vossos leitores!
(Redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1990.)
Entrevistador: Marco Fraga Silva
Artigo Web: Sérgio Santos |