RESENHA BD
CoBrA: Operação Goa
06-06-2022
É uma lacuna na nossa memória colectiva, talvez sintomática da má relação que temos com a memória do nosso passado colonial. A história do fim do Estado da Índia, o culminar violento de 450 anos de uma colonização que em si teve também um início violento, não é tema muito abordado na nossa cultura popular. Parece ser relegado para um parágrafo na história, pouco discutido, quando muito de passagem. Nunca percebi bem porquê, se são ainda os laivos da óbvia humilhação de um regime ditatorial que ordenou o combate até à morte dos poucos e mal armados soldados portugueses, uma espécie de final glorioso do império português na Índia, a fazer-se sentir. A óbvia superioridade militar da União Indiana e o bom senso dos responsáveis do território não levaram a este gotterdammerung à portuguesa com sabor a caril, e a história mostra-nos o tratamento injusto dos sobreviventes.
É sobre esses momentos cruciais que este surpreendente livro se foca. Baseia-se em factos reais, e olha para os acontecimentos imediatamente antes da invasão, durante, e depois. Centra-se nas jogadas levadas a cabo por um alto funcionário português, espião capaz de manobrar responsáveis políticos e empresários de vários países. Um espião que reporta diretamente a Salazar, encarregue de atrasar a inevitável queda de Goa, mas que percebe a insanidade da vontade do ditador e opta por colocar os recursos e esforços nas sombras para garantir a libertação dos prisioneiros portugueses após a invasão. E, no caminho, aproveitar a situação para enriquecer um pouco mais, porque nestes mundos sombrios vale tudo, desde que seja discreto.
É uma lacuna na nossa memória colectiva, talvez sintomática da má relação que temos com a memória do nosso passado colonial. A história do fim do Estado da Índia, o culminar violento de 450 anos de uma colonização que em si teve também um início violento, não é tema muito abordado na nossa cultura popular. Parece ser relegado para um parágrafo na história, pouco discutido, quando muito de passagem. Nunca percebi bem porquê, se são ainda os laivos da óbvia humilhação de um regime ditatorial que ordenou o combate até à morte dos poucos e mal armados soldados portugueses, uma espécie de final glorioso do império português na Índia, a fazer-se sentir. A óbvia superioridade militar da União Indiana e o bom senso dos responsáveis do território não levaram a este gotterdammerung à portuguesa com sabor a caril, e a história mostra-nos o tratamento injusto dos sobreviventes.
É sobre esses momentos cruciais que este surpreendente livro se foca. Baseia-se em factos reais, e olha para os acontecimentos imediatamente antes da invasão, durante, e depois. Centra-se nas jogadas levadas a cabo por um alto funcionário português, espião capaz de manobrar responsáveis políticos e empresários de vários países. Um espião que reporta diretamente a Salazar, encarregue de atrasar a inevitável queda de Goa, mas que percebe a insanidade da vontade do ditador e opta por colocar os recursos e esforços nas sombras para garantir a libertação dos prisioneiros portugueses após a invasão. E, no caminho, aproveitar a situação para enriquecer um pouco mais, porque nestes mundos sombrios vale tudo, desde que seja discreto.
Marco Calhorda pega nas várias histórias de um momento histórico que a memória cultural portuguesa teima em fingir esquecer. Entretece numa narrativa de aventura, intriga e facto histórico, criando um retrato convincente da época. Sem tocar muito no final do Estado da Índia, uma vez que o foco são as manobras de bastidores e os jogos de espionagem. Lendo as notas, vejo que este livro foi inspirado pelo achado casual de livros sobre este momento da história num alfarrabista. Excelente achado, que se traduziu numa boa adição ao panorama editorial de 2022.
A ilustração está a cabo de Daniel Maia, que faz um curioso trabalho gráfico. Segue um padrão de realismo com alguma expressividade, num traço marcante a preto e branco que acompanha muito bem a historia. Talvez tenha a ver com o tema, mas o grafismo faz-me recordar o estilo gráfico dos antifos comics de guerra britânicos ao estilo Commando. Não sei se é intencional ou este é o estilo habitual do autor, sei que funciona, criando aquela simbiose texto-imagem que é fundamental na banda desenhada.
Através do ângulo da espionagem, este Operação Goa faz regressar à memória um episódio algo esquecido da história portuguesa do século XX. Um excelente trabalho narrativo, bem acompanhado a nível gráfico, uma das boas propostas de leitura do panorama de banda desenhada portuguesa deste ano.
Artur Coelho
A ilustração está a cabo de Daniel Maia, que faz um curioso trabalho gráfico. Segue um padrão de realismo com alguma expressividade, num traço marcante a preto e branco que acompanha muito bem a historia. Talvez tenha a ver com o tema, mas o grafismo faz-me recordar o estilo gráfico dos antifos comics de guerra britânicos ao estilo Commando. Não sei se é intencional ou este é o estilo habitual do autor, sei que funciona, criando aquela simbiose texto-imagem que é fundamental na banda desenhada.
Através do ângulo da espionagem, este Operação Goa faz regressar à memória um episódio algo esquecido da história portuguesa do século XX. Um excelente trabalho narrativo, bem acompanhado a nível gráfico, uma das boas propostas de leitura do panorama de banda desenhada portuguesa deste ano.
Artur Coelho
CoBrA: Operação Goa
Autores: Marco Calhorda, Daniel Maia.
Editora: Ala dos Livros
Ano de edição: 2022
Páginas: 72 páginas, capa dura
Preço: 16,50€