RESENHA BD
As Viagens de Porto Bomvento: Aventuras Marítimas no Século XVI, de José Ruy
12-08-2020
Num assomo de antiga normalidade, dei por mim a vasculhar as estantes de uma livraria. Algo de banal antigamente, mas que nestes dias pandémicos soa a misto de desporto radical com momento de pura nostalgia. E tive sorte, dei com uma reedição compilada de obras de um autor clássico, e um pouco esquecido, da BD portuguesa.
Autor de uma vasta obra gráfica, José Ruy teve um certo pendor para a reconstituição histórica, sendo nesta vertente que se inserem a sua série de aventuras de Porto Bomvento. Este simpático e piloto de caravelas, capitaneadas pelo amigo João Batávias e armadas pelo armador Dias Gama, vive aventuras passadas nos tempos dos descobrimentos. Essencialmente, uma excelente forma de explorar o filão do imaginário histórico dessa enorme época da história portuguesa. Algo que o autor faz com rigor gráfico e narrativo (cada episódio inclui uma bibliografia quase académica). E consegue fazê-lo de forma fluída, em que a abordagem historicista é um elemento narrativo e não o seu centro. Consegue fugir ao pior defeito que este tipo de livros costuma ter, o excessivo didatismo. Lê-se esta longa série pelo prazer de ler, não pela obrigação de ficar a conhecer a época histórica. Qualquer professor minimamente sensível sabe que aprendizagens impingidas raramente são bem aceites, enquanto que as subjacentes a experiências estéticas agradáveis perduram.
Apesar disto, o lado didático não está longe destas histórias, bem pelo contrário. José Ruy passa para a prancha uma enorme atenção aos detalhes, reconstituindo com aparente facilidade espaços que vão das ruelas do Porto aos afadigados cais mercantis asiáticos de 1500. Vestes, aparelhagem náutica, paisagens, tipos de navios, cidades e locais são reconstituídos com rigor e sem ceder à tentação do exotismo. Estas histórias de Porto Bomvento são, para além de boas histórias, uma aprendizagem sobre o passado, quer da história portuguesa quer da global.
Num assomo de antiga normalidade, dei por mim a vasculhar as estantes de uma livraria. Algo de banal antigamente, mas que nestes dias pandémicos soa a misto de desporto radical com momento de pura nostalgia. E tive sorte, dei com uma reedição compilada de obras de um autor clássico, e um pouco esquecido, da BD portuguesa.
Autor de uma vasta obra gráfica, José Ruy teve um certo pendor para a reconstituição histórica, sendo nesta vertente que se inserem a sua série de aventuras de Porto Bomvento. Este simpático e piloto de caravelas, capitaneadas pelo amigo João Batávias e armadas pelo armador Dias Gama, vive aventuras passadas nos tempos dos descobrimentos. Essencialmente, uma excelente forma de explorar o filão do imaginário histórico dessa enorme época da história portuguesa. Algo que o autor faz com rigor gráfico e narrativo (cada episódio inclui uma bibliografia quase académica). E consegue fazê-lo de forma fluída, em que a abordagem historicista é um elemento narrativo e não o seu centro. Consegue fugir ao pior defeito que este tipo de livros costuma ter, o excessivo didatismo. Lê-se esta longa série pelo prazer de ler, não pela obrigação de ficar a conhecer a época histórica. Qualquer professor minimamente sensível sabe que aprendizagens impingidas raramente são bem aceites, enquanto que as subjacentes a experiências estéticas agradáveis perduram.
Apesar disto, o lado didático não está longe destas histórias, bem pelo contrário. José Ruy passa para a prancha uma enorme atenção aos detalhes, reconstituindo com aparente facilidade espaços que vão das ruelas do Porto aos afadigados cais mercantis asiáticos de 1500. Vestes, aparelhagem náutica, paisagens, tipos de navios, cidades e locais são reconstituídos com rigor e sem ceder à tentação do exotismo. Estas histórias de Porto Bomvento são, para além de boas histórias, uma aprendizagem sobre o passado, quer da história portuguesa quer da global.
Apanhei apenas a segunda edição da ASA que colige os álbuns originais. Nesta, vivemos quatro aventuras cheias de peripécias pelo olhar de Bomvento. Viajamos à Terra Nova em 1502, onde a busca por peles nos mares das terras de Lavrador levam a encontros com as tribos inuit e índios canadianos. Segue-se um périplo pela China, por mares e por terras, e uma viagem a Timor que por desventura quase naufraga no norte da Austrália, fazendo eco dos contatos entre navegadores portugueses e aborígenes antes da descoberta oficial do continente australiano. Termina com uma espécie de história de origem, onde o orfão Bomvento fica a conhecer o seu pai, antigo soldado das conquistas africanas que ficou preso durante décadas dos Mouros, no que é uma excelente desculpa para se recordar a história das expedições militares que capturaram praças e fortificações nas costas marroquinas.
O defeito a apontar à edição é o seu formato. As pranchas originais de álbum de banda desenhada foram reduzidas para caber no formato de livro, e com isso muitos pormenores e boa parte do texto ficaram diminutos, ao ponto de dificultar a leitura. Se com estas reedições poderemos ficar a conhecer uma obra gráfica que não merece ser esquecida e deverá ser difícil de encontrar no seu formato original, o tipo de edição não lhe faz grande justiça. Apesar deste senão, é um apreciável mergulho numa banda desenhada portuguesa que se inspira na história, com rigor e sem pretensões pedagógicas a sobrepor-se ao que é essencial em qualquer obra de ficção, o ser uma boa e divertida leitura.
Artur Coelho
O defeito a apontar à edição é o seu formato. As pranchas originais de álbum de banda desenhada foram reduzidas para caber no formato de livro, e com isso muitos pormenores e boa parte do texto ficaram diminutos, ao ponto de dificultar a leitura. Se com estas reedições poderemos ficar a conhecer uma obra gráfica que não merece ser esquecida e deverá ser difícil de encontrar no seu formato original, o tipo de edição não lhe faz grande justiça. Apesar deste senão, é um apreciável mergulho numa banda desenhada portuguesa que se inspira na história, com rigor e sem pretensões pedagógicas a sobrepor-se ao que é essencial em qualquer obra de ficção, o ser uma boa e divertida leitura.
Artur Coelho
As Viagens de Porto Bomvento 2: Aventuras Marítimas no Século XVI
Autores: José Ruy
Editora: ASA
Ano de edição: 2005
Páginas: 188 páginas, capa dura
Preço: 3€