AS VACAS SAGRADAS
2017-03-13
O mundo "profissional" dos comic books é um labirinto marginal desprovido dos mais elementares aspectos de direitos laborais que consideramos como dados adquiridos em qualquer outro sector do mercado de trabalho. As empresas que se desenvolvem na indústria dos comic books, não cobrem as pessoas que realizam o trabalho que de facto é a base do seu lucro (aqueles que escrevem, desenham, pintam e fazem a legendagem) com coisas tão elementares como a segurança social ou um suporte de recursos humanos. O compadrio, o nepotismo e o assédio, por vezes até sexual, são as regras do jogo.
Ironicamente, os editores e empregados de escritório dessas mesmas empresas, esses sim, tarefeiros, não sofrem esta negligência propositada e são tratados como qualquer outro trabalhador de outro sector "normal". Convém não esquecer que tudo isto é fruto de uma "indústria" que nasceu da lavagem de dinheiro da máfia judia norte-americana nos anos 1930. Não se poderia esperar outra coisa... Uma árvore má não pode dar bons frutos. O mais triste (ou será o mais comic?) desta situação é que quando alguém tem a ousadia de apontar o dedo a estas e outras questões que acabam por estar todas ligadas umas às outras, é rapidamente silenciado ou denegrido, inclusive pelos próprios "profissionais" que deveriam ser os primeiros a reivindicar os seus plenos direitos mas que, fruto da pressão social ou da sua falta de coragem intrínseca, preferem lamber as botas dos senhores que lhes lançam as migalhas que sobram do seu festim. É que ser um profissional dos comics é um privilégio! Com gente assim, não é de admirar que o estado das coisas não mude e até piore...
Entretanto, nesta indústria, como em qualquer outra, promove-se a veneração de vacas sagradas. No fundo, trata-se de uma forma de legitimização deste meio de expressão e de apaziguamento dos seus seguidores. É uma espécie de culto que tem como sacerdotes os especialistas, a crítica e os fazedores de opinião (académicos, repórteres, bloggers, etc) e, como assembleia de crentes, os leitores, colecionadores e fanáticos. Existem dois tipos de vacas sagradas nos comics: as "ideias" e os "autores".
O mundo "profissional" dos comic books é um labirinto marginal desprovido dos mais elementares aspectos de direitos laborais que consideramos como dados adquiridos em qualquer outro sector do mercado de trabalho. As empresas que se desenvolvem na indústria dos comic books, não cobrem as pessoas que realizam o trabalho que de facto é a base do seu lucro (aqueles que escrevem, desenham, pintam e fazem a legendagem) com coisas tão elementares como a segurança social ou um suporte de recursos humanos. O compadrio, o nepotismo e o assédio, por vezes até sexual, são as regras do jogo.
Ironicamente, os editores e empregados de escritório dessas mesmas empresas, esses sim, tarefeiros, não sofrem esta negligência propositada e são tratados como qualquer outro trabalhador de outro sector "normal". Convém não esquecer que tudo isto é fruto de uma "indústria" que nasceu da lavagem de dinheiro da máfia judia norte-americana nos anos 1930. Não se poderia esperar outra coisa... Uma árvore má não pode dar bons frutos. O mais triste (ou será o mais comic?) desta situação é que quando alguém tem a ousadia de apontar o dedo a estas e outras questões que acabam por estar todas ligadas umas às outras, é rapidamente silenciado ou denegrido, inclusive pelos próprios "profissionais" que deveriam ser os primeiros a reivindicar os seus plenos direitos mas que, fruto da pressão social ou da sua falta de coragem intrínseca, preferem lamber as botas dos senhores que lhes lançam as migalhas que sobram do seu festim. É que ser um profissional dos comics é um privilégio! Com gente assim, não é de admirar que o estado das coisas não mude e até piore...
Entretanto, nesta indústria, como em qualquer outra, promove-se a veneração de vacas sagradas. No fundo, trata-se de uma forma de legitimização deste meio de expressão e de apaziguamento dos seus seguidores. É uma espécie de culto que tem como sacerdotes os especialistas, a crítica e os fazedores de opinião (académicos, repórteres, bloggers, etc) e, como assembleia de crentes, os leitores, colecionadores e fanáticos. Existem dois tipos de vacas sagradas nos comics: as "ideias" e os "autores".
No que respeita às "ideias", estas consistem em teorias avançadas por autores, especialistas ou fazedores de opinião que são inicialmente divulgadas e promovidas como verdades eternas e inquestionáveis. Uma das mais famosas é o show, don't tell, ou seja, a ideia de que os comics para funcionarem bem devem evitar comunicar por palavras aquilo que pode ser mostrado por imagens. Outra ideia popular é a de que para que os comics sejam "sérios" devem abdicar de recursos como onomatopeias, balões de pensamento, legendas ou emanatas. Enfim, a verdade é que não existe nada que prove cabalmente isto. Os comics não são uma ciência. Tratam-se apenas de dogmas que cada "autor" ou "escola" inclui, ou não, na sua "caixa de ferramentas". Ou que, pelo menos, deveria ter a liberdade de poder fazê-lo. Muitas vezes, são os editores que impõem como é que se faz...
Em última análise, existem diferentes maneiras de fazer BD/HQ/comics e nenhuma é necessariamente melhor do que as outras. Exemplo disso é a forma como sucessivas gerações vão pondo de lado recursos anteriormente populares. Veja-se o How to Draw Comics The Marvel Way de Stan Lee e John Buscema. Vejam-se os livros didáticos de Will Eisner como Comics and Sequential Arts ou Graphic Storytelling and Visual Narrative. No final do século passado, eram a "vaca sagrada". Hoje, já ninguém lhes liga. Com Eisner a sete palmos abaixo do solo, os cartoonistas mais hip do meio norte-americano já não têm que lhe lamber as botas e alguns até demonstram um profundo desprezo pelo trabalho do pai do Spirit e pelas suas graphic novels, cada vez mais rotuladas de chatas. Nos últimos tempos , o guru do dia, no que diz respeito às ideias sobre os comics tem sido Scott McCloud. Mas a julgar pela receptividade dos "especialistas" à sua mais recente graphic novel, cheira-me que já viu melhores dias e que está a começar a perder o seu estado de graça. Mais para frente, outros virão e repete-se o ciclo.
O outro tipo de vaca sagrada ( que no fundo tem relação com o anterior ) é o do autor, leia-se "O Eleito". Alguns autores são apresentados como os ungidos. São uma espécie de "Neo" da série de filmes Matrix, para usar um exemplo que a garotada entenda. Nada do que estes eleitos façam está errado. São "os bons". Estas vacas sagradas são apresentadas aos consumidores e aspirantes a profissionais como o ne plus ultra. Nada do que fazem pode ser questionado porque sim. Infelizmente, numa era onde a falta de pensamento crítico prolifera,não se pode esperar muito mais... Estes são os poucos que conseguem os direitos e as vantagens excepcionais que, regra geral, não existem na indústria, como escrevi no início.
Por cá, neste cantinho à beira-mar plantado, mesmo com as óbvias diferenças de escala, tacanhez e lucros, passa-se o mesmo e utilizam-se epítetos como "aclamado" ou "reconhecido" para quem é lido, na melhor das hipóteses, por umas poucas centenas de pessoas, mas escusar-me-ei a nomear quem quer que seja, não venham por aí os aldeões com tochas e forquilhas em busca de quem linchar.
Por cá, neste cantinho à beira-mar plantado, mesmo com as óbvias diferenças de escala, tacanhez e lucros, passa-se o mesmo e utilizam-se epítetos como "aclamado" ou "reconhecido" para quem é lido, na melhor das hipóteses, por umas poucas centenas de pessoas, mas escusar-me-ei a nomear quem quer que seja, não venham por aí os aldeões com tochas e forquilhas em busca de quem linchar.
Entretanto, no mainstream norte-americano, a qualidade sacra das vacas é efémera. Dada a natureza eminentemente ultracapitalista e criptofascista desse meio, com a ideia da The Next Big Thing a presidir as mentalidades editoriais, as vacas têm sempre os dias contados. Assim que deixam de dar leitinho em quantidade suficiente para todos os que mamam à sua conta, são substituídas rapidamente por outras com tetas mais cheias, suculentas e tenrinhas. Principalmente se forem desenhadores, que têm uma rotatividade muitíssimo superior à dos escritores. No actual contexto, o paradigma pende mais no sentido dos escritores serem os media darlings, por razões que o Desenhador Fantasma já explorou anteriormente.
Algumas das vaquinhas eleitas do momento? Robert Kirkman, Brian K. Vaughan, Ed Brubaker, Jason Aaron... Escritores, num meio de expressão VISUAL.
- O Desenhador Fantasma