RESENHA BD
Apocryphus Vol. 4: Sci-Fi, editado por Miguel Jorge
04-11-2019
Recordo que quando vi a capa da primeira Apocryphus, dedicada à Fantasia, a coisa não me pareceu muito prometedora. Mais uma daquelas edições tipo fan fiction cheia de espadas possantes, e heróis de peito descoberto a salvar damas seminuas das garras de malévolos feiticeiros. Ou qualquer coisa do género, com dragões. Quando a abri, a má impressão dissipou-se. A revista surpreendeu-me pela aposta cuidada na qualidade. Entre a narrativa e o grafismo, sem esquecer a própria fisicalidade da edição.
A primeira Apocryphus surpreendeu pela qualidade e maturidade das suas histórias. Artistas de traço experiente juntavam-se a argumentistas talentosos, com um nítido esforço para que as suas contribuições fossem boa banda desenhada. É esse o grande mérito da revista, a aposta independente no melhor que os nossos artistas de banda desenhada conseguem fazer.
Esta continuidade de grande qualidade não se perdeu nas edições seguintes, uma dedicada ao crime, e outra ao poder da mulher. Aliás, evoluiu a todos os níveis. Estava em falta uma dedicada em exclusivo à Ficção Científica, lacuna que ficou preenchida com este quarto número. Se bem que é mais que justo observar que desde o primeiro número que a Apocryphus inclui histórias dentro deste género, apenas não o fazia como tema de desenvolvimento.
Recordo que quando vi a capa da primeira Apocryphus, dedicada à Fantasia, a coisa não me pareceu muito prometedora. Mais uma daquelas edições tipo fan fiction cheia de espadas possantes, e heróis de peito descoberto a salvar damas seminuas das garras de malévolos feiticeiros. Ou qualquer coisa do género, com dragões. Quando a abri, a má impressão dissipou-se. A revista surpreendeu-me pela aposta cuidada na qualidade. Entre a narrativa e o grafismo, sem esquecer a própria fisicalidade da edição.
A primeira Apocryphus surpreendeu pela qualidade e maturidade das suas histórias. Artistas de traço experiente juntavam-se a argumentistas talentosos, com um nítido esforço para que as suas contribuições fossem boa banda desenhada. É esse o grande mérito da revista, a aposta independente no melhor que os nossos artistas de banda desenhada conseguem fazer.
Esta continuidade de grande qualidade não se perdeu nas edições seguintes, uma dedicada ao crime, e outra ao poder da mulher. Aliás, evoluiu a todos os níveis. Estava em falta uma dedicada em exclusivo à Ficção Científica, lacuna que ficou preenchida com este quarto número. Se bem que é mais que justo observar que desde o primeiro número que a Apocryphus inclui histórias dentro deste género, apenas não o fazia como tema de desenvolvimento.
Neste quarto volume dedicado à Ficção Científica, o destaque gráfico é dado ao portfólio de Filipe Augusto, um jovem ilustrador e concept-artist cujo estilo visual se enquadra na iconografia mais mainstream do fantástico. Seguem-se as histórias, com Espaço Negativo de Fernando Lucas a abrir a antologia. Esta é uma história de ficção científica com toques de terror muito bem conseguida, nos níveis gráficos e narrativo Nos espaços confinados de uma nave de exploração, um astronauta combate sombras que lhe desligam progressivamente a nave, sem saber que está perdido num universo paralelo inverso ao nosso, onde os breves momentos lá se traduzem em décadas cá.
Segue-se Relatividade, por Keith Cunningham, Miguel Jorge, Jacky Filipe: Uma história tocante, onde um astronauta regressado de uma missão de longa duração relativística enfrenta o mundo futuro, e a ideia de que aqueles que conheceu e amou já faleceram. Ou talvez não, quando recebe a notícia que a mulher por quem se apaixonou nos últimos meses antes de sair da Terra se voluntariou para outra missão de longa duração, com regresso previsto para alguns anos após a primeira. O amor e as exigências da teoria da relatividade, nesta eficaz história.
Suspeito de um leve toque biográfico em Guerra das Flores, por Rogério Ribeiro e Aires Melo, uma história onde o Vale de Santarém é o palco de um ritual milenar, uma batalha ritualista onde se defrontam os grandes impérios da Terra - os Masai e os Aztecas. Batalha que terá um final inesperado, quando um dos guerreiros decide seguir um caminho diferente. Uma história de recorte épico, com uma ilustração subordinada a uma paleta de cores ocre. Segue-se Plano B-123, por André Mateus e Jorge Coelho, onde o traço sempre fantástico do ilustrador dá vida a uma história bem conseguida, de forte ironia, em que o clone de um cientista acorda para ser incumbido de uma missão muito especial, apenas para descobrir que não é o único clone em ação.
Em Silencioso na Escuridão, Bruno Soares e Filipe Coelho adaptam de forma fiel do início de A Guerra da Escuridão, o divertido romance de Bruno Soares. Fica a saber a pouco, mesmo que já se conheça toda a história, e talvez seja uma experiência para voos maiores dentro deste universo ficcional. Segue-.se o O Alien em Nós, por Sofia Freire e Diana Andrade. O traço da ilustradora Diana Andrade faz esta história, que sofre por ter um argumento algo banal. Essencialmente, uma história sobre o (bocejos) mal que a humanidade faz a si própria e ao universo. Outra menos bem conseguida é Arena, de Nuno Jorge e Paulo Montes. Confesso que tive alguma dificuldade em perceber esta história. Começa por ser generalista, criando um mundo ficcional em que a humanidade deixa de dormir, graças a uma medicação miraculosa. O futuro torna-se radioso, a humanidade espalha-se pelas estrelas, mas há um lado negativo. A necessidade de sono não foi totalmente erradicada, e é preciso usar regularmente uma máquina para regenerar o cérebro. Quem não as usa arrisca-se a alucinações e demência. Que, talvez, seja o que vive a personagem desta história, que por ser introduzida de forma abrupta, não nos consegue conquistar.
A Apcryphus encerra com duas histórias muito fortes. Primeiro, Está-lhes no Sangue, por Carlos Silva e Gabriela Torres. Daquele que é um dos mais promissores autores de ficção científica da nova geração espera sempre algo interessante, e a sua história de uma FC poética, entre os nossos presentes e futuros, não desilude. A ilustração a puxar ao surrealismo sublinha o onirismo da história. Em Silêncio, de Pedro Cipriano e Daniel Lopes, o espaço profundo é o palco de uma elaborada e mortífera vingança, da parte de um homem controlador que foi deixado pela sua companheira. A história tem um ritmo implacável e conduz o leitor de tal forma que o final é inesperado.
Aposta na qualidade estética, edição cuidada, um enorme respeito pelo trabalho dos autores. Ao longo dos anos, Miguel Jorge tem mostrado a maturidade deste projeto, que enriquece o panorama da banda desenhada nacional. Depois de saborear, com um gostinho especial, a dedicada à ficção científica, resta aguardar pela próxima. Sabendo sempre, à partida e independentemente do tema, que será uma excelente leitura.
Artur Coelho
Segue-se Relatividade, por Keith Cunningham, Miguel Jorge, Jacky Filipe: Uma história tocante, onde um astronauta regressado de uma missão de longa duração relativística enfrenta o mundo futuro, e a ideia de que aqueles que conheceu e amou já faleceram. Ou talvez não, quando recebe a notícia que a mulher por quem se apaixonou nos últimos meses antes de sair da Terra se voluntariou para outra missão de longa duração, com regresso previsto para alguns anos após a primeira. O amor e as exigências da teoria da relatividade, nesta eficaz história.
Suspeito de um leve toque biográfico em Guerra das Flores, por Rogério Ribeiro e Aires Melo, uma história onde o Vale de Santarém é o palco de um ritual milenar, uma batalha ritualista onde se defrontam os grandes impérios da Terra - os Masai e os Aztecas. Batalha que terá um final inesperado, quando um dos guerreiros decide seguir um caminho diferente. Uma história de recorte épico, com uma ilustração subordinada a uma paleta de cores ocre. Segue-se Plano B-123, por André Mateus e Jorge Coelho, onde o traço sempre fantástico do ilustrador dá vida a uma história bem conseguida, de forte ironia, em que o clone de um cientista acorda para ser incumbido de uma missão muito especial, apenas para descobrir que não é o único clone em ação.
Em Silencioso na Escuridão, Bruno Soares e Filipe Coelho adaptam de forma fiel do início de A Guerra da Escuridão, o divertido romance de Bruno Soares. Fica a saber a pouco, mesmo que já se conheça toda a história, e talvez seja uma experiência para voos maiores dentro deste universo ficcional. Segue-.se o O Alien em Nós, por Sofia Freire e Diana Andrade. O traço da ilustradora Diana Andrade faz esta história, que sofre por ter um argumento algo banal. Essencialmente, uma história sobre o (bocejos) mal que a humanidade faz a si própria e ao universo. Outra menos bem conseguida é Arena, de Nuno Jorge e Paulo Montes. Confesso que tive alguma dificuldade em perceber esta história. Começa por ser generalista, criando um mundo ficcional em que a humanidade deixa de dormir, graças a uma medicação miraculosa. O futuro torna-se radioso, a humanidade espalha-se pelas estrelas, mas há um lado negativo. A necessidade de sono não foi totalmente erradicada, e é preciso usar regularmente uma máquina para regenerar o cérebro. Quem não as usa arrisca-se a alucinações e demência. Que, talvez, seja o que vive a personagem desta história, que por ser introduzida de forma abrupta, não nos consegue conquistar.
A Apcryphus encerra com duas histórias muito fortes. Primeiro, Está-lhes no Sangue, por Carlos Silva e Gabriela Torres. Daquele que é um dos mais promissores autores de ficção científica da nova geração espera sempre algo interessante, e a sua história de uma FC poética, entre os nossos presentes e futuros, não desilude. A ilustração a puxar ao surrealismo sublinha o onirismo da história. Em Silêncio, de Pedro Cipriano e Daniel Lopes, o espaço profundo é o palco de uma elaborada e mortífera vingança, da parte de um homem controlador que foi deixado pela sua companheira. A história tem um ritmo implacável e conduz o leitor de tal forma que o final é inesperado.
Aposta na qualidade estética, edição cuidada, um enorme respeito pelo trabalho dos autores. Ao longo dos anos, Miguel Jorge tem mostrado a maturidade deste projeto, que enriquece o panorama da banda desenhada nacional. Depois de saborear, com um gostinho especial, a dedicada à ficção científica, resta aguardar pela próxima. Sabendo sempre, à partida e independentemente do tema, que será uma excelente leitura.
Artur Coelho
Apcryphus, Vol. 4: Sci-Fi
Autores: Fernando Lucas, Miguel Jorge, Keith Cunningham, Rogério Ribeiro, Aires Melo, André Mateus, Jorge Coelho, Bruno Martins Soares, Filipe Coelho, Sofia Freire , Diana Andrade, Nuno Amaral Jorge, Paulo Montes, Carlos Silva, Gabriela Torres, Pedro Cipriano, Daniel da Silva Lopes.
Editora: MigHell Publishing
Ano de edição: 2019
Páginas: 119 páginas, capa mole
Preço: 14,00€