ENTREVISTA EXCLUSIVA COM PETRA ERIKA NORDLUND
07-03-2022
Petra Erika Nordlund é uma banda desenhista e ilustradora finlandesa reconhecida pelo seu webcomic “Tiger, Tiger”. Petra estudou design gráfico na Universidade da Lapónia, BD na escola de artes Liminka e animação em Metropolia.
+info: https://leppu.tumblr.com
Petra Erika Nordlund é uma banda desenhista e ilustradora finlandesa reconhecida pelo seu webcomic “Tiger, Tiger”. Petra estudou design gráfico na Universidade da Lapónia, BD na escola de artes Liminka e animação em Metropolia.
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ENTREVISTA
Qual é a tua primeira memória de ler banda desenhada?
Provavelmente os livros do Pato Donald! Quase todos os finlandeses dos anos 90 eram assinantes da revista. Não importava o quão falidos os meus pais estivessem, eles continuaram a comprar para nos dar algo divertido a nós crianças. As melhores estórias foram, naturalmente, as grandiosas aventuras de Barks e Don Rosa.
Estudaste design gráfico na Universidade da Lapónia, BD na Liminka School of Arts e animação na Metropolia University of Applied Sciences. Sempre quiseste estudar artes visuais desde jovem? Como foi que descobriste que a bedê é um bom meio para contar as tuas estórias?
Eu sinto que foi o mais fácil para mim, inscrever-me em cursos de artes. Originalmente, eu estava interessada em arqueologia, veterinária, biologia, história e coisas assim. Mas estava preocupada que as minhas notas não fossem boas o suficiente, então inscrevi-me em escolas de arte porque eu achava que pelo menos sabia desenhar! Fui a muitas escolas diferentes, até perceber que ilustração e design não eram o meu interesse principal e que contar estórias era minha paixão. Eu tinha lido banda desenhada toda a minha vida por isso aconteceu de forma natural!
Planeias voltar à universidade para estudar ou ensinar?
Banda desenhada requer muito do meu tempo, por isso não tenho a capacidade de voltar para a escola, embora isso me atraia. Espero continuar a estudar em cursos universitários abertos, acompanhar o mundo da ciência e da política e encontrar inspiração para estórias! Eu também gostaria de ensinar BD no futuro, mas para isso acontecer sinto que preciso de um pouco mais de maturidade e conhecimento para estar pronta para ensinar.
Qual foi o teu processo criativo ao construir o mundo de “Tiger, Tiger”? Como fizeste a tua pesquisa? Preferes o processo de worldbuilding ou o processo de storytelling?
Os dois andam de mãos dadas para mim, não sei dizer qual é melhor. À medida que construo o mundo, a estória vem com ele. Quando penso em temas que quero explorar, a construção do mundo é afetada pela estória que quero contar. E, à medida que construo o mundo, penso em mais histórias e, à medida que escrevo a estória, construo o mundo! Não consigo separar os dois processos na minha mente. A melhor forma de pesquisar é lendo livros. Quando leio livros de navegação ou mitologia a minha imaginação agarra esses conceitos e rapidamente cria cenários possíveis.
Gostas de escrever? Como é que escreves os teus guiões? Usas o formato de guião para BD ou o formato de cinema?
Para mim, escrever é a melhor parte de fazer BD! A parte mais fácil é ter ideias e a parte difícil é decidir o que manter na estória. Quanto ao guião, escrevo apenas o diálogo e adiciono alguns parágrafos descritivos da cena.
Como é que fazes o storyboard e o layout das tuas páginas? Qual é o teu processo criativo do início ao fim quando fazes uma página? Usas apenas ferramentas digitais ou é um processo híbrido?
O meu processo muda muito dependendo da situação. Às vezes faço thumbnails, às vezes estou com pressa e apenas esboço diretamente no papel, às vezes nem esboço e desenho as linhas finais de uma vez. Eu uso um lápis para desenhar a BD e adiciono os tons de cinza usando o Procreate.
Percebe-se que gostas de desenhar roupas requintadas e de época. És afinal uma designer de moda? Quais foram as coisas mais difíceis que tiveste de desenhar em “Tiger, Tiger”? Como é que classificas o teu estilo de desenho? mangá europeu?
Não sou boa a desenhar roupas! É horrível! Sinto que não entendo os tecidos e que não entendo como as roupas são feitas. A primeira detenção que tive na escola foi porque eu era muito má em costura... a parte mais difícil de desenhar é definitivamente todos os tecidos e todas as roupas. Não sei por que decidi desenhar um drama de época... o meu estilo de desenho é fortemente inspirado no mangá e na arte do Barbucci, por isso acho que mangá europeu é uma boa maneira de descrevê-lo!
Quais foram os temas, ideias e conceitos narrativos que mais te interessaram ao desenvolver o mundo de “Tiger, Tiger”? Como e porque é que decidiste contar essa estória em particular (no género da fantasia) e quais foram as tuas principais referências narrativas (de qualquer media)?
Estava muito interessada em escrever sobre relacionamentos muito pessoais entre deuses e pessoas. O enorme desequilíbrio de poder e afins. As minhas maiores inspirações vieram da trilogia Liveship Traders de Robin Hobb. O filme “A Múmia” dos anos noventa também foi muito inspirador para mim, a comédia de terror misturada com aventura.
Em 2019 foste nomeada para os prémios Eisner na categoria webcomics. Uma nomeação prestigiante e bem merecida. Notaste um crescimento no número de leitores de “Tiger, Tiger” devido à nomeação?
Eu não sigo quantos leitores tenho por isso não faço ideia! Sinto que os prémios Eisner são mais seguidos por profissionais de BD por isso, talvez, e como resultado disso, mais ilustradores de BD e profissionais encontraram “Tiger, Tiger”.
Os dois andam de mãos dadas para mim, não sei dizer qual é melhor. À medida que construo o mundo, a estória vem com ele. Quando penso em temas que quero explorar, a construção do mundo é afetada pela estória que quero contar. E, à medida que construo o mundo, penso em mais histórias e, à medida que escrevo a estória, construo o mundo! Não consigo separar os dois processos na minha mente. A melhor forma de pesquisar é lendo livros. Quando leio livros de navegação ou mitologia a minha imaginação agarra esses conceitos e rapidamente cria cenários possíveis.
Gostas de escrever? Como é que escreves os teus guiões? Usas o formato de guião para BD ou o formato de cinema?
Para mim, escrever é a melhor parte de fazer BD! A parte mais fácil é ter ideias e a parte difícil é decidir o que manter na estória. Quanto ao guião, escrevo apenas o diálogo e adiciono alguns parágrafos descritivos da cena.
Como é que fazes o storyboard e o layout das tuas páginas? Qual é o teu processo criativo do início ao fim quando fazes uma página? Usas apenas ferramentas digitais ou é um processo híbrido?
O meu processo muda muito dependendo da situação. Às vezes faço thumbnails, às vezes estou com pressa e apenas esboço diretamente no papel, às vezes nem esboço e desenho as linhas finais de uma vez. Eu uso um lápis para desenhar a BD e adiciono os tons de cinza usando o Procreate.
Percebe-se que gostas de desenhar roupas requintadas e de época. És afinal uma designer de moda? Quais foram as coisas mais difíceis que tiveste de desenhar em “Tiger, Tiger”? Como é que classificas o teu estilo de desenho? mangá europeu?
Não sou boa a desenhar roupas! É horrível! Sinto que não entendo os tecidos e que não entendo como as roupas são feitas. A primeira detenção que tive na escola foi porque eu era muito má em costura... a parte mais difícil de desenhar é definitivamente todos os tecidos e todas as roupas. Não sei por que decidi desenhar um drama de época... o meu estilo de desenho é fortemente inspirado no mangá e na arte do Barbucci, por isso acho que mangá europeu é uma boa maneira de descrevê-lo!
Quais foram os temas, ideias e conceitos narrativos que mais te interessaram ao desenvolver o mundo de “Tiger, Tiger”? Como e porque é que decidiste contar essa estória em particular (no género da fantasia) e quais foram as tuas principais referências narrativas (de qualquer media)?
Estava muito interessada em escrever sobre relacionamentos muito pessoais entre deuses e pessoas. O enorme desequilíbrio de poder e afins. As minhas maiores inspirações vieram da trilogia Liveship Traders de Robin Hobb. O filme “A Múmia” dos anos noventa também foi muito inspirador para mim, a comédia de terror misturada com aventura.
Em 2019 foste nomeada para os prémios Eisner na categoria webcomics. Uma nomeação prestigiante e bem merecida. Notaste um crescimento no número de leitores de “Tiger, Tiger” devido à nomeação?
Eu não sigo quantos leitores tenho por isso não faço ideia! Sinto que os prémios Eisner são mais seguidos por profissionais de BD por isso, talvez, e como resultado disso, mais ilustradores de BD e profissionais encontraram “Tiger, Tiger”.
Também estudaste animação. Estás a planear adaptar o webcomic “Tiger, Tiger” para esse meio audiovisual quando terminares a estória? Já pensaste em desenvolver um franchise transmedia com o mundo ficcional que criaste?
No máximo, gostaria de escrever contos com o elenco de “Tiger, Tiger” depois de terminar a estória principal. Eu tenho muitas ideias, por isso, quando “Tiger, Tiger” terminar, estou muito ansiosa para começar a próxima BD! Se “Tiger, Tiger” fosse adaptado para alguma coisa, eu adoraria que fosse uma produção de teatro ao ar livre com um orçamento minúsculo, acho que seria tão fofo!
Porque todas as coisas chegam ao fim: quando planeias terminar a estória e qual é o teu próximo projeto? Podes levantar o véu (homenagem ao designer de moda que há em ti) e dar-nos alguma informação sobre isso?
Estou a meio de “Tiger, Tiger” neste momento e estou a desenhar há quatro anos. Provavelmente levará três ou dois anos para terminar a estória. A próxima bedê será ainda mais fantástica porque quero desenhar mais criaturas e mais ação! Vai ser minha maior estória até agora, e já contratei coloristas e tudo para que me possa concentrar apenas em desenhar a BD. Vai ser muito grande, e estou a inspirar-me muito no género shounen e seinen do mangá – estou a tentar o meu melhor para torná-la uma grande aventura no estilo “One Piece” e “Fullmetal Alchemist”!
Em 2019 foste entrevistada para o site Multiversity Comics. Quando te pediram recomendações de webcomics, partilhaste os seguintes títulos: “Heir's Game”, “Kill Six Billion Demons”, “Lavender Jack”, “Califata”, “Obelisk”, “Novae”, “Gunnerkrigg Court”, e tudo feito por Der Shing Helmer. Gostarias de adicionar mais alguns webcomics que tenhas lido desde aquela entrevista? Devido à pandemia, suponho que tenhas mais algumas recomendações.
Na verdade, tenho lido mais livros! A trilogia Broken Earth de N. K. Jemisin tem sido alucinante, por isso definitivamente recomendo a sua leitura! Também estou atualizando os meus antigos webcomics favoritos, o “Archipelago” tem sido uma leitura divertida! Foi muito difícil encontrá-lo em todos os sítios em que foi postado ao longo dos anos, no Smackjeeves, Waybackmachine e Deviantart... mas valeu a pena! É ótimo ver colegas terminarem as bedês que começaram há décadas.
Onde é que as pessoas podem encontrar mais informação sobre o teu trabalho e ler e comprar as tuas estórias?
“Tiger, Tiger”, o livro um, estará em breve em pré-venda no site da Hiveworks, e mais tarde, nas livrarias, impresso pela Seven Seas! Eu também adoraria que traduções oficiais fossem feitas, por isso fica atento! Por agora todos podem ler a narrativa apenas em inglês no site oficial, tigertigercomic.com.
Porque é que escolheste o formato webcomic e a publicação online e não a estratégia tradicional de publicação impressa?
Antes, eu colocava BD online porque era fácil e eu não tinha conhecimentos sobre a indústria editorial. Mas quanto mais eu faço assim, mais apelativo é para mim, porque pessoas de todo o mundo podem ler as minhas estórias de graça, desde que tenham acesso à Internet. A melhor parte dos webcomics é, definitivamente, a facilidade em alcançar tantas pessoas!
Entrevistador: Marco Fraga Silva
Artigo Web: Sérgio Santos |