ENTREVISTA EXCLUSIVA COM LUCA VANZELLA
14-08-2022
O autor e ilustrador italiano Luca Vanzella. Nasceu em 1978, em Conegliano, uma cidade na região de Veneto. Mudou-se para Bolonha para estudar comunicação e ainda reside lá. Escreve banda desenhada desde 2003, quando fundou o selo de autopublicação Self Comics. Escreveu muitos livros, desde biografias a sagas mecha, até histórias de amor de realismo mágico e personagens serializados, mais notavelmente o personagem Dylan Dog. Luca Vanzella é professor de guionismo em duas escolas particulares de BD.
Para mais informações sobre Luca Vanzella e o seu trabalho, visite os seguintes sites:
www.instagram.com/aleagio
www.facebook.com/aleagio
www.instagram.com/codex_inversus
https://lucavanzella.medium.com
www.reddit.com/r/codexinversus
Veja o vídeo “As Criaturas do Codex Inversus” no link: https://youtu.be/v--v-vcjzWk
O autor e ilustrador italiano Luca Vanzella. Nasceu em 1978, em Conegliano, uma cidade na região de Veneto. Mudou-se para Bolonha para estudar comunicação e ainda reside lá. Escreve banda desenhada desde 2003, quando fundou o selo de autopublicação Self Comics. Escreveu muitos livros, desde biografias a sagas mecha, até histórias de amor de realismo mágico e personagens serializados, mais notavelmente o personagem Dylan Dog. Luca Vanzella é professor de guionismo em duas escolas particulares de BD.
Para mais informações sobre Luca Vanzella e o seu trabalho, visite os seguintes sites:
www.instagram.com/aleagio
www.facebook.com/aleagio
www.instagram.com/codex_inversus
https://lucavanzella.medium.com
www.reddit.com/r/codexinversus
Veja o vídeo “As Criaturas do Codex Inversus” no link: https://youtu.be/v--v-vcjzWk
A Entrevista
Começaste a escrever banda desenhada em 2003. O que fez passares de leitor para escritor de bedê? O que pensas sobre o meio e sua importância hoje em dia?
Eu sempre gostei de banda desenhada e sempre quis fazer de uma forma ou de outra. A certa altura percebi que seguir o caminho do desenho seria muito frustrante e concentrei-me na escrita. BD é o melhor meio, na minha opinião: densa e complexa, mas imediata e ‘espetacular’. Mesmo quando escrevo prosa sinto a necessidade de algumas imagens a acompanhar, como se o texto por si só não bastasse.
Tens publicado vários livros, incluindo BD. Que estilo de escrita e género preferes?
Eu gosto de tudo com um toque de estranheza; talvez seja uma abordagem de realismo mágico para uma história de amor ou apenas o surrealismo intrínseco do género robôs gigantes [mecha]. Acho que o verdadeiro interesse é o inusitado e o romance: gosto de estradas menos percorridas pois essas podem ser surpreendentes e peculiares.
Escreveste para um personagem muito querido – Dylan Dog ; como foi a experiência e que lições tiraste desse projeto?
Eu gosto do Dylan Dog pois tem um estilo onírico que combina bem com minhas sensibilidades. O verdadeiro desafio é 'pegar' no próprio Dylan: os leitores são zelosos do seu amado personagem e avisam-te disso se tu o 'maltratares'. Aprendi (e ainda estou a aprender) a misturar as nossas idiossincrasias numa história bem definida e como ser tu mesmo e invisível ao mesmo tempo.
Na qualidade de professor de guionismo em duas escolas de banda desenhada, tens contato com a geração mais jovem de futuros autores de bedê. Quais são as suas principais preocupações e desafios?
Paradoxalmente, o grande número de estórias que os mais jovens têm ao seu alcance não está aumentando, mas sim, estreitando os seus horizontes. Se alguém gosta de anime e mangá, pode passar o dia todo vendo/lendo-os, pois existem muitos online. O mesmo com BD de super-heróis ou coisas europeias. E o mesmo vale para os géneros: podes aceder a toneladas de conteúdo de fantasia (o mesmo para noir ou ficção científica). Isso torna o jovem autor propenso a cair em clichés que não vê como tal; para eles, é apenas como as estórias são. Felizmente as escolas de escrita ajudam muito nessa frente, pois os alunos têm a oportunidade de se envolverem com os professores e entre si e enriquecer os seus pontos de vista.
O que achas da importância da academia e dos comics studies na produção de BD e na pesquisa sobre BD?
Sempre agradecerei as aulas de semiótica que fiz na universidade: conhecer os meandros de uma linguagem (e na construção de sentidos, em geral) é um trunfo incrível. É uma pena que a BD não tenha sido examinada como o cinema ou a literatura.
Para pessoas não familiarizadas com o teu projeto de worldbuilding especulativo intitulado “Codex Inversus”, podes resumir sobre o que trata? Por que o começaste e que tipo de mundo é esse?
O mundo do Codex Inversus é um mundo onde todas as coisas estranhas e maravilhas, normalmente confinadas a outras dimensões, estão no mundo material: podes caminhar de um pedaço do Inferno para um pedaço do Fogo Elemental. A própria magia é como outra força da natureza e a natureza explora-a: se neste mundo alguns pássaros usam campos magnéticos para navegar, no mundo do Codex eles usam emoções. Sobre isso surgiram muitos outros temas: ao contrário de muitos mundos de fantasia, não há deuses e a fé é um salto: estamos na fase inicial de uma revolução científico-mágica; alguns conflitos cósmicos tornam-se políticos, etc. Mas, provavelmente, o ponto de partida foi a arte: eu estava a brincar com colagens digitais de pinturas renascentistas, e algumas pareciam encaixar-se num mundo de fantasia, então comecei a escrever sobre isso e depois a fazer a arte, encaixando as novas ideias que surgiam na escrita, e assim por diante.
Paradoxalmente, o grande número de estórias que os mais jovens têm ao seu alcance não está aumentando, mas sim, estreitando os seus horizontes. Se alguém gosta de anime e mangá, pode passar o dia todo vendo/lendo-os, pois existem muitos online. O mesmo com BD de super-heróis ou coisas europeias. E o mesmo vale para os géneros: podes aceder a toneladas de conteúdo de fantasia (o mesmo para noir ou ficção científica). Isso torna o jovem autor propenso a cair em clichés que não vê como tal; para eles, é apenas como as estórias são. Felizmente as escolas de escrita ajudam muito nessa frente, pois os alunos têm a oportunidade de se envolverem com os professores e entre si e enriquecer os seus pontos de vista.
O que achas da importância da academia e dos comics studies na produção de BD e na pesquisa sobre BD?
Sempre agradecerei as aulas de semiótica que fiz na universidade: conhecer os meandros de uma linguagem (e na construção de sentidos, em geral) é um trunfo incrível. É uma pena que a BD não tenha sido examinada como o cinema ou a literatura.
Para pessoas não familiarizadas com o teu projeto de worldbuilding especulativo intitulado “Codex Inversus”, podes resumir sobre o que trata? Por que o começaste e que tipo de mundo é esse?
O mundo do Codex Inversus é um mundo onde todas as coisas estranhas e maravilhas, normalmente confinadas a outras dimensões, estão no mundo material: podes caminhar de um pedaço do Inferno para um pedaço do Fogo Elemental. A própria magia é como outra força da natureza e a natureza explora-a: se neste mundo alguns pássaros usam campos magnéticos para navegar, no mundo do Codex eles usam emoções. Sobre isso surgiram muitos outros temas: ao contrário de muitos mundos de fantasia, não há deuses e a fé é um salto: estamos na fase inicial de uma revolução científico-mágica; alguns conflitos cósmicos tornam-se políticos, etc. Mas, provavelmente, o ponto de partida foi a arte: eu estava a brincar com colagens digitais de pinturas renascentistas, e algumas pareciam encaixar-se num mundo de fantasia, então comecei a escrever sobre isso e depois a fazer a arte, encaixando as novas ideias que surgiam na escrita, e assim por diante.
Existem algumas criaturas estranhas e muito criativas no “Codex Inversus”. Qual é a tua favorita e explica o processo criativo quando tu a abordaste?
Os meus animais favoritos são, provavelmente, os das duas ‘séries’ mais longas: os insetos lançadores de feitiços e os pássaros-presságios. A ideia era partir de uma lista, como a escola de magia do clássico D&D, ou os vícios, e depois encontrar uma maneira de usar o cenário para comunicar o conceito. Então, que animal usaria a ilusão e como? A camuflagem defensiva era óbvia, por isso optei pelo padrão de manchas oculares que algumas borboletas têm. Esses olhos falsos devem evocar a ideia de um predador para dissuadir outros predadores, então por que não fazer a borboleta criar toda uma ilusão à volta disso? Ou como poderia um pássaro usar a habilidade de sentir orgulho? Talvez existam pássaros procurando o alfa de um grupo para proteção extra e para ganhar status indireto.
Os conceitos de worldbuilding, ficção especulativa e transmedia storytelling estão profundamente interligados; é um desafio definir e falar sobre um sem mencionar os outros. Se pudesses definir worldbuilding – com base na tua experiência pessoal – como abordarias tal tarefa?
Geralmente worldbuilding é uma forma suplementar de escrita, um meio para um fim, o de concretizar uma narrativa. Nesse sentido, a estória deve vir em primeiro lugar, e deve-se ser humilde o suficiente para mostrar o contexto apenas quando necessário. Por exemplo, tenho páginas sobre como funciona o motor de fusão a frio dos robôs gigantes, mas se não houver um motivo na estória para destacá-lo, então deve permanecer na gaveta. As exceções são livros de arte onde as ilustrações estão todas ligadas por um contexto de worldbuilding, mais ou menos completo e claro, como “Dinotopia” ou “Codex Sepraphinus”. É um pequeno nicho. Mas acho que houve um desenvolvimento interessante: graças aos jogos, a construção de mundos ficcionais pode ter a oportunidade de brilhar quase por conta própria. O conceito de 'lore', como no lore de um videojogo, tornou-se um tanto popular e um objeto de interesse e revisão.
Os meus animais favoritos são, provavelmente, os das duas ‘séries’ mais longas: os insetos lançadores de feitiços e os pássaros-presságios. A ideia era partir de uma lista, como a escola de magia do clássico D&D, ou os vícios, e depois encontrar uma maneira de usar o cenário para comunicar o conceito. Então, que animal usaria a ilusão e como? A camuflagem defensiva era óbvia, por isso optei pelo padrão de manchas oculares que algumas borboletas têm. Esses olhos falsos devem evocar a ideia de um predador para dissuadir outros predadores, então por que não fazer a borboleta criar toda uma ilusão à volta disso? Ou como poderia um pássaro usar a habilidade de sentir orgulho? Talvez existam pássaros procurando o alfa de um grupo para proteção extra e para ganhar status indireto.
Os conceitos de worldbuilding, ficção especulativa e transmedia storytelling estão profundamente interligados; é um desafio definir e falar sobre um sem mencionar os outros. Se pudesses definir worldbuilding – com base na tua experiência pessoal – como abordarias tal tarefa?
Geralmente worldbuilding é uma forma suplementar de escrita, um meio para um fim, o de concretizar uma narrativa. Nesse sentido, a estória deve vir em primeiro lugar, e deve-se ser humilde o suficiente para mostrar o contexto apenas quando necessário. Por exemplo, tenho páginas sobre como funciona o motor de fusão a frio dos robôs gigantes, mas se não houver um motivo na estória para destacá-lo, então deve permanecer na gaveta. As exceções são livros de arte onde as ilustrações estão todas ligadas por um contexto de worldbuilding, mais ou menos completo e claro, como “Dinotopia” ou “Codex Sepraphinus”. É um pequeno nicho. Mas acho que houve um desenvolvimento interessante: graças aos jogos, a construção de mundos ficcionais pode ter a oportunidade de brilhar quase por conta própria. O conceito de 'lore', como no lore de um videojogo, tornou-se um tanto popular e um objeto de interesse e revisão.
Quais são os teus projetos e autores preferidos de worldbuilding?
Um dos mais interessantes, tanto pela ideia original quanto pelos detalhes em que entra, e pelo facto de que é uma espécie de construção de mundo 'pura' é o Parque Nacional Flesh Pit (www.reddit.com/r/FleshPitNationalPark) .
Pensaste no “Codex Inversus” como um possível RPG. Ainda imaginas adaptar o mundo da estória que criaste para outros meios?
Bem, como eu escrevo BD, um álbum ambientado no mundo do Codex será inevitável, é uma questão de 'quando' e não 'se'.
Podemos esperar uma versão impressa do “Codex Inversus” no futuro?
Sim! Já decidi o quão abrangente irá ser! Com toda a probabilidade será um projeto autopublicado/Kickstarter, por isso tenho de pensar como geri-lo, pois estará tudo sobre os meus ombros.
Um dos mais interessantes, tanto pela ideia original quanto pelos detalhes em que entra, e pelo facto de que é uma espécie de construção de mundo 'pura' é o Parque Nacional Flesh Pit (www.reddit.com/r/FleshPitNationalPark) .
Pensaste no “Codex Inversus” como um possível RPG. Ainda imaginas adaptar o mundo da estória que criaste para outros meios?
Bem, como eu escrevo BD, um álbum ambientado no mundo do Codex será inevitável, é uma questão de 'quando' e não 'se'.
Podemos esperar uma versão impressa do “Codex Inversus” no futuro?
Sim! Já decidi o quão abrangente irá ser! Com toda a probabilidade será um projeto autopublicado/Kickstarter, por isso tenho de pensar como geri-lo, pois estará tudo sobre os meus ombros.
Entrevistador: Marco Fraga Silva
Artigo Web: Sérgio Santos |