ENTREVISTA EXCLUSIVA COM ROB MUERTO
20-11-2022
Conhecido como Rob Muerto no mundo da banda desenhada, este autor português vem do mundo do cinema e da produção. Depois de duas campanhas de crowdfunding bem-sucedidas, publicou dois livros de BD no universo ficcional que criou e intitulou de Tales From the Classroom.
+info:
www.instagram.com/rob_muerto www.youtube.com/channel/UCrfuyzNVvG4JZ2f4TQLViYA/videos
Conhecido como Rob Muerto no mundo da banda desenhada, este autor português vem do mundo do cinema e da produção. Depois de duas campanhas de crowdfunding bem-sucedidas, publicou dois livros de BD no universo ficcional que criou e intitulou de Tales From the Classroom.
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A Entrevista
Estiveste envolvido em vários projetos cinema. Fala-nos um pouco do teu percurso profissional e diz-nos qual foi a experiência mais enriquecedora?
Vivi 8 anos em Los Angeles e, enquanto estive, lá abri um development fund em parceria com uma produtora conhecida na indústria. O nosso trabalho consistia em contratar escritores para produzirem guiões baseados em propriedades intelectuais existentes (cujos direitos nós detínhamos), ajudá-los a moldar esses guiões e, depois, quando concluídos, encontrar talento (realizadores ou actores) para juntar aos guiões; e, finalmente, quando formado o package (guião+talento), vendê-los aos estúdios. Paralelamente a este processo, tirei um curso de scriptwriting, sendo a escrita um dos meus maiores interesses. Foi durante esse curso que eu escrevi um guião que na altura se chamava Monster High, mas que eventualmente viria a se tornar no Tales from the Classroom devido ao facto da MATTEL ter, entretanto, lançado uma propriedade com o mesmo nome.
A certa altura transitas para o meio da banda desenhada como argumentista. Como é que chegas à conclusão de que a banda desenhada é o medium ideal para te expressares e contares as tuas estórias?
Os guiões de filmes são por norma extremamente económicos com a linguagem descritiva, os diálogos sendo o foco principal. O mundo de Tales From the Classroom é bastante complexo a nível visual, com imensas espécies e subespécies de monstros (vampiros, zombies, lobisomens, etc...), cada um com as suas características. Aliás, são tantos que, no contexto de um guião para cinema, acabaram por criar alguma incompatibilidade; passava mais tempo a descrevê-los que a fazer o que realmente interessava: ação e diálogos. O medium da BD presta-se muito mais a que um criador de um universo fictício possa transmitir a sua visão ao detalhe e de forma precisa do que um guião de cinema. Ao contrário deste último, a comunicação de guiões de BD é de escritor para artista; um guião de cinema é concebido com a ideia de passar por várias mãos.
O universo ficcional que criaste – Tales From the Classroom –, habitado por todo o tipo de monstros (inspirados em mitos e lendas, na cultura popular e filmes/livros de horror), surgiu quando e como? Que estórias e referências mais te influenciaram na criação deste storyworld e como foi o processo de worldbuilding?
O guião no qual Tales from the Classroom se inspira foi escrito na altura em que o fenómeno da série de filmes Twilight estava ao rubro. Tanto esse fenómeno como o do Harry Potter (que na altura também estava no seu ápice) transcendiam-me; mas ao mesmo tempo fascinavam-me porque não conseguia perceber o porquê de serem tão populares, de terem uma ressonância tão grande com as massas. Após ruminar o assunto, teorizei que a fórmula de sucesso que ambos os franchises partilhavam seria o de uma premissa fantástica num setting de liceu. Ou seja, espremendo o conceito de ambos os franchises ao mais sucinto, um trata-se de vampiros e lobisomens no liceu, e o outro de feiticeiros no liceu. Foi a partir daí que as sementes para o Tales from the Classroom foram plantadas.
Os dois livros publicados neste universo ficcional são projetos colaborativos com vários artistas e foram publicados depois de campanhas crowdfunding bem- sucedidas. Preferes a liberdade que a publicação independente te dá e o processo de criar as campanhas para a Internet ou estás a pensar encontrar uma editora no futuro? E já agora: para quando uma edição portuguesa com as narrativas dos dois livros?
Estou a pensar encontrar uma editora, sempre foi esse o objetivo. Mas achei que a melhor maneira de o fazer seria primeiro tentar através do self-publishing. Acho que agora com estes três livros – Tales from the Classroom, Tales from the Classroom: The K.Thulhu Files, e Tales from the Classroom 2 – já tenho mais que material suficiente para as publicadoras determinarem se apreciam este universo ou não. Em relação a uma versão portuguesa – acho a ideia muito interessante, claro, mas seria para mim um desafio, já que não me sinto totalmente confortável a expressar-me em português (embora seja a minha primeira língua).
O segundo volume, cuja campanha foi efetuada em 2021, teve direito a booktrailer animado em 3D e outras sequências animadas retiradas diretamente das páginas do livro. No fundo juntaste as tuas duas áreas de interesse neste trailer – o cinema e a banda desenhada. Fala-nos um pouco sobre o processo de criar este vídeo promocional e a sua importância na campanha de financiamento colaborativo no Indiegogo.
Na verdade, pouco ou nada tive a ver com a criação do trailer, que é da autoria de um senhor extremamente talentoso chamado Bronson Gorilla. Fizemos amizade através do Twitter e ele propôs-se a elaborar o trailer para mim...de graça! Por acaso o trailer tem uma cena do livro que eu pessoalmente não teria incluído – porque entra em território de spoilers –, mas nem lhe disse nada. Não queria criticar um trabalho tão incrível, feito com tanta paixão e dedicação: ele gastou horas e horas a renderizar K. Thulhu High, a escola que é a localização principal de Tales from the Classroom.
Na qualidade de argumentista para banda desenhada qual foi o teu maior desafio e como o ultrapassaste? Para quando o próximo volume de Tales From the Classroom (já estás a escrever)?
O Tales from the Classroom 2 já foi escrito há tempos e está praticamente pronto. Estamos na fase do lettering neste momento. E a campanha era para ser lançada em em Outubro – para coincidir com o Halloween – mas não deu.
Estou a pensar encontrar uma editora, sempre foi esse o objetivo. Mas achei que a melhor maneira de o fazer seria primeiro tentar através do self-publishing. Acho que agora com estes três livros – Tales from the Classroom, Tales from the Classroom: The K.Thulhu Files, e Tales from the Classroom 2 – já tenho mais que material suficiente para as publicadoras determinarem se apreciam este universo ou não. Em relação a uma versão portuguesa – acho a ideia muito interessante, claro, mas seria para mim um desafio, já que não me sinto totalmente confortável a expressar-me em português (embora seja a minha primeira língua).
O segundo volume, cuja campanha foi efetuada em 2021, teve direito a booktrailer animado em 3D e outras sequências animadas retiradas diretamente das páginas do livro. No fundo juntaste as tuas duas áreas de interesse neste trailer – o cinema e a banda desenhada. Fala-nos um pouco sobre o processo de criar este vídeo promocional e a sua importância na campanha de financiamento colaborativo no Indiegogo.
Na verdade, pouco ou nada tive a ver com a criação do trailer, que é da autoria de um senhor extremamente talentoso chamado Bronson Gorilla. Fizemos amizade através do Twitter e ele propôs-se a elaborar o trailer para mim...de graça! Por acaso o trailer tem uma cena do livro que eu pessoalmente não teria incluído – porque entra em território de spoilers –, mas nem lhe disse nada. Não queria criticar um trabalho tão incrível, feito com tanta paixão e dedicação: ele gastou horas e horas a renderizar K. Thulhu High, a escola que é a localização principal de Tales from the Classroom.
Na qualidade de argumentista para banda desenhada qual foi o teu maior desafio e como o ultrapassaste? Para quando o próximo volume de Tales From the Classroom (já estás a escrever)?
O Tales from the Classroom 2 já foi escrito há tempos e está praticamente pronto. Estamos na fase do lettering neste momento. E a campanha era para ser lançada em em Outubro – para coincidir com o Halloween – mas não deu.
Em termos de processo de trabalho e comunicação com os ilustradores: tens uma metodologia criativa específica ou trabalhas de diferentes formas com diferentes ilustradores?
Depende muito do ilustrador, da minha evolução como escritor, ou até da minha própria disposição na altura em que estou a escrever. Por exemplo, o meu primeiro guião tinha descrições que nunca mais acabavam, tipo Alan Moore. Às vezes preenchia metade de uma página a descrever um só painel. Hoje em dia sou muito mais económico com a escrita – por um lado porque o universo do Tales já está mais ou menos cimentado e, por outro lado, porque estou convencido que se tem de tentar dar o máximo de liberdade criativa aos ilustradores, já que o instinto deles, como qualquer artista que se preze, é rebelarem-se contra direções demasiado restritivas.
Há algum ilustrador de BD português com quem gostasses de colaborar numa estória para o Tales From the Classroom?
Adorava colaborar com o Filipe Andrade! Também gosto muito do André Lima Araújo, embora o seu estilo, que puxa mais para o lado manga, talvez não tenha o encaixe mais natural para o Tales.
A adaptação para cinema ou série televisão deste universo ficcional que criaste e desenvolveste é um objetivo? E videojogos? Criar um franchise transmedia storytelling é um objetivo futuro?
Absolutamente. Julgo que o Tales tem um grande potencial transmediático, e foi concebido exactamente nesses moldes (tanto que originalmente foi um guião de cinema).
Que bandas desenhadas andas a ler agora e que autores segues com mais atenção? Costumas ler webcomics ou BD digital ou o material impresso é o que mais te interessa? Lês mais horror ou gostas de vários géneros?
Já não leio muita banda desenhada moderna, e a que leio ou é indie ou clássica (70’s e 80’s, Marvel & DC). Fui um leitor voraz de BD durante anos, mas o meu entusiasmo pelos Big Two desvaneceu, por várias razões. Estou neste momento a ler, e a gostar bastante, do Batman: Earth One, do Geoff Johns & Gary Frank, que é recente, e da DC, mas é uma exceção à regra. Outros livros que me deixaram boa impressão recentemente foi o Post-Americana do Steven Skroce, o Undiscovered Country do Scott Snyder, e o Geiger do Geoff Johns – que, por coincidência, passam-se todos em cenários pós-apocalípticos.
Em termos de cinema: que filmes viste nos últimos dois/três anos que te marcaram mais?
Gostei muito do The Witch, o Midsommar, e o Parasite.
Entrevistador: Marco Fraga Silva
Artigo Web: Sérgio Santos |