ENTREVISTA EXCLUSIVA COM CARLOS PÁSCOA
25-03-2024
“Nasceu em Beja em 1977. Publicou as suas primeiras Bandas Desenhadas a partir de 1996, quando começou a frequentar o atelier Toupeira. A partir daí, nunca mais parou. Participou em várias exposições e foi publicado em numerosas coletâneas de BD, tanto do atelier Toupeira (Venham+5, Lua de Prata, Pax-Fanzine) bem como no coletivo Zona (Zona Nippon, Zona Desenha 2012, Zona Negra II), e mais recentemente na antologia "Humanus" da Escorpião Azul. Em Lisboa, completou o curso de Arquitetura de Gestão Urbanística da FAUTL em 2008. Trabalhou em arquitetura, urbanismo e marketing até 2013, ano em que se mudou para Londres, onde viria a trabalhar até 2017 como designer gráfico. No mesmo ano, em 2013, conheceu David Lloyd, coautor de "V For Vendetta" e "Hellblazer" e começou a publicar BD na sua antologia semanal Aces Weekly, onde, aliás, continua a publicar regularmente. Em 2017 regressou a Beja. Vive e trabalha atualmente como freelancer e autor de BD.” (texto retirado do website Wook)
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www.facebook.com/cpascoacomics
https://cpascoa.com
“Nasceu em Beja em 1977. Publicou as suas primeiras Bandas Desenhadas a partir de 1996, quando começou a frequentar o atelier Toupeira. A partir daí, nunca mais parou. Participou em várias exposições e foi publicado em numerosas coletâneas de BD, tanto do atelier Toupeira (Venham+5, Lua de Prata, Pax-Fanzine) bem como no coletivo Zona (Zona Nippon, Zona Desenha 2012, Zona Negra II), e mais recentemente na antologia "Humanus" da Escorpião Azul. Em Lisboa, completou o curso de Arquitetura de Gestão Urbanística da FAUTL em 2008. Trabalhou em arquitetura, urbanismo e marketing até 2013, ano em que se mudou para Londres, onde viria a trabalhar até 2017 como designer gráfico. No mesmo ano, em 2013, conheceu David Lloyd, coautor de "V For Vendetta" e "Hellblazer" e começou a publicar BD na sua antologia semanal Aces Weekly, onde, aliás, continua a publicar regularmente. Em 2017 regressou a Beja. Vive e trabalha atualmente como freelancer e autor de BD.” (texto retirado do website Wook)
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A Entrevista
Recordas-te do primeiro livro de BD que leste ou compraste?
Do primeiro livro que li, não, a minha irmã (5 anos mais velha que eu) já tinha uma coleção razoável de revistas do Tio Patinhas e da Turma da Mónica, pelo que, antes de saber ler ou escrever, já estava familiarizado com elas. Só comecei a comprar BD regularmente quando descobri os X-Men, devia ter 12 ou 13 anos.
Por que razão o medium da BD é o ideal para expressares as tuas ideias? Em que género narrativo te sentes mais confortável?
O fator mais importante talvez tenha sido o de ser introvertido. Enquanto criança, sentia sérias dificuldades em falar com os outros, em expressar-me de forma verbal, e isso contribuía para que não me conseguisse integrar com os meus colegas de turma (coisa que durou até aos meus 17 anos). Eu simplesmente contava histórias a mim próprio, pondo-me nos pés de alguém que eventualmente ouviria essas histórias. Geralmente fazia desenhos soltos, nem sempre relacionados com essas histórias que criava, e desenhava mais as coisas que via na televisão (Star Wars, Star Trek, etc. – e talvez por isso me sinta mais confortável na Ficção Científica, mas não sei explicar ao certo se é mesmo por isso). Foi só quando ingressei no Atelier de Banda Desenhada e Ilustração da Casa da Cultura de Beja (que na altura ainda não se chamava Toupeira) é que comecei a integrar os desenhos com as histórias no sentido de produzir BD. O desenho, para mim era um escape, uma forma de comunicar com os outros, de transmitir as ideias que não conseguia verbalizar, uma forma de me libertar do stress constante que resultava da introversão, e de ter de conviver diariamente com os meus colegas de escola, com os quais não me dava bem, de todo.
Como descreverias o teu estilo gráfico? Quais são as tuas principais influências?
Não sei, europeu com mistura de mangá, mas talvez os leitores saibam definir melhor do que eu... O que é certo, é que as minhas grandes influências na BD sempre foram o François Schuiten com as Cidades Obscuras, e o Masamune Shirow com o Orion, o Tank Police e o Ghost in the Shell. Depois disso surgiram outras influências, mas estas sempre foram as principais.
Em relação ao teu processo criativo: como argumentista e ilustrador como desenvolves as tuas estórias nas fases da pré-produção e produção? Que ferramentas utilizas? Preferes escrever as estórias ou desenhar as pranchas?
Não tenho um processo definido, vou-me adaptando às ideias que tenho. Geralmente, o meu processo para trabalhos mais longos envolve pensar a fundo na história, ter cenas impactantes, diálogos que abordem os temas e as ideias que pretendo transmitir, e ‘unir os pontos’, por assim dizer. Umas vezes faço esboços prévios das pranchas, outras vezes faço os desenhos completos com os pretos e monto como me dá mais jeito, e outras vezes escrevo primeiro o texto e distribuo-o pelas pranchas, depende...
Qual a importância do worldbuilding nas tuas narrativas gráficas?
Cada mundo é como um personagem, com a sua personalidade, os seus trejeitos, as suas manias, e por aí fora. E os personagens que vivem nestes mundos têm simplesmente de se adaptar. A minha ideia é que os meus personagens, para além de terem de se relacionar entre eles, tenham de se relacionar também com o mundo à sua volta.
Dos projetos que desenvolveste publicados em álbum, fanzines e coletâneas qual achas que melhor te representa como autor de banda desenhada e porquê?
Não sei dizer. Todos os meus projetos me representam de alguma forma na altura em que os fiz.
Gostarias de ver as tuas bedês serem adaptadas para outros meios como jogos, teatro, cinema ou televisão? Qual das tuas bandas desenhadas sentes que tem maior potencial para ser adaptada para outro meio?
Não, porque não acho que tenham qualidade suficiente para enveredar por aí. Se têm e alguém estiver interessado, pois que me contactem.
Que projeto andas a desenvolver neste momento e que novidades podes dar em termos de publicações futuras?
Prefiro não responder. Não gosto de criar expectativas relativas a projetos que depois acabem por não se concretizar.
Não tenho um processo definido, vou-me adaptando às ideias que tenho. Geralmente, o meu processo para trabalhos mais longos envolve pensar a fundo na história, ter cenas impactantes, diálogos que abordem os temas e as ideias que pretendo transmitir, e ‘unir os pontos’, por assim dizer. Umas vezes faço esboços prévios das pranchas, outras vezes faço os desenhos completos com os pretos e monto como me dá mais jeito, e outras vezes escrevo primeiro o texto e distribuo-o pelas pranchas, depende...
Qual a importância do worldbuilding nas tuas narrativas gráficas?
Cada mundo é como um personagem, com a sua personalidade, os seus trejeitos, as suas manias, e por aí fora. E os personagens que vivem nestes mundos têm simplesmente de se adaptar. A minha ideia é que os meus personagens, para além de terem de se relacionar entre eles, tenham de se relacionar também com o mundo à sua volta.
Dos projetos que desenvolveste publicados em álbum, fanzines e coletâneas qual achas que melhor te representa como autor de banda desenhada e porquê?
Não sei dizer. Todos os meus projetos me representam de alguma forma na altura em que os fiz.
Gostarias de ver as tuas bedês serem adaptadas para outros meios como jogos, teatro, cinema ou televisão? Qual das tuas bandas desenhadas sentes que tem maior potencial para ser adaptada para outro meio?
Não, porque não acho que tenham qualidade suficiente para enveredar por aí. Se têm e alguém estiver interessado, pois que me contactem.
Que projeto andas a desenvolver neste momento e que novidades podes dar em termos de publicações futuras?
Prefiro não responder. Não gosto de criar expectativas relativas a projetos que depois acabem por não se concretizar.
O que achas do crescimento da banda desenhada portuguesa nos últimos anos e, na tua perspetiva, o que é que se pode fazer para melhorar a situação atual?
Acho sempre que é positivo, e acho que há sempre coisas a melhorar, mas acho que o interesse das pessoas pela banda desenhada também deriva do contacto que têm com as obras, e o quão marcantes são para cada um. O que me parece que talvez se pudesse fazer é aumentar a gama de BD direcionada aos públicos mais jovens, e aumentar o contacto entre eles e as obras. Como se faz em França, por exemplo. Ou mesmo como se tem feito com as obras do Maurício de Souza, expandir o universo da Turma da Mónica, os seus personagens e os seus temas para abranger um leque mais amplo de idades, por exemplo.
Em termos do ensino da BD e da utilização da BD no ensino (e.g. Geografia, História) o que achas que poderia ser feito para que a nona arte tivesse uma presença mais robusta em Portugal?
Não sei, não faço ideia. Até que ponto precisa de o ser? Pelo menos ser equiparável a outras ‘artes’? Não conheço os programas de ensino para saber responder a isso, mas do que posso dizer relativamente à minha experiência no Secundário, é que um professor de Artes não pode desprezar a BD nem desprezar os alunos que gostam de BD. Tive professores de Artes que afirmavam que “BD não é arte”, ou “BD é só para crianças”, ou que “a única BD de jeito que existe é o Astérix”.
Costumas visitar algum dos festivais de BD organizados em Portugal? O que gostas mais de ver ou fazer quando vais a um festival de BD?
Às vezes. Conviver com amigos e outros autores.
Em termos de banda desenhada de autores portuguesa quais consideras serem de leitura obrigatória?
Tudo o que seja do Véte. Especialmente o Homem-Polvo.
Acho sempre que é positivo, e acho que há sempre coisas a melhorar, mas acho que o interesse das pessoas pela banda desenhada também deriva do contacto que têm com as obras, e o quão marcantes são para cada um. O que me parece que talvez se pudesse fazer é aumentar a gama de BD direcionada aos públicos mais jovens, e aumentar o contacto entre eles e as obras. Como se faz em França, por exemplo. Ou mesmo como se tem feito com as obras do Maurício de Souza, expandir o universo da Turma da Mónica, os seus personagens e os seus temas para abranger um leque mais amplo de idades, por exemplo.
Em termos do ensino da BD e da utilização da BD no ensino (e.g. Geografia, História) o que achas que poderia ser feito para que a nona arte tivesse uma presença mais robusta em Portugal?
Não sei, não faço ideia. Até que ponto precisa de o ser? Pelo menos ser equiparável a outras ‘artes’? Não conheço os programas de ensino para saber responder a isso, mas do que posso dizer relativamente à minha experiência no Secundário, é que um professor de Artes não pode desprezar a BD nem desprezar os alunos que gostam de BD. Tive professores de Artes que afirmavam que “BD não é arte”, ou “BD é só para crianças”, ou que “a única BD de jeito que existe é o Astérix”.
Costumas visitar algum dos festivais de BD organizados em Portugal? O que gostas mais de ver ou fazer quando vais a um festival de BD?
Às vezes. Conviver com amigos e outros autores.
Em termos de banda desenhada de autores portuguesa quais consideras serem de leitura obrigatória?
Tudo o que seja do Véte. Especialmente o Homem-Polvo.
Na tua opinião, que álbuns portugueses sem publicação no estrangeiro deveriam ser traduzidos e publicados noutros países?
Tudo o que seja do Véte. É realmente fantástico!
Que bedês andas a ler agora e que autores segues com mais atenção?
O Véte, mas não tem feito nada de novo, o estupor. Na verdade, ando a seguir o Void Rivals – escrito pelo Robert Kirkman – o Banana Sioule, do Michaël Sanlaville, e o Last Man, dele e do Vivès.
A BD digital e os webcomics têm vindo a ganhar leitores nos últimos anos. Lês banda desenhada online? O que achas deste fenómeno?
Eu vejo o fenómeno da BD em formato digital como sendo o resultado da adaptação e do uso dos utilizadores dos dispositivos móveis, mais nestes últimos do que propriamente num computador portátil ou num de mesa. É que, se a procura existe, a oferta certamente aparece. Acho verdadeiramente interessante o formato para Webtoon, pois permite, não só que o leitor vá seguindo a história verticalmente, mas também a utilização de soluções narrativas diferentes daquilo a que estamos habituados. E não é só isso, o formato digital permite que o criador chegue diretamente ao leitor, sem passar pelo distribuidor nem pelo impressor. E essa é a principal parte da filosofia da Aces Weekly. Mas também acho que devia haver soluções que permitissem que o formato digital passasse para formato físico. Uma plataforma exclusivamente online tem os seus conteúdos fora do controlo do utilizador pelo que estará sempre sujeito à vontade do seu proprietário, e da ocasional interrupção no fornecimento de energia elétrica. Os conteúdos exclusivamente online correm o risco, não só de desaparecer, como também de serem propositadamente modificados ou mesmo bloqueados.
A inteligência artificial é um fenómeno recente, mas tem vindo a transformar processos criativos e como se produz ilustração e BD. Quais as vantagens e desvantagens, na tua opinião, desta nova forma de trabalhar?
Ui! Pano para mangas. No geral partilho as mesmas opiniões e as mesmas preocupações que os meus colegas de ofício. Pode ser uma ferramenta que, por um lado pode facilitar muito o trabalho de um autor, mas por outro, tem o potencial para substituí-lo completamente. Já não falo do desenvolvimento galopante da tecnologia, que faz com que a realidade de hoje seja completamente ultrapassada amanhã, e nem das questões legais relativas aos direitos de autor, que é outro poço sem fundo...
Tudo o que seja do Véte. É realmente fantástico!
Que bedês andas a ler agora e que autores segues com mais atenção?
O Véte, mas não tem feito nada de novo, o estupor. Na verdade, ando a seguir o Void Rivals – escrito pelo Robert Kirkman – o Banana Sioule, do Michaël Sanlaville, e o Last Man, dele e do Vivès.
A BD digital e os webcomics têm vindo a ganhar leitores nos últimos anos. Lês banda desenhada online? O que achas deste fenómeno?
Eu vejo o fenómeno da BD em formato digital como sendo o resultado da adaptação e do uso dos utilizadores dos dispositivos móveis, mais nestes últimos do que propriamente num computador portátil ou num de mesa. É que, se a procura existe, a oferta certamente aparece. Acho verdadeiramente interessante o formato para Webtoon, pois permite, não só que o leitor vá seguindo a história verticalmente, mas também a utilização de soluções narrativas diferentes daquilo a que estamos habituados. E não é só isso, o formato digital permite que o criador chegue diretamente ao leitor, sem passar pelo distribuidor nem pelo impressor. E essa é a principal parte da filosofia da Aces Weekly. Mas também acho que devia haver soluções que permitissem que o formato digital passasse para formato físico. Uma plataforma exclusivamente online tem os seus conteúdos fora do controlo do utilizador pelo que estará sempre sujeito à vontade do seu proprietário, e da ocasional interrupção no fornecimento de energia elétrica. Os conteúdos exclusivamente online correm o risco, não só de desaparecer, como também de serem propositadamente modificados ou mesmo bloqueados.
A inteligência artificial é um fenómeno recente, mas tem vindo a transformar processos criativos e como se produz ilustração e BD. Quais as vantagens e desvantagens, na tua opinião, desta nova forma de trabalhar?
Ui! Pano para mangas. No geral partilho as mesmas opiniões e as mesmas preocupações que os meus colegas de ofício. Pode ser uma ferramenta que, por um lado pode facilitar muito o trabalho de um autor, mas por outro, tem o potencial para substituí-lo completamente. Já não falo do desenvolvimento galopante da tecnologia, que faz com que a realidade de hoje seja completamente ultrapassada amanhã, e nem das questões legais relativas aos direitos de autor, que é outro poço sem fundo...
Entrevistador: Marco Fraga Silva
Artigo Web: Sérgio Santos |