ENTREVISTA EXCLUSIVA COM ANA VARELA
19-12-2022
Ana Varela é uma designer e ilustradora portuguesa com formação nas Belas-Artes de Lisboa que tem vindo a desenvolver trabalho nas áreas de design de comunicação, desenho, ilustração para livros, banda desenhada e animação.
+info:
www.instagram.com/anavarelaart
www.linkedin.com/in/anapmvarela
https://anavarelaart.com
www.facebook.com/anavarelaart
Ana Varela é uma designer e ilustradora portuguesa com formação nas Belas-Artes de Lisboa que tem vindo a desenvolver trabalho nas áreas de design de comunicação, desenho, ilustração para livros, banda desenhada e animação.
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A Entrevista
Na qualidade de leitora e de espectadora, como é que chegas ao mundo da banda desenhada, da ilustração e da animação? Recordas-te de alguns livros, filmes e séries que te tenham marcado?
Foi uma chegada difícil e demorada. Aos livros sempre tive acesso, e foram o meu primeiro e grande amor - lia tudo o que me vinha parar às mãos, quer gostasse, quer odiasse. Os que me marcaram mais foram talvez um pouco estranhos - os meus livros favoritos da infância foram uma versão em prosa da Odisseia, e o Cantor do Vento. Nenhum deles é uma leitura leve, mas gostava das aventuras.
As únicas BDs que tinha em casa eram o Asterix e Obelix e o Tio Patinhas, e em pequena não lhes pegava muito - não eram o meu tipo de histórias. Foi só muito mais tarde quando comecei a passar mais tempo online que vim realmente a descobrir que havia BD e animação com histórias para mim.
Mais tarde entras no mundo dos webcomics. Que vantagens vês em publicar online e que bedês na web mais te marcaram?
Do ponto de vista de quem cresceu com poucos fundos para comprar livros ou jogos, e a uma hora a pé da biblioteca mais próxima (não tive passe durante muito tempo), os webcomics para mim significaram sempre acesso. Qualquer pessoa pode publicar uma BD online e qualquer pessoa pode ler. Não há editoras a barrar portas, não há mercados a ditar o que é aceitável ou não. Até o formato deixa de ser obrigatoriamente um rectângulo vertical, e uma BD pode ser contada com som, animação, num “endless scroll” ou em paralaxe.
É comunidade também. Poder ler uma página e ter uma secção de comentários em que posso falar com os outros leitores e até com o/a autor/a enquanto esperamos pelo próximo desenvolvimento é incrível.
Infelizmente, perdi todos os links que tinha das webcomics que seguia quando o meu antigo computador deixou de trabalhar e nunca me tinha ocorrido fazer um backup desses links. Com o passar do tempo e a entrada no mercado de trabalho, nunca mais fui à procura e a Internet foi mudando. Hoje já não consigo encontrar os webcomics que lia no secundário e na faculdade.
Tiraste Desenho na FBAUL com alguns professores que se interessam muito pela banda desenhada. Esse contato foi pertinente para as tuas incursões na nona arte ou já tinhas decidido antes que era uma área que irias desenvolver?
Foi decisivo, diria. Nunca tinha pensado muito na BD como uma opção para mim, gostava de desenhar e contar histórias, e como era o que conhecia melhor, fui sempre investindo mais na ilustração, mas ter a oportunidade de estudar BD com professores como a Joana Afonso e o Professor Henriques deixou-me curiosa quanto ao meio, e quanto mais ia aprendendo, mais ia lendo. Eventualmente pus-me a fazer BD.
Como chegas à animação, que realizadores mais admiras e que experiências enriquecedoras tiveste nesta área?
Embora não quisesse fazer animação, sempre adorei filmes animados, começando com a Disney (claro), mais tarde apaixonei-me pelos filmes dos estúdios Laika e Ghibli.
Comecei a trabalhar em animação de forma completamente inesperada. Um dia voltava para casa do trabalho no barco da Transtejo, com os headphones nos ouvidos e a desenhar, como era costume, quando o senhor que estava sentado ao meu lado começa a falar comigo do meu desenho e a fazer-me perguntas. Eu tiro os headphones e ficámos a falar, e às tantas ele diz-me que é produtor numa empresa de animação e pergunta-me se estou disponível para trabalhar. Estava farta do trabalho que tinha na altura, então saltei logo para a oportunidade, mesmo sem saber no que me estava a meter. O facto de o desenho que estava a fazer ser de um vampiro semi-nu faz desta história um acontecimento ainda mais caricato.
Com o intuito de adquirires mais competências técnicas tiraste algumas formações rápidas que te permitiram investir em áreas como o design de comunicação e a ilustração para livros. Na área da ilustração para livros que projetos te deram mais gozo produzir?
Recentemente, tive a oportunidade de fazer as ilustrações e a capa para um livro de peças de teatro de um autor português que é da mesma aldeia na qual a minha avó cresceu (e também as peças se passam lá). Foi um daqueles projectos em que me podiam ter dado quase qualquer orçamento que eu teria aceitado, pois não só o autor me estava a dar imensa liberdade criativa como o tema da ferrovia e o local geográfico das histórias me tocavam pessoalmente. O livro chama-se Entrelinhas, e embora seja uma publicação muito pequena, estou muito satisfeita com o trabalho feito.
Participaste na revista Apocryphus Vol. 3 – Femme Power com um guião de Maria João Lima. Como surgiu essa oportunidade e como foi a experiência de trabalhar com um texto de outra pessoa para uma coletânea portuguesa?
Para não variar, a oportunidade surgiu de forma um pouco caricata. O Miguel, o criador da Apocryphus, e eu conhecemo-nos quando praticávamos esgrima histórica (HEMA) no mesmo local. Com o tempo ele veio a conhecer o meu trabalho, eu o dele, e entre andar à batatada com espadas, veio o convite para participar nessa edição.
Foi uma experiência que adorei. Teve os seus stresses com os tempos de entrega e revisões de última hora, mas gostei imenso de trabalhar com a Maria e com o Miguel. No final, ver aquela história, na qual eu e a Maria desenvolvemos tanto carinho, impressa e nas prateleiras da FNAC, para qualquer pessoa poder ler, deixou-me realmente satisfeita.
Em algumas das tuas ilustrações e curtas de BD pareces privilegiar os géneros da fantasia e da ficção científica. De onde vem esse interesse pelos géneros mais especulativos?
Odeio dizer que “nasceu comigo”, mas à falta de explicação melhor, é o que tenho. Sempre foi o que gostei de ler, ver, pensar e imaginar. Sempre me senti atraída pelo folclore, lendas, mitos, aventuras, viagens ao desconhecido. Das brincadeiras à arte, gosto desses mundos para lá do nosso e para lá do comum. Hoje em dia defendo melhor a minha preferência e acho que a especulação na ficção tem a capacidade de nos afastar da realidade para que, quando a ela voltarmos, a possamos compreender melhor.
Recentemente, tive a oportunidade de fazer as ilustrações e a capa para um livro de peças de teatro de um autor português que é da mesma aldeia na qual a minha avó cresceu (e também as peças se passam lá). Foi um daqueles projectos em que me podiam ter dado quase qualquer orçamento que eu teria aceitado, pois não só o autor me estava a dar imensa liberdade criativa como o tema da ferrovia e o local geográfico das histórias me tocavam pessoalmente. O livro chama-se Entrelinhas, e embora seja uma publicação muito pequena, estou muito satisfeita com o trabalho feito.
Participaste na revista Apocryphus Vol. 3 – Femme Power com um guião de Maria João Lima. Como surgiu essa oportunidade e como foi a experiência de trabalhar com um texto de outra pessoa para uma coletânea portuguesa?
Para não variar, a oportunidade surgiu de forma um pouco caricata. O Miguel, o criador da Apocryphus, e eu conhecemo-nos quando praticávamos esgrima histórica (HEMA) no mesmo local. Com o tempo ele veio a conhecer o meu trabalho, eu o dele, e entre andar à batatada com espadas, veio o convite para participar nessa edição.
Foi uma experiência que adorei. Teve os seus stresses com os tempos de entrega e revisões de última hora, mas gostei imenso de trabalhar com a Maria e com o Miguel. No final, ver aquela história, na qual eu e a Maria desenvolvemos tanto carinho, impressa e nas prateleiras da FNAC, para qualquer pessoa poder ler, deixou-me realmente satisfeita.
Em algumas das tuas ilustrações e curtas de BD pareces privilegiar os géneros da fantasia e da ficção científica. De onde vem esse interesse pelos géneros mais especulativos?
Odeio dizer que “nasceu comigo”, mas à falta de explicação melhor, é o que tenho. Sempre foi o que gostei de ler, ver, pensar e imaginar. Sempre me senti atraída pelo folclore, lendas, mitos, aventuras, viagens ao desconhecido. Das brincadeiras à arte, gosto desses mundos para lá do nosso e para lá do comum. Hoje em dia defendo melhor a minha preferência e acho que a especulação na ficção tem a capacidade de nos afastar da realidade para que, quando a ela voltarmos, a possamos compreender melhor.
Existem vários concursos em Portugal e no estrangeiro direcionados às áreas da banda desenhada e da ilustração. Tens por hábito participar em concursos de BD ou ilustração?
Tive durante algum tempo e participei no concurso de curtas do Amadora BD, onde consegui uma menção honrosa com a BD
A Montanha, e do Festival de BD de Lodz (na Polónia) em 2018. Entretanto voltei a estudar e deixei de ter tempo para me manter a par de concursos e festivais, ou de fazer BD na verdade.
Em relação a feiras e festivais de artes e banda desenhada, em que eventos costumas participar? Ou que eventos costumas visitar?
Antes da pandemia tinha um leque mais vasto, mas os meus locais habituais fecharam, infelizmente. Sempre que posso, gosto de participar no Fórum Fantástico e no Festival Vapor. Gostei muito da experiência que tive no Sci-fi Lisboa, no Festival Contacto (onde tive a minha primeira mesa), na Raia, e ia imensas vezes às feiras dos Anjos70 também. Hoje em dia, como tenho um ramo de trabalho mais diversificado, comecei a ir a mercados de Arts&Crafts como a Feira do Mocho e, até agora, a experiência tem sido positiva.
Que livros, webcomics, jogos, videojogos, séries ou filmes andas a ler/jogar/ver? Tens alguma recomendação?
Voltei recentemente a pegar na série de Earthsea da Ursula K. Le Guin e recomendo vivamente os primeiros 3 livros.
Quando tenho tempo jogo Divinity 2 com a minha irmã - não só é um excelente jogo com uma história incrível, mas tem também imenso sentido de humor, uma excelente soundtrack, e para jogar com outra pessoa é divertidíssimo.
Já há imenso tempo que não via séries ou filmes, mas ando a tentar manter um hábito saudável de visualização. Do que tenho visto recentemente adorei o The Green Knight (2021), e estou neste momento a seguir Killing Eve - que é um pouco fora dos meus géneros do costume, mas tenho um fraquinho por histórias de espionagem e esta tem algo que me deixa sempre cativada - a sensação de que as personagens femininas não são “personagens femininas”, mas sim pessoas, sem esforço para as fazer perfeitas ou imperfeitas, simplesmente humanas.
Tive durante algum tempo e participei no concurso de curtas do Amadora BD, onde consegui uma menção honrosa com a BD
A Montanha, e do Festival de BD de Lodz (na Polónia) em 2018. Entretanto voltei a estudar e deixei de ter tempo para me manter a par de concursos e festivais, ou de fazer BD na verdade.
Em relação a feiras e festivais de artes e banda desenhada, em que eventos costumas participar? Ou que eventos costumas visitar?
Antes da pandemia tinha um leque mais vasto, mas os meus locais habituais fecharam, infelizmente. Sempre que posso, gosto de participar no Fórum Fantástico e no Festival Vapor. Gostei muito da experiência que tive no Sci-fi Lisboa, no Festival Contacto (onde tive a minha primeira mesa), na Raia, e ia imensas vezes às feiras dos Anjos70 também. Hoje em dia, como tenho um ramo de trabalho mais diversificado, comecei a ir a mercados de Arts&Crafts como a Feira do Mocho e, até agora, a experiência tem sido positiva.
Que livros, webcomics, jogos, videojogos, séries ou filmes andas a ler/jogar/ver? Tens alguma recomendação?
Voltei recentemente a pegar na série de Earthsea da Ursula K. Le Guin e recomendo vivamente os primeiros 3 livros.
Quando tenho tempo jogo Divinity 2 com a minha irmã - não só é um excelente jogo com uma história incrível, mas tem também imenso sentido de humor, uma excelente soundtrack, e para jogar com outra pessoa é divertidíssimo.
Já há imenso tempo que não via séries ou filmes, mas ando a tentar manter um hábito saudável de visualização. Do que tenho visto recentemente adorei o The Green Knight (2021), e estou neste momento a seguir Killing Eve - que é um pouco fora dos meus géneros do costume, mas tenho um fraquinho por histórias de espionagem e esta tem algo que me deixa sempre cativada - a sensação de que as personagens femininas não são “personagens femininas”, mas sim pessoas, sem esforço para as fazer perfeitas ou imperfeitas, simplesmente humanas.
Entrevistador: Marco Fraga Silva
Artigo Web: Sérgio Santos |