RESENHA BD
Zahna
Joana Afonso
2018-12-18
Quando Zahna, o mais recente livro de Joana Afonso foi lançado, li de relance algumas das primeiras críticas. Os primeiros leitores foram unânimes no considerar que nesta obra, a autora saía da sua zona de conforto. Depois de a ler, confesso que não percebo o argumento. Talvez seja por nos ter presenteado com uma obra cuja temática vai para a fantasia épica e o fantástico, temáticas algo distantes do tipo de histórias intimistas que tem criado. Mas fora este aspeto superficial, não vi uma assim tão grande diferença conceptual naquela que é uma das mais profundas vertentes da sua obra: o criar personagens simultaneamente frágeis e muito fortes, que ao longo da narrativa vão superando adversidades. Dado o contexto de fantástico, aqui estas estão mais externalizadas do que noutro tipo de registo. As maldições e ameaças que os personagens de Zahna enfrentam estão no exterior, mas também no seu íntimo.
Gostem ou não de fugas às zonas de conforto (pessoalmente, isso não interessa, admiro uma boa história bem desenhada independentemente de zonas e confortos), a verdade é que Joana Afonso mantém em Zahna o seu elevado nível estético e narrativo. Apropria-se da estética conceptual da fantasia épica, mas não esperem uma história grandiosa de feitos magníficos e batalhas gloriosas. Pelo contrário, é (novamente) uma história muito intimista sobre uma personagem amaldiçoada e resiliente.
Quando Zahna, o mais recente livro de Joana Afonso foi lançado, li de relance algumas das primeiras críticas. Os primeiros leitores foram unânimes no considerar que nesta obra, a autora saía da sua zona de conforto. Depois de a ler, confesso que não percebo o argumento. Talvez seja por nos ter presenteado com uma obra cuja temática vai para a fantasia épica e o fantástico, temáticas algo distantes do tipo de histórias intimistas que tem criado. Mas fora este aspeto superficial, não vi uma assim tão grande diferença conceptual naquela que é uma das mais profundas vertentes da sua obra: o criar personagens simultaneamente frágeis e muito fortes, que ao longo da narrativa vão superando adversidades. Dado o contexto de fantástico, aqui estas estão mais externalizadas do que noutro tipo de registo. As maldições e ameaças que os personagens de Zahna enfrentam estão no exterior, mas também no seu íntimo.
Gostem ou não de fugas às zonas de conforto (pessoalmente, isso não interessa, admiro uma boa história bem desenhada independentemente de zonas e confortos), a verdade é que Joana Afonso mantém em Zahna o seu elevado nível estético e narrativo. Apropria-se da estética conceptual da fantasia épica, mas não esperem uma história grandiosa de feitos magníficos e batalhas gloriosas. Pelo contrário, é (novamente) uma história muito intimista sobre uma personagem amaldiçoada e resiliente.
Zahna é uma guerreira expulsa da sua aldeia, por ter sucumbido à fúria e assassinado um prisioneiro de um ataque. A proscrição não é o seu único castigo. Como símbolo do ódio que deixou soltar, aparece uma chama indelével sobre a sua cabeça, despertando o medo em todos os sítios por onde passa. Zahna procura libertar-se da maldição, e é atraída por um personagem malévolo que se aproveita dos amaldiçoados para criar um exército. O isco é um outro personagem amaldiçoado, que acredita que entregando-a será liberto. Felizmente para estes personagens, a coisa não corre bem, devido à vontade inflexível da rapariga. Esta acabará por enfrentar a causa do seu ódio e libertar-se da maldição. Mas continuará marcada, e o regresso ao berço será impossível.
Joana Afonso tem este pendor para personagens fortes mas discretas, que enfrentam dificuldades com resiliência, buscando a felicidade nas coisas pequenas. Visualmente, sabemos o que esperar da autora. Aqui sim, há uma quebra com zonas de conforto visuais. O seu traço não é o esperado realismo da estética de fantasia épica. É expressivo e intimista, o oposto do género. Mas funciona, porque sabemos que não estamos a ler uma fantasia adolescente, com iconografia estereotipada de visões sanitizadas medievalistas. É, como todas as histórias que li de Joana Afonso, uma aventura que vem de dentro.
Artur Coelho
Joana Afonso tem este pendor para personagens fortes mas discretas, que enfrentam dificuldades com resiliência, buscando a felicidade nas coisas pequenas. Visualmente, sabemos o que esperar da autora. Aqui sim, há uma quebra com zonas de conforto visuais. O seu traço não é o esperado realismo da estética de fantasia épica. É expressivo e intimista, o oposto do género. Mas funciona, porque sabemos que não estamos a ler uma fantasia adolescente, com iconografia estereotipada de visões sanitizadas medievalistas. É, como todas as histórias que li de Joana Afonso, uma aventura que vem de dentro.
Artur Coelho
Zahna
Autor: Joana Afonso
Editora: Polvo
Ano de edição: 2018
Páginas: 120, capa dura
Preço: 15,99€