RESENHA BD
Revista Umbra #03
17-03-2022
Tive, finalmente, tempo para dar caça à terceira edição desta sempre interessante antologia de banda desenhada congeminada e editada por Filipe Abranches. Agruras de quem não vive em Lisboa. Confesso que estava em pulgas para a ler, em parte porque apreciei imenso as edições anteriores, com autores veteranos, estilos marcantes e essa coisa tão, tão rara por cá que é o atrevimento de não ter medo da ficção científica enquanto tema. A outra grande razão para não perder esta terceira Umbra é o regresso de David Soares, que assina o argumento de uma das histórias que a Umbra nos traz.
É por aí que começa esta revista. Intenções Comestíveis; Ou Nova Tábua de Cebes é a proposta de David Soares, ilustrada por Filipe Abranches. Uma história que nos dá tudo o que sabemos esperar deste autor, que admitidamente não é para todos os tipos de leitor. A sua tendência gongórica, assumida, está mais profunda e desafiadora. Não esperem linguagem simples nem compreensão fácil deste conto que toca, como tanto do que Soares tem escrito, nas pulsões da alma humana, nas obsessões pelo místico, e pelo horror mais telúrico. Talvez não seja a história que mais agradará aos leitores incautos, pela sua complexidade. É daquelas que nos deixa a matutar muito depois de a termos lido. David Soares é um autor que dá trabalho ler. Escrevo isto como elogio. Dá imenso trabalho, obriga a um esforço de tempo, que está em contra-ciclo com a imediatez e simplicidade a que os discursos contemporâneos nos habituaram. Filipe Abranches está à altura do desafio de ilustrar as palavras, ou melhor, de acompanhar no grafismo a vontade do escritor, que nisto da boa banda desenhada o desenho não é mera ilustração. A violência expressiva, sem compromissos, do traço de Abranches completa as palavras de David Soares.
Tive, finalmente, tempo para dar caça à terceira edição desta sempre interessante antologia de banda desenhada congeminada e editada por Filipe Abranches. Agruras de quem não vive em Lisboa. Confesso que estava em pulgas para a ler, em parte porque apreciei imenso as edições anteriores, com autores veteranos, estilos marcantes e essa coisa tão, tão rara por cá que é o atrevimento de não ter medo da ficção científica enquanto tema. A outra grande razão para não perder esta terceira Umbra é o regresso de David Soares, que assina o argumento de uma das histórias que a Umbra nos traz.
É por aí que começa esta revista. Intenções Comestíveis; Ou Nova Tábua de Cebes é a proposta de David Soares, ilustrada por Filipe Abranches. Uma história que nos dá tudo o que sabemos esperar deste autor, que admitidamente não é para todos os tipos de leitor. A sua tendência gongórica, assumida, está mais profunda e desafiadora. Não esperem linguagem simples nem compreensão fácil deste conto que toca, como tanto do que Soares tem escrito, nas pulsões da alma humana, nas obsessões pelo místico, e pelo horror mais telúrico. Talvez não seja a história que mais agradará aos leitores incautos, pela sua complexidade. É daquelas que nos deixa a matutar muito depois de a termos lido. David Soares é um autor que dá trabalho ler. Escrevo isto como elogio. Dá imenso trabalho, obriga a um esforço de tempo, que está em contra-ciclo com a imediatez e simplicidade a que os discursos contemporâneos nos habituaram. Filipe Abranches está à altura do desafio de ilustrar as palavras, ou melhor, de acompanhar no grafismo a vontade do escritor, que nisto da boa banda desenhada o desenho não é mera ilustração. A violência expressiva, sem compromissos, do traço de Abranches completa as palavras de David Soares.
A Ficção Científica pura regressa em Weep Me Not Dead, por Pedro Moura e Ricardo Baptista. Uma história de utopias de progresso futurista, mas que nos mostra que as distopias interiores dos indivíduos se mantém imutáveis. Pedro Moura invoca um futurismo utópico de ciência e racionalidade, ilustrado de forma muito limpa por Ricardo Baptista.
Em Tens a Certeza, Bárbara Lopes dá-nos uma verdadeira pérola da narrativa em Banda Desenhada. Uma história sobre as agruras da obsessão pela dúvida, que entra nos domínios do fantástico, daquelas onde as fronteiras entre o real se esbatem continuamente, nunca sabemos o que é real, o que é sonho, ou o que é ilusão. O estilo visual é muito forte, muito estilizado, com contrastes fortes.
Simon Roy encerra esta Umbra com o delirante e surreal Naufragado com Dan, o Gorila, que é isso mesmo que estão a ler no título: a história de um náufrago que partilha uma ilha deserta com um gorila falante. Se é fantasia ou delírio, bem, esta é daquelas histórias que terão mesmo de ler para acreditar, como tanto do que Roy costuma criar.
Esperemos que haja quarto número da Umbra. Nos três números que já nos chegaram, esta publicação independente mostrou trazer-nos vozes veteranas, criando um novo espaço de edição. Está focada no contar de histórias, trilhando a fronteira entre uma bd mais independente e de experimentalismo estético, e a vontade de criar narrativas coerentes. A Umbra, desde o primeiro momento, adquiriu um merecido lugar de destaque pela sua qualidade, no reduzido panorama das revistas de BD portuguesas que procuram ir mais além do experimentalismo do fanzine, e procuram modelos de edição que, por cá, estão por necessidade ligadas ao esforço amador, mas que noutros mercados seriam modelos profissionais de BD de qualidade. Um projeto que espero que mantenha a sua continuidade. Como leitor, e fã, cá estarei para o acompanhar.
Artur Coelho
Em Tens a Certeza, Bárbara Lopes dá-nos uma verdadeira pérola da narrativa em Banda Desenhada. Uma história sobre as agruras da obsessão pela dúvida, que entra nos domínios do fantástico, daquelas onde as fronteiras entre o real se esbatem continuamente, nunca sabemos o que é real, o que é sonho, ou o que é ilusão. O estilo visual é muito forte, muito estilizado, com contrastes fortes.
Simon Roy encerra esta Umbra com o delirante e surreal Naufragado com Dan, o Gorila, que é isso mesmo que estão a ler no título: a história de um náufrago que partilha uma ilha deserta com um gorila falante. Se é fantasia ou delírio, bem, esta é daquelas histórias que terão mesmo de ler para acreditar, como tanto do que Roy costuma criar.
Esperemos que haja quarto número da Umbra. Nos três números que já nos chegaram, esta publicação independente mostrou trazer-nos vozes veteranas, criando um novo espaço de edição. Está focada no contar de histórias, trilhando a fronteira entre uma bd mais independente e de experimentalismo estético, e a vontade de criar narrativas coerentes. A Umbra, desde o primeiro momento, adquiriu um merecido lugar de destaque pela sua qualidade, no reduzido panorama das revistas de BD portuguesas que procuram ir mais além do experimentalismo do fanzine, e procuram modelos de edição que, por cá, estão por necessidade ligadas ao esforço amador, mas que noutros mercados seriam modelos profissionais de BD de qualidade. Um projeto que espero que mantenha a sua continuidade. Como leitor, e fã, cá estarei para o acompanhar.
Artur Coelho
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Revista Umbra #03
Autores: Filipe Abranches, David Soares, Simon Roy, Pedro Moura, Ricardo Baptista, Bárbara Lopes, João Pinto.
Editora: Umbra
Ano de edição: 2021
Páginas: 112 páginas, capa mole
Preço: 12,50€
Revista Umbra #03
Autores: Filipe Abranches, David Soares, Simon Roy, Pedro Moura, Ricardo Baptista, Bárbara Lopes, João Pinto.
Editora: Umbra
Ano de edição: 2021
Páginas: 112 páginas, capa mole
Preço: 12,50€