MESTRES DA BD
Alex Raymond
2017-08-12
Nos anos 30, as tiras de BD cujo o tema fosse aventura estavam em ascensão. Tarzan, Dick Tracy (o policial durão de Chester Gould) e Buck Rogers mantinham os leitores extasiados. Existia uma autêntica guerra entre os syndicates, todos esforçando-se para apresentar a tira mais cativante. O King Features Syndicate parecia estar alheio a esse confronto. Na verdade, preparava-se para responder, aguardava apenas a melhor altura. Em janeiro de 1934, e com a diferença de poucos dias, lançou três tiras novas para fazer concorrência às já citadas. As novas tiras de aventuras eram "Jungle Jim", "Secret Agent X-9" e "Flash Gordon", desenhadas pelo mesmo artista.
Até esse momento surgir, Alexander Gillespie Raymond era desconhecido no mundo da BD. Na verdade, começara a desenhar muito cedo, encorajado pelo pai. Aos 18 anos entrou para a Escola de Desenho Grand Central. Mais tarde trabalhou como assistente de Russ Westover na tira "Tillie", "The Toiler" e depois com o célebre "Chic Young" e com o irmão deste, Lyman na série "Tim Tyler's Luck", fazendo as tiras diárias e páginas dominicais.
Quando o King Features Syndicate abriu um concurso para descobrir tiras em BD que pudessem enfrentar as tiras da concorrência, Raymond apresentou o Flash Gordon e o Jim das Selvas. Foi uma aposta ganha, recebeu posteriormente ainda o convite para desenhar o Agente Secreto X-9 escrito pelo famoso romancista Dashiell Hammett.
Nos anos 30, as tiras de BD cujo o tema fosse aventura estavam em ascensão. Tarzan, Dick Tracy (o policial durão de Chester Gould) e Buck Rogers mantinham os leitores extasiados. Existia uma autêntica guerra entre os syndicates, todos esforçando-se para apresentar a tira mais cativante. O King Features Syndicate parecia estar alheio a esse confronto. Na verdade, preparava-se para responder, aguardava apenas a melhor altura. Em janeiro de 1934, e com a diferença de poucos dias, lançou três tiras novas para fazer concorrência às já citadas. As novas tiras de aventuras eram "Jungle Jim", "Secret Agent X-9" e "Flash Gordon", desenhadas pelo mesmo artista.
Até esse momento surgir, Alexander Gillespie Raymond era desconhecido no mundo da BD. Na verdade, começara a desenhar muito cedo, encorajado pelo pai. Aos 18 anos entrou para a Escola de Desenho Grand Central. Mais tarde trabalhou como assistente de Russ Westover na tira "Tillie", "The Toiler" e depois com o célebre "Chic Young" e com o irmão deste, Lyman na série "Tim Tyler's Luck", fazendo as tiras diárias e páginas dominicais.
Quando o King Features Syndicate abriu um concurso para descobrir tiras em BD que pudessem enfrentar as tiras da concorrência, Raymond apresentou o Flash Gordon e o Jim das Selvas. Foi uma aposta ganha, recebeu posteriormente ainda o convite para desenhar o Agente Secreto X-9 escrito pelo famoso romancista Dashiell Hammett.
Raymond trabalhou num ritmo infernal, pois tinha que desenhar todas as tiras diárias, mais as páginas dominicais. O Agente Secreto X-9 fazia concorrência directa a Dick Tracy, mantendo-se em pé de igualdade com a tira mencionada. Jim das Selvas tinha a missão mais difícil de todas, enfrentar o Tarzan de Foster. Não era tarefa fácil, mas as aventuras de Jim Bradley na África e no Extremo Oriente não fizeram uma má figura competindo contra as façanhas do homem-macaco.
Mas foi com Flash Gordon que Raymond atingiu o sucesso absoluto. A tira, futurista, narrava as aventuras de Flash, a sua namorada Dale e o professor Zarkov, no planeta Mongo, contra a cruel tirania do imperador Ming. Flash Gordon era um universo onde existia mais fantasia do que ficção científica, servindo mais de desculpa para Raymond exercitar a sua imaginação apocalíptica.
Flash Gordon transformou-se num sucesso devido ao estilo de Raymond, cujos os desenhos - limpos e claros - pareciam ter-se inspirado nas pinturas de Miguel Angelo. E se em Flash Gordon a sua eterna luta entre o bem e o mal manifestava-se de forma simplista, com muitas histórias limitadas, a concepção plástica das mesmas compensava tudo.
Pouco tempo depois, à beira do esgotamento, Raymond largou Agente Secreto X-9 e Jim das Selvas para se dedicar exclusivamente à sua criação mais famosa, Flash Gordon.
Enquanto isso, as nuvens negras de guerra acumulavam-se nos céus da Europa. A catástrofe estava por chegar, e nem os desenhadores de BD estavam imunes a ela.
Do Planeta Mongo para as ruas de Nova Iorque
A eterna luta entre o bem, representado pelo musculoso e apolíneo Flash e o mal, encarnado pelo sombrio e detestável imperador Ming, não estavam alheios ao momento histórico. Não era pura casualidade que as feições do imperador Ming fossem orientais numa época em que os japoneses invadiam a Manchúria. Nem que Mongo com o seu exercito repressor lembrasse a claque nazi-fascista que do outro lado do Atlântico, iniciava a conquista de Europa.
É importante dizer que, enquanto os políticos norte-americanos pregavam uma neutralidade imbecil, os desenhadores de BD já tinham assumido uma posição beligerante. Isso fica mais que evidente quando vemos o material que era publicado então. Os heróis desenhados por Milton Caniff derrotavam as hordas japonesas e o agente X-9 desmantelava redes de espiões alemães na mesma época em que Tarzan, O Fantasma e O Capitão César, entre outros, enfrentavam nas tiras de jornal o perigo totalitário que nos anos vindouros colocaria o mundo em xeque.
Quando os Estados Unidos, apavorados pelos acontecimentos de Pearl Harbor, entraram na guerra os desenhadores de BD já estavam preparados para fazer a sua contribuição. Enquanto a maior parte desse esforço refletiu-se nas tiras para jornal, alguns desenhadores foram para o campo de batalha, e Raymond esteve entre eles. A bordo do porta-aviões USS Gilbert Islands, e com a patente de capitão, testemunhou as batalhas de Okinawa e Bornéu.
Do Planeta Mongo para as ruas de Nova Iorque
A eterna luta entre o bem, representado pelo musculoso e apolíneo Flash e o mal, encarnado pelo sombrio e detestável imperador Ming, não estavam alheios ao momento histórico. Não era pura casualidade que as feições do imperador Ming fossem orientais numa época em que os japoneses invadiam a Manchúria. Nem que Mongo com o seu exercito repressor lembrasse a claque nazi-fascista que do outro lado do Atlântico, iniciava a conquista de Europa.
É importante dizer que, enquanto os políticos norte-americanos pregavam uma neutralidade imbecil, os desenhadores de BD já tinham assumido uma posição beligerante. Isso fica mais que evidente quando vemos o material que era publicado então. Os heróis desenhados por Milton Caniff derrotavam as hordas japonesas e o agente X-9 desmantelava redes de espiões alemães na mesma época em que Tarzan, O Fantasma e O Capitão César, entre outros, enfrentavam nas tiras de jornal o perigo totalitário que nos anos vindouros colocaria o mundo em xeque.
Quando os Estados Unidos, apavorados pelos acontecimentos de Pearl Harbor, entraram na guerra os desenhadores de BD já estavam preparados para fazer a sua contribuição. Enquanto a maior parte desse esforço refletiu-se nas tiras para jornal, alguns desenhadores foram para o campo de batalha, e Raymond esteve entre eles. A bordo do porta-aviões USS Gilbert Islands, e com a patente de capitão, testemunhou as batalhas de Okinawa e Bornéu.
Em 1946, já de volta do horror da guerra, Raymond inicia uma nova tira, "Rip Kirby". Kirby tal como Raymond, é um ex-oficial da Marinha que se torna detetive particular. A suas aventuras, têm como pano de fundo a alta burguesia nova-iorquina, nostálgica por um mundo aristocrático que não existe mais, mostram uma evolução incrível na construção psicológica das personagens. Não existe mais o ponto de vista simplista das histórias de Flash Gordon. Em Rip Kirby Raymond deixa claro que o crime é, muitas vezes, produto de um sistema económico injusto que exclui muitos. E como acontecesse frequentemente nas novelas noir, muitas vezes a podridão está instalada nas classes sociais mais abastadas.
Na elaboração das tiras de Rip Kirby, Raymond desenvolveu um método de trabalho que envolvia fotografia, modelos vivos, uma pesquisa exaustiva de ambientes, vestuário e costumes. Raymond - que já fora ilustrador de revistas como a Collièrs Weekly, Blue Book, Esquire e Look - está desenhando como nunca. Ele mesmo chega a declarar: "Estou sinceramente convencido de que a arte da BD é uma forma de arte autónoma. Reflecte a sua época e a vida em geral com maior realismo, e graças à sua natureza criativa, é artisticamente mais válida do que uma mera ilustração. O ilustrador trabalha com uma máquina fotográfica e modelos; o artista de BD começa com uma folha de papel em branco e inventa sozinho uma história inteira - é escritor, diretor de cinema, editor e desenhador ao mesmo tempo".
O crítico americano Kenneth Rexroth declarou que todas as histórias de aventuras podem ser reduzidas a dois protótipos: A Ilíada e a Odisseia. Desse ponto de vista o Flash Gordon seria o Aquiles dessas bandas desenhadas enquanto Rip Kirby viria ser Ulisses.
Rip Kirby ficou ainda melhor quando na equipe de Raymond apareceu Fredd Dickinson, repórter policial. Os argumentos ganharam um realismo e ritmo que não tinham até então.
Raymond ainda estava a caminhar pelo caminho do sucesso quando morreu tragicamente enquanto conduzia um automóvel do também desenhador Stan Drake. Tinha apenas 47 anos e muito para fazer no campo da BD.
Após a morte de Raymond, Rip Kirby continuou sendo feita pelo desenhista John Prentice. E, coisa estranha, o trabalho de Prentice era tão idêntico ao de Raymond que os conhecedores não sabem dizer onde termina o trabalho de um e onde começa o do outro.
Costuma-se dizer que criadores e artistas atingem o ápice da criatividade aos cinquenta anos, quando o talento e a experiência conseguem equilibrar-se. Se isso é verdade, Raymond, o criador das fabulosas páginas de Flash Gordon, ainda tinha muito para dar.