OS PARASITAS
2017-03-06
O mundo dos comic books tem muito pouco de profissional. Ainda que existam aqueles que de facto são profissionais, no sentido em que são remunerados pelo seu trabalho e que este tenha uma divulgação e distribuição mais abrangente, o meio ou a "indústria" têm muito mais de boy's club do que de instituição respeitável. É uma espécie de Chicago da lei-seca ou de aldeola do velho oeste sem xerife nem lei onde quem vence é o espertalhão. Para se ser um profissional conta muito pouco o talento, o conhecimento ou a capacidade. O que conta são os compadrios e "amizades". Há que lisonjear as pessoas certas no meio certo. Como diria Kevin Smith, who do I need to blow...?
O mundo dos comic books tem muito pouco de profissional. Ainda que existam aqueles que de facto são profissionais, no sentido em que são remunerados pelo seu trabalho e que este tenha uma divulgação e distribuição mais abrangente, o meio ou a "indústria" têm muito mais de boy's club do que de instituição respeitável. É uma espécie de Chicago da lei-seca ou de aldeola do velho oeste sem xerife nem lei onde quem vence é o espertalhão. Para se ser um profissional conta muito pouco o talento, o conhecimento ou a capacidade. O que conta são os compadrios e "amizades". Há que lisonjear as pessoas certas no meio certo. Como diria Kevin Smith, who do I need to blow...?
O exemplo último disto são os escritores/editores. Na sua maioria são fãs tornados empregados de escritório, "escritores" de quarta ou quinta categoria que não seriam capazes de escrever uma linha de prosa decente se a sua vida dependesse disso, tendo feito carreira nos comic books apoiados às cavalitas de desenhadores de grande talento. Como acumularam a função de escritor com a de editor, acabaram por selecionar os melhores desenhadores, colando-se a eles como parasitas. Querem exemplos clássicos? O que teriam sido um Roy Thomas, um Len Wein ou um Marv Wolfman sem o desenho de um John Buscema, um Bernie Wrightson ou um George Pérez. Poderão vir dizer-me que o inverso se aplica mas não, de todo. Caro leitor, se pensa isso, está profundamente enganado. A arte de qualquer um desses desenhadores é perfeitamente auto-suficiente, ao passo que a prosa dos outros... Enfim, eu já vi muitos desenhos isolados (ou não) dos artistas citados e o talento brilha em qualquer um deles, quer se goste ou não do estilo. Por outro lado, quantos livros de prosa é que já leram dos "escritores" que referi? Percebem onde quero chegar?
O que se passa é que como quem fica para a História é quem a escreve, esses "escritores", bem conectados e entrincheirados nas fileiras dos comic books, acabam ficando em Hall of Fames e coisas do género, apesar de serem tarefeiros sem talento que mereciam um valente pontapé no traseiro se nos fossemos guiar apenas pelas suas competências de escrita ou pelo seu talento criativo.
Não é muito difícil dar o pulo e perceber que, em maior ou menor grau, o mesmo fenómeno acaba por se passar de um modo geral com os restantes "escritores". Na sua maioria, não são escritores de facto. Tirando honrosas excepções, não têm formação ou talento e vivem uma relação muito pouco profunda com a palavra escrita. O que querem é fazer comics, mas escrevem porque é mais fácil e rápido do que desenhar. Um epíteto mais correto seria o de copywriters. Tratam-se de auto-proclamados idiotas (porque têm ideias), defendendo-se com as desculpas de que para se fazer comics é preciso "ter algo para dizer" ou que se trata de um meio "multidisciplinar", sendo necessário "dividir tarefas" para garantir a sua qualidade. Aquilo que os vai safando e permite proliferar é: a) o facto de a sua agenda ir quase sempre ao encontro da dos editores e b) a incapacidade de muitos desenhadores em demonstrar iguais competências em termos de conexão, comunicação verbal e movimentação social que frequentemente lhes escapam ... o que não é para admirar, tendo em conta que estes últimos também têm de devotar muito mais tempo ao desenho. Afinal de contas, quanto tempo demora escrever o equivalente a uma prancha? E a desenhá-la? Têm dúvidas? Como certa vez Stephen Bissette descreveu, enquanto ele e o seu colega desenhador e arte-finalista John Totleben lutavam para finalizar as revistas de Swamp Thing a tempo das datas de entrega, Alan Moore escrevia quase simultaneamente números do mesmo Swamp Thing, de V for Vendetta, de Miracleman, de Watchmen e ainda outras histórias curtas. Moral da história: um escritor terá sempre maior capacidade de produção do que um desenhador. Logo, mais trabalhos, mais exposição, maior divulgação... mais poder.
Não é muito difícil dar o pulo e perceber que, em maior ou menor grau, o mesmo fenómeno acaba por se passar de um modo geral com os restantes "escritores". Na sua maioria, não são escritores de facto. Tirando honrosas excepções, não têm formação ou talento e vivem uma relação muito pouco profunda com a palavra escrita. O que querem é fazer comics, mas escrevem porque é mais fácil e rápido do que desenhar. Um epíteto mais correto seria o de copywriters. Tratam-se de auto-proclamados idiotas (porque têm ideias), defendendo-se com as desculpas de que para se fazer comics é preciso "ter algo para dizer" ou que se trata de um meio "multidisciplinar", sendo necessário "dividir tarefas" para garantir a sua qualidade. Aquilo que os vai safando e permite proliferar é: a) o facto de a sua agenda ir quase sempre ao encontro da dos editores e b) a incapacidade de muitos desenhadores em demonstrar iguais competências em termos de conexão, comunicação verbal e movimentação social que frequentemente lhes escapam ... o que não é para admirar, tendo em conta que estes últimos também têm de devotar muito mais tempo ao desenho. Afinal de contas, quanto tempo demora escrever o equivalente a uma prancha? E a desenhá-la? Têm dúvidas? Como certa vez Stephen Bissette descreveu, enquanto ele e o seu colega desenhador e arte-finalista John Totleben lutavam para finalizar as revistas de Swamp Thing a tempo das datas de entrega, Alan Moore escrevia quase simultaneamente números do mesmo Swamp Thing, de V for Vendetta, de Miracleman, de Watchmen e ainda outras histórias curtas. Moral da história: um escritor terá sempre maior capacidade de produção do que um desenhador. Logo, mais trabalhos, mais exposição, maior divulgação... mais poder.
Infelizmente, para os desenhadores, o paradigma actual não é nada animador. Hoje, os "escritores" mandam. São eles que ditam as regras do jogo. Enquanto este paradigma não se alterar, o desenhador será um aborrecido empecilho infelizmente necessário na concretização do sonho e visão do escritor ou do editor. Mas não terá de ser sempre assim.
- O Desenhador Fantasma