RESENHA BD
Mindex, de Fernando Dordio, Pedro Cruz e Mário Freitas
16-06-2020
Uma distopia opressiva não tem obrigatoriamente de ser algo grimdark, uma bota tenebrosa que calca o espírito das pessoas. Talvez as piores distopias sejam aquelas que não o parecem ser, luminosas visões onde o bem estar e felicidade sejam tão imperativos que quem vive nelas nem se apercebe do preço que pagou pela utopia. Se não conseguimos distinguir as barras douradas da gaiola por entre o reluzir dos adereços, nem nos apercebemos que não somos livres. É uma mensagem clássica, talvez melhor simbolizada por Huxley no seu Admirável Mundo Novo, contraponto a 1984 que sublinhou que mesmo que as algemas sejam almofadadas, não deixam de ser algemas.
São estes os caminhos que Mindex trilha. Em modo thriller de ficção científica com recortes de policial noir, leva-nos a um mundo à beira da perfeição. Uma sociedade onde um chip que ajuda a preservar memórias depressa se mostra capaz de mais do que isso. Permite transformá-las, e com isso recondicionar as pessoas. Até mesmo fazê-lo em massa, garantindo estabilidade e felicidade à população. Mas é um mundo perfeito construído à custa da negação de tudo o que define um indivíduo.
E quem se atrever a colocar entraves a este processo, depressa se vê envolvido em tramas potencialmente fatais. Tornadas mais impossíveis porque o jogo faz-se entre a realidade e a memória. Se a memória que temos é para nós a realidade, é impossível fugir das armadilhas. Isso é sublinhado pelo final deliciosamente amargo deste livro.
Uma distopia opressiva não tem obrigatoriamente de ser algo grimdark, uma bota tenebrosa que calca o espírito das pessoas. Talvez as piores distopias sejam aquelas que não o parecem ser, luminosas visões onde o bem estar e felicidade sejam tão imperativos que quem vive nelas nem se apercebe do preço que pagou pela utopia. Se não conseguimos distinguir as barras douradas da gaiola por entre o reluzir dos adereços, nem nos apercebemos que não somos livres. É uma mensagem clássica, talvez melhor simbolizada por Huxley no seu Admirável Mundo Novo, contraponto a 1984 que sublinhou que mesmo que as algemas sejam almofadadas, não deixam de ser algemas.
São estes os caminhos que Mindex trilha. Em modo thriller de ficção científica com recortes de policial noir, leva-nos a um mundo à beira da perfeição. Uma sociedade onde um chip que ajuda a preservar memórias depressa se mostra capaz de mais do que isso. Permite transformá-las, e com isso recondicionar as pessoas. Até mesmo fazê-lo em massa, garantindo estabilidade e felicidade à população. Mas é um mundo perfeito construído à custa da negação de tudo o que define um indivíduo.
E quem se atrever a colocar entraves a este processo, depressa se vê envolvido em tramas potencialmente fatais. Tornadas mais impossíveis porque o jogo faz-se entre a realidade e a memória. Se a memória que temos é para nós a realidade, é impossível fugir das armadilhas. Isso é sublinhado pelo final deliciosamente amargo deste livro.
Livro que, confesso, não me atraiu à primeira vista. Um caso clássico de julgar o livro pela capa, onde o visual plano da imagem corta algum impacto. No entanto, esse visual funciona perfeitamente como elemento narrativo, com uma interessante expressividade. Se o traço de Pedro Cruz não atrai na capa, a má impressão desfaz-se logo nas primeiras vinhetas. O visual plano tem muito em comum com uma história que apesar de convoluta, se foca na superficialidade da ilusão de perfeição.
Fernando Dordio e Mário Freitas assinam o argumento, a partir de um conceito de Dordio, que se desenrola com o ritmo acelerado de uma história de ação. Apesar disso, consegue equilibrar o fio narrativo da aventura de alta intensidade com a construção bem medida do intrigante mundo ficcional. Laivos de distopia black mirror, techno thriller de ação, Mindex tem também um lado corrosivo de humor crítico à nossa fé na tecnologia.
Artur Coelho
Fernando Dordio e Mário Freitas assinam o argumento, a partir de um conceito de Dordio, que se desenrola com o ritmo acelerado de uma história de ação. Apesar disso, consegue equilibrar o fio narrativo da aventura de alta intensidade com a construção bem medida do intrigante mundo ficcional. Laivos de distopia black mirror, techno thriller de ação, Mindex tem também um lado corrosivo de humor crítico à nossa fé na tecnologia.
Artur Coelho
Mindex
Autores: Fernando Dordio, Pedro Cruz e Mário Freitas
Editora: Kingpin Books
Ano de edição: 2020
Páginas: 80 páginas, capa dura
Preço: 14,45€