ENTREVISTA COM HERMANN HUPPEN
2015-06-17
Hermann Huppen (possui o pseudónimo artístico de Hermann) é uma figura incontornável na BD franco-belga e ao longo da sua extensa carreira recebeu inúmeros prémios e homenagens. Apresentamos uma pequena biografia para que os leitores possam conhecer melhor este memorável autor com uma larga obra publicada em vários países.
É possível aceder a mais informação no site do autor em http://www.hermannhuppen.com/.
Hermann Huppen (possui o pseudónimo artístico de Hermann) é uma figura incontornável na BD franco-belga e ao longo da sua extensa carreira recebeu inúmeros prémios e homenagens. Apresentamos uma pequena biografia para que os leitores possam conhecer melhor este memorável autor com uma larga obra publicada em vários países.
É possível aceder a mais informação no site do autor em http://www.hermannhuppen.com/.
Biografia
Nasceu 17 de julho de 1938 em Beverce (cidade de Malmedy), uma pequena aldeia belga da região de Fagnes, na fronteira com a Alemanha e a cidade de Liège.
Aos dezoito anos mudou-se para o Canadá com sua família. Quatro anos depois, decidiu voltar para Bruxelas. Casou-se em 1964 com Adeline Vandooren. O seu cunhado Philippe Vandooren, futuro director editorial da Dupuis, propõe-lhe então o desafio de criar a sua primeira história na revista Scout.
Posteriormente seria convidado a entrar no estúdio de BD de Michel Greg. Em 1966, em parceria com Greg, surgiu a série "Bernard Prince". Participou também nos dois primeiros álbuns da série" Jugurta".
Em Dezembro de 1969 iniciou-se a publicação da série "Comanche", novamente em parceria com Greg. Em 1977, Hermann avança para a sua primeira série a solo, "Jeremiah", publicada pela editora alemã Koralle e pela belga Novedi. A série ainda está em curso depois de ter sido retomada pela editora Dupuis.
De 1980 a 1983, vai ilustrar "Nic", uma série publicada na revista "Spirou" com argumento de Morpheus (cujo verdadeiro nome é Philippe Vandooren).
Em 1982, lançou o álbum "La Cage" e no mesmo ano e abandonou a série "Comanche" que depois é retomada por Michel Rouge.
Em 1984 resolve criar a série de BD medieval "As Torres de Bois-Maury". Em 1991 lança o álbum "Missie Vandisandi" onde são abordados temas referentes à África colonial.
Em 1995 ele publicou "Sarajevo-Tango", que nasceu da indignação sobre a situação dramática do cerco de Sarajevo.
Em 1997 surgiu "Caatinga" , um álbum ambientado nos anos trinta no nordeste brasileiro.
Em 1999 criou o western "Wild Bill". Em 2000, com a cumplicidade de Jean Van Hamme nasceu a "Guerra Lua", um trabalho que retrata o absurdo e a estupidez humana. Em parceria com o argumentista Yves H. desenhou o álbum "Laços de Sangue", a dupla pai/filho iria posteriormente criar mais dois álbuns que compõem a "trilogia USA".
Entrevista
De forma muito atenciosa e profissional, Hermann mostrou vontade de participar numa pequena entrevista, agradecemos muito a sua disponibilidade.
Pode falar-nos sobre o seu relacionamento com a BD desde a sua infância até agora?
Eu li muitos livros do Tintim na minha infância e só mais tarde retomei o contacto com o BD em adulto quando comecei a desenhar.
Seria possível descrever com detalhe o seu método de trabalho?
É muito difícil explicar um método de trabalho. A partir de que momento? Quando utilizo o lápis para fazer o primeiro esboço para uma vinheta, ou a desenvolver um estudo de cores? ... Isso depende se há personagens ou apenas paisagens ... Também é necessário prever a localização do balão onde irão aparecer os diálogos.
Como explica a sua imensa produção de livros de banda desenhada ao longo dos anos?
Apenas pelo meu desejo, e até mesmo a minha necessidade de desenhar e procurar tentar sempre fazer melhor.
Gosta de colorir as suas histórias com métodos tradicionais. A pintura digital não o seduz ?
Eu preciso de um contacto carnal com o papel, os pincéis, as cores. Porque uma prancha desenhada tem um valor visual e emocional que para mim nunca poderia estar numa tela de computador. Existirão sempre muitas pessoas a utilizar o papel, isso não vai mudar. Autores como Hergé, Franquin, jacobs, etc... continuam a ser relevantes mesmo nunca tendo trabalhado com computadores.
Ao longo de sua carreira, quais foram os artistas que o influenciaram mais?
Inicialmente, foi Jijé e Jean Giraud. Desde então existem vários autores que admiro mas não altero o meu estilo em virtude dessas influências. Devemos ter o nosso próprio estilo.
Você tem um estilo muito pessoal e identificável, nunca pensou em criar um pseudónimo e desenhar de uma forma completamente diferente para poder ser mais livre nas suas escolhas?
É inútil ter um pseudónimo, um olhar perspicaz reconhece sempre o estilo do autor. Eu desenhei a mini-série "NIC" e "A vida exagerada do homem nylon" utilizando um estilo diferente do habitual. Poderia nessa altura ter escolhido outro nome, não o fiz e assinei o trabalho. Achei simplesmente que o estilo que desenvolvi era o mais apropriado para o tema.
Desenhar para si é uma necessidade? Quanto tempo trabalha por dia?
Sim, como eu disse anteriormente, desenhar é uma necessidade. Trabalho muitas vezes cerca de 10 horas por dia incluindo fins de semana. Se entretanto por vários motivos sair para dar um passeio de bicicleta, assistir a um filme ou sair à noite com os amigos é natural que não dedique tanto tempo ao trabalho.
Das séries ( Jeremiah, Comanche, Bernard Prínce ... ) que criou, qual é mais popular para o público?
Existe um público nostálgico que gostou muito das séries Comanche e Bernard Prince, que leram BD na juventude ...
Nas séries Jeremiah ou As Torres de Bois-Maury, isso é equivalente. Tenho reparado que os jovens são cada vez mais atraídos por álbuns a solo e não tanto por séries.
Ao longo de sua carreira você trabalhou com vários argumentistas e também criou vários álbuns individuais. Como se sente mais confortável?
No principio da minha carreira trabalhei muito com o Greg. Depois existiu uma época em que eu criava os meus próprios argumentos. Eu fiz um álbum com Jean Van Hamme e nos últimos anos tenho trabalhado muito com o meu filho. Se eu desenhar uma história com um argumento meu (de vez em quando...) ou com do meu filho, isso não faz muita diferença. Inclusive se criarmos uma história em conjunto, também é um desafio e esse eu gosto!
A BD tem evoluído ao longo dos anos. Inicialmente, ela foi dirigida a um público muito jovem. Actualmente existe um público mais adulto que parece cada vez mais interessado. O que acha disso?
O público jovem que cresceu a ler BD hoje está mais crescido. Durante muito tempo existiu uma certa elite que desprezava a BD como sendo algo "inferior" e nos últimos tempos tem conseguido atrair mais e mais adultos, até mesmo os intelectuais que antes desprezavam este género.
Por outro lado, eu tenho pena que as histórias de BD para crianças tenham sido abandonadas pelos novos desenhadores, o que eu tenho visto parece-me muitas vezes débil e graficamente fraco.
Eu tenho alguma curiosidade. É verdade que a banda desenhada franco-belga movimenta muito dinheiro?
Eu reconheço que a BD franco-belga é o maior mercado da Europa e que alguns autores conseguem em virtude disso ter grandes tiragens. Existem também obras originais de BD históricas e actuais que atingem valores vertiginosos em leilões na Christie's, Sotherby, Salesroom e outros.
Qual é a sua opinião sobre a manga japonesa e os comics norte-americanos?
Eu não vejo o interesse da manga japonesa. Quanto às histórias de BD com super-heróis, acho que são muito infantis.
Autor: Sérgio Santos.
Futuramente continuarão a ser publicadas entrevistas referentes a várias personalidades de destaque ligadas ao universo da BD.