RESENHA BD
Dylan Dog: O Imenso Adeus, de Mauro Marcheselli, Tiziano Sclavi e Carlo Ambrosini
29-06-2020
Confesso que sobre Dylan Dog. sofro de um forte enviesamento. Se respeito e aprecio o trabalho de muitos dos argumentistas que têm trabalhado com este personagem - Roberto Recchioni e Paola Barbato saltam logo à mente, na verdade o melhor de Dylan está em Tiziano Sclavi. A sua combinação de onirismo, horror e saber enciclopédico espelhado em inúmeras homenagens ao género, patentes em inúmeros detalhes das suas histórias, são os elementos que tornaram este em mais do que um personagem de banda desenhada comercial. Quem conhece Dylan Dog, sabe que merece ser lido com algo mais do que fumetti escapista. Será sempre de entretenimento, é certo, mas entretenimento erudito, sustentado por narrativas complexas de qualidade literária.
Se tiverem dúvidas sobre isto... recomendo-vos que se recostem no sofá, ou se abriguem do sol sob uma árvore num jardim. Reservem uns longos momentos de silêncio. E deixem-se levar por este O Imenso Adeus, talvez das mais belas e complexas histórias escritas por Sclavi. Como beleza e complexidade são características comuns ao trabalho do criador de Dylan Dog, classificar esta como das melhores é já dizer muito. Não sairão defraudados, com esta aventura poética do investigador dos pesadelos. Sim, o título homenageia Chandler, tudo em Sclavi tem estes duplos sentidos, docinhos para a mente dos leitores conhecedores.
Talvez o que mais seduz nesta história seja o seu profundo onirismo. Reduzida aos seus elementos essenciais, O Imenso Adeus é ao mesmo tempo uma história de fantasmagorias e de remorsos pela dificuldade em confessar o amor. Percebemos isso muito depressa, vemos logo qual é o caminho da narrativas. Mas nestas coisas da boa literatura, não é só o destino que interessa, mas sim o percurso. É aqui que esta longa despedida nos cativa.
Confesso que sobre Dylan Dog. sofro de um forte enviesamento. Se respeito e aprecio o trabalho de muitos dos argumentistas que têm trabalhado com este personagem - Roberto Recchioni e Paola Barbato saltam logo à mente, na verdade o melhor de Dylan está em Tiziano Sclavi. A sua combinação de onirismo, horror e saber enciclopédico espelhado em inúmeras homenagens ao género, patentes em inúmeros detalhes das suas histórias, são os elementos que tornaram este em mais do que um personagem de banda desenhada comercial. Quem conhece Dylan Dog, sabe que merece ser lido com algo mais do que fumetti escapista. Será sempre de entretenimento, é certo, mas entretenimento erudito, sustentado por narrativas complexas de qualidade literária.
Se tiverem dúvidas sobre isto... recomendo-vos que se recostem no sofá, ou se abriguem do sol sob uma árvore num jardim. Reservem uns longos momentos de silêncio. E deixem-se levar por este O Imenso Adeus, talvez das mais belas e complexas histórias escritas por Sclavi. Como beleza e complexidade são características comuns ao trabalho do criador de Dylan Dog, classificar esta como das melhores é já dizer muito. Não sairão defraudados, com esta aventura poética do investigador dos pesadelos. Sim, o título homenageia Chandler, tudo em Sclavi tem estes duplos sentidos, docinhos para a mente dos leitores conhecedores.
Talvez o que mais seduz nesta história seja o seu profundo onirismo. Reduzida aos seus elementos essenciais, O Imenso Adeus é ao mesmo tempo uma história de fantasmagorias e de remorsos pela dificuldade em confessar o amor. Percebemos isso muito depressa, vemos logo qual é o caminho da narrativas. Mas nestas coisas da boa literatura, não é só o destino que interessa, mas sim o percurso. É aqui que esta longa despedida nos cativa.
Dylan é surpreendido na sua casa londrina de Craven Road por uma inesperada cliente, uma sua antiga paixão de adolescência que não sabe muito bem como foi parar a Londres. É esse o primeiro mistério, que se resolve com uma viagem de regresso à aldeia costeira de Moonlight. Uma viagem onírica, onde as memórias do passado se cruzam com um presente fantasmagórico. Dylan recorda a sua paixão de juventude, muito demonstrada mas nunca confessada. E agora, décadas depois, estas duas almas parecem ter uma segunda oportunidade para reencontrar o amor.
Colocando a história desta forma, parece que estamos a falar de uma banal comédia romântica e não de uma excelente aventura de uma série dedicada ao sobrenatural. É isto que torna Dylan Dog interessante, na forma como Sclavi sempre se apropriou de estruturas narrativas e iconografias levando-as sempre além do esperado. Sublinho, é a viagem, não o destino. Neste Imenso Adeus, a viagem é um mergulho em memórias, mas também numa forma delicada, poética, de sobrenatural. Claramente um espírito inquieto quer fazer as pazes com a sua vida, após a morte, e opta pelo redescobrir de um antigo amor. Na lógica onírica da obra, Dylan regressa a Moonlight (Sclavi gostava de pregar partidas com incongruências geográficas), entre memórias e novos percursos. A história é tão atípica no registo conto de horror, que o próprio Groucho aqui tem um comportamento totalmente distinto do habitual. O final é previsível, mas nem por isso menos tocante. O ser antevisto faz parte do jogo poético deste livro imperdível de Dylan Dog, finalmente editado em Portugal.
Se o texto de Sclavi, a partir de uma ideia de Marcheselli, é dos melhores que o criador de Dylan Dog escreveu para o seu personagem, o nível gráfico da aventura não lhe fica atrás. Carlo Ambrosini sabe puxar pelo lado surreal desta história, com vinhetas de um profundo onirismo a acompanhar na perfeição o espírito da narrativa.
Artur Coelho
Colocando a história desta forma, parece que estamos a falar de uma banal comédia romântica e não de uma excelente aventura de uma série dedicada ao sobrenatural. É isto que torna Dylan Dog interessante, na forma como Sclavi sempre se apropriou de estruturas narrativas e iconografias levando-as sempre além do esperado. Sublinho, é a viagem, não o destino. Neste Imenso Adeus, a viagem é um mergulho em memórias, mas também numa forma delicada, poética, de sobrenatural. Claramente um espírito inquieto quer fazer as pazes com a sua vida, após a morte, e opta pelo redescobrir de um antigo amor. Na lógica onírica da obra, Dylan regressa a Moonlight (Sclavi gostava de pregar partidas com incongruências geográficas), entre memórias e novos percursos. A história é tão atípica no registo conto de horror, que o próprio Groucho aqui tem um comportamento totalmente distinto do habitual. O final é previsível, mas nem por isso menos tocante. O ser antevisto faz parte do jogo poético deste livro imperdível de Dylan Dog, finalmente editado em Portugal.
Se o texto de Sclavi, a partir de uma ideia de Marcheselli, é dos melhores que o criador de Dylan Dog escreveu para o seu personagem, o nível gráfico da aventura não lhe fica atrás. Carlo Ambrosini sabe puxar pelo lado surreal desta história, com vinhetas de um profundo onirismo a acompanhar na perfeição o espírito da narrativa.
Artur Coelho
Dylan Dog: O Imenso Adeus
Autores: Mauro Marcheselli, Tiziano Sclavi, Carlo Ambrosini
Editora: A Seita
Ano de edição: 2020
Páginas: 104 páginas, capa dura
Preço: 12,50€