COMIC CON PORTUGAL 2015
2015-12-11
Alguns colaboradores da H-alt estiveram na Comic Con 2015, em Matosinhos. Podem ler as suas opiniões pessoais e descomprometidas a respeito desta importante convenção abaixo.
Alguns colaboradores da H-alt estiveram na Comic Con 2015, em Matosinhos. Podem ler as suas opiniões pessoais e descomprometidas a respeito desta importante convenção abaixo.
Sobreviver ao Comic Con
É verdade! Uma semana depois, venho deixar o meu testemunho do ''maior festival de cultura pop'' do país.
Muita gente, na segunda feira, me veio perguntar ''Ah e foi giro?'', e respondi sempre a mesma coisa ''Sim, sim, cansativo'', porque, na verdade, é a primeira coisa que penso quando me falam da Comic Con.
Também estive presente na edição do ano passado (mas na altura não me apeteceu escrever nada sobre isso) e, em termos de comparação, este ano foi muito mais intenso. Não só pelo facto da área do evento ter praticamente duplicado, como também (consequentemente) teve muito mais visitantes.
As principais razões que me levam à Comic Con são ''profissionais'', vou lá pela BD e pouco mais, por isso não esperem que eu vá redigir muito sobre cosplay ou painéis de Séries - que (infelizmente) não apanhei nenhum, nem este ano nem no ano passado.
No geral, acho que foi um evento bem conseguido para aquilo que é suposto ser. Já foi a minha segunda vez e acredito que para o ano se vá repetir. Sendo assim, acho que é boa ideia ter em mente alguns tópicos, para que a próxima edição seja uma experiência ainda melhor. Assim, partilho agora com vocês um pequeno manual de sobrevivência, caso queiram aventurar-se no mundo dos geeks e da cultura pop em Matosinhos em 2016 e por em diante.
1. Evita a fila da entrada! Apesar de ser praticamente inevitável! Se fores o tipo de pessoa cautelosa e astuta (como eu) ou simplesmente um verdadeiro fã entusiasmado (como eu também) e compraste o teu bilhete/passe com antecedência, é praticamente inevitável a fila enorme que vais ter que enfrentar para entrar no evento. Para entrarem no recinto, vão ter que trocar o bilhete/passe por uma pulseira correspondente, e esse processo no sábado de manhã é o caos. Este ano, as minhas amigas ficaram duas horas (elas cronometraram) em pé na fila, isto no sábado! Como contornar isso? É possível!
- Hipótese 1: Se tens um passe de 3 dias, aconselho-te a ires marcar entrada na sexta - porque sexta feira, quase ninguém vai, e se fores ao fim do dia, entras quase directamente. Assim, no dia seguinte, já terás a pulseira e podes entrar directamente no evento e saltar o processo de validação da pulseira. A maior parte das pessoas (eu) compram o passe Weekend e só vão no sábado e domingo - e depois acabam por aproveitar apenas sábado à tarde e domingo, porque sábado de manhã estão na fila.
- Hipótese 2: És um preguiçoso e decidiste comprar o bilhete diário no dia. Não é tão má jogada quanto parece, porque estas pessoas compraram o bilhete na bilheteira do recinto, podendo logo nessa mesma bilheteira ter a pulseira, ou seja, não tiveram que ir para a fila e entraram logo no evento.
Este ano, a zona de restauração estava muito mais diversificada e muito melhor organizada. Mas mesmo assim, não deixa de ser caótica, e, de qualquer das formas, se é para comer uma sandes, mais vale trazeres uma de casa, que podes comer a qualquer altura que te apetecer sem ter que esperar em filas e podes usar esses 4/5euros noutra coisa, tipo um porta-chaves manhoso em forma de Totoro!
O mesmo se aplica a uma garrafinha de água.
3. Vai ao Artist Alley. Se o que queres é boa BD, é na Artist Alley que a vais encontrar. Nos stands e nas lojas não vais encontrar coisas muito diferentes do que vês nas Fnac, apenas vão estar mais baratas, mas na Artist Alley, para além de falares pessoalmente com os autores, vais encontrar muito mais variedade e surpreendente qualidade, seja qual for o estilo que procuras. E ainda para além disso, uma banca na Artist Alley é estupidamente cara, portanto qualquer compra que faças lá é uma óptima ajuda para o artista.
4. Cuidado com as diferenças de temperatura. Apesar de estarmos em Dezembro e estar frio na rua, não te deixes iludir. Dentro da Comic Con vai estar um calor desgraçado, especialmente na zona dos stands e dos video jogos. Este ano já houve bengaleiro, portanto aconselho toda a gente a levar um casaco bem quente, para que por baixo possa ter apenas algo mais leve, e não terem que andar a transpirar o resto do dia.
5. Diverte-te! Sim, mesmo que seja domingo e estejas super cansado/a porque não tens dormido nada de jeito no hostel, lembra-te que só vai haver mais para o ano, e nem tens a certeza se vais! - este conselho aplica-se praticamente a qualquer viagem/evento/ocasião espontânea.
No domingo, eu andei literalmente a adormecer nas mesas da zona de alimentação e a rastejar pelos corredores, mas isso não impediu que fosse ao Armazém Assombrado namoriscar com zombies (ou ser confundida por um deles) e à Portfolio Review buscar o meu trabalho e ainda assim ter tempo para dançar, tirar fotos com uma série de desconhecidos e beber 3 litros de Pleno à custa de selfies.
Se podem fazer, façam - é a regra de ouro. É sempre melhor voltar a casa cansado, mas com imensas memórias e histórias para contar, certo?
(Estante de Mosi)
Autora: Mosi
Resumo da CCPT2015
Pontos positivos:
- Mais expositores, mais lojas, mais diversões paralelas em relação ao ano passado (segundo o que me têm dito).
- WC limpos e sem filas.
- Restauração a funcionar na normalidade, mesmo em horas de maior enchente (e não, não vou referir a presença desnecessária de demasiados vendedores espanhóis nesta área).
- Se por um lado, as atracções da Artist's Alley logo à entrada fizeram-me lembrar os feirantes ambulantes (pois quase tudo saltou directamente da Amadora BD para aqui), ao menos é tudo material do bom. Óptimos artistas, obras brilhantes.
- Três réplicas obrigatórias: Um Iron Throne, um Tie-Fighter e... Um Delorean magistral. Para meu deleite.
- A Legião 501 sempre impecável. Acolhedores e sempre prestáveis. Não fossem eles e o evento perderia metade da piada.
- Não sendo o meu mundo, a secção de jogos estava bem artilhada. E com maiores facilidades no domingo. Ainda joguei Shinobi uma boa meia hora num velhinho Mega Drive, ahah!
- Cosplay Top Notch, com Capitão Falcão, Songoku, Ghostbusters (faltou um Ernie, aqueles sacanas racistas), Furiosa do Mad Max, a Tristeza de Inside Out, o Kung Fury (sim, esse mesmo! Só fiquei com pena de não ter tido a rapidez de lhe tirar uma foto) ou o Daredevil da Netflix. Mas nem tudo foi positivo nesta área, como indico logo em baixo...
Pontos Negativos:
- Pouco cosplay. Menos de um quarto dos visitantes decidiram marcar presença da maneira mais criativa que se podia pedir... (eu fiz a minha parte). E o pouco que houve, demasiado era relacionado com Anime e videojogos. Esta é uma decepção pessoal, não sendo algo contra o evento ou as escolhas dos cosplayers.
- Mais de metade dos visitantes não se enquadravam no modelo "geek". Como é que soube disso? Muitos paizinhos que trouxeram as crianças para ver o "freak show". Algumas caras espantadas, certos risos de troça, não é decididamente lugar para esta gente que foi lá "passar o fim de semana". Ou outros que se perguntavam que filme estariam a ver no espaço da FNAC (passava um Star Wars, caramba!).
- A programação, que diabo! O cartaz foi tão fraco. Pior que ter filmes portugueses que poucos quiseram assistir, foi ter convidados de terceira linha que fazem de conta para parecerem importantes. Tirando duas ou três individualidades, pouco se viu.
- Do pouco que eu queria assistir, tiveram a indecência de colocar dois grandes nomes À MESMA HORA! John Noble ou Brian Azzarello? Chiça ó organização... Respeitinho pelas pessoas que não têm o dom da ubiquidade!
- A página de Facebook oficial da Comic Con Portugal está sempre a repescar e partilhar artigos e links de... uma página FB espanhola que também estava presente no evento. Então nem são capazes de criar conteúdo próprio? Vergonhoso.
- O som no Auditório principal foi humilhante. O convidado nem sempre se fazia ouvir e as perguntas dos visitantes eram inaudíveis. "Fale mais perto do microfone, por favor", pediam eles. Porra, os pobres dos miúdos estavam "A COMER" o microfone. E falando mais alto, criavam um buzz de reverberação para as colunas. Nota negativa para os técnicos de áudio.
- A iluminação no Auditório B durante os "Heróis do Cosplay" estava muito mal direccionada. De lado e em cima. Isso cria sombras em qualquer posição para quem está virada para o público. Os fatos mais escuros passaram tipo sombra pelos nossos olhos. Ah! E não me vou alongar na qualidade dos anfitriões, que só visto...
- A falta de um mapa do recinto para qualquer pessoa se poder movimentar sem problemas. Logo no primeiro dia pedi a todos os voluntários que por lá andavam. Nenhum deles tinha e nenhum deles me sabia ajudar. "Ah acabei de chegar...". Uma delas até me indicava o lado oposto para onde eu me queria dirigir. Falta de formação ou falta de vontade? Uma nódoa negra na organização. É ofensivo para com o visitante não podermos contar com a ajuda de quem está lá para isso mesmo... Para o ano arranjem um patrocinador para imprimirem uns flyers (com mapa de um lado, publicidade do outro, por exemplo).
Autor: Edgar Ascensão
Comic-Con. Duas palavras. E se o tivéssemos de descrever em igual número de expressões, seria certamente como "competição lucrativa".
Na segunda edição do Comic Con Portugal, que decorreu este passado fim de semana em Matosinhos, no norte do País, pouco há de bom a dizer. Para um evento que se diz ser para celebrar a cultura "geek" em Portugal, a única celebração possível será certamente a do monopólio Star Wars. Para onde quer que se olhasse, tanto as bancas de venda de produtos, como os aspectos decorativos, só se via Star Wars, Star Wars e ... Star Wars.
Ou não fosse o filme estrear nos cinemas daqui a uma semana, mas os três dias do evento de animação apenas tiveram desfiles da 501st Legion. Exposições de outros franchises, pouco material havia, destaque para o DeLorean do Regresso ao Futuro, o fato e espada do Hiro Nakamura dos Heroes... e o trono de plástico a imitar o Iron Throne da Guerra dos Tronos, que se desfazia mais um bocado sempre que alguém lá se sentava.
Já o Fallout 4, um jogo que saiu há um mês, pouco ou nada havia, a não ser funko pop's de Deathclaws.
Comparando este Comic Con a outros mais internacionais, é deveras uma desilusão. O que dizer dos convidados por exemplo? De termos um grande actor como o John Noble a par com um rapaz de uma série de quinta categoria do Disney Channel? Mas o maior "let-down" será certamente, como já mencionado, esta competição lucrativa. Parece que o evento se trata apenas de vender e consumir, e isso é muito triste.
Já o consumo que realmente importava, a zona de Artist's Alley, estava escondida num canto da Exponor, onde praticamente ninguém passava. A qualidade dos ilustradores, caricaturistas, etc.. que estava neste espaço era bastante boa, destaque para Ricardo Drummond, (obrigada pelo Jon Snow!!), Joana Afonso, Daniela Viçoso e Nuno Lourenço. Mas para os restantes (não menos bons!), foi difícil obter o lucro desejado.
O layout das bancas dos artistas deixava muito, mas muito a desejar, sendo que os corredores onde passavam os visitantes eram laterais e as bancas estavam na horizontal, pouco convidando a nível psicológico para dar uma vista de olhos. A não ser que alguém lá fosse com um propósito, muita gente que passou por esta feira não deve sequer ter sabido da existência de tal local.
Os problemas na organização persistiram também de um ano para outro. Sendo que o ano passado a questão principal foi controlar as filas e os tempos de espera, esse problema voltou a acontecer. Existiram pessoas que estiveram na fila de entrada durante horas, já com bilhete, e foram ultrapassadas por quem ia no próprio dia à bilheteira.
O mesmo na zona de restauração. Às principais horas de refeição era simplesmente impossível de aceder, e esta também localizada numa ponta do evento, que poucas pessoas conseguiam encontrar por falta de sinalização. E o que dizer, do único multibanco da feira que raramente tinha dinheiro?
Os voluntários, esses deviam estar ali apenas para enfeitar, pois raramente sabiam responder a alguma pergunta.
Há quem se queixe veemente de que uma festa desta magnitude não deve ser feita sempre em Lisboa, visto que Lisboa está cheia de eventos do género. Mas se compararmos a localização da FIL, que fica ao lado de metro e comboio, a Exponor nada fácil é de aceder. Há que ir ou de carro, ou meia dúzia de quilómetros a pé desde a paragem de metro mais próxima. Para evitar esta deslocação, foram criados transfers gratuitos, mas estes saem do evento bastante cedo, não podendo os fãs usufruir dos últimos cartuchos.
Aspectos positivos, o tamanho do espaço ter sido aumentado. O ano passado, com os números que a feira conseguiu, felizmente a organização ouviu as críticas e decidiu fazer melhorias. Nota-se que há lugar para mais acertos nas próximas edições, pois no pavilhão de Memorabilia ainda havia muito espaço livre para mais bancas.
A diversidade das já disponíveis também era notável. Apesar de alguns dos visitantes não serem particularmente fãs de consumo desenfreado, há que aceitar que, ao contrário de outras feiras do género, na Comic-Con existiam muito mais lojas presentes do que em outros eventos semelhantes bastante monopolizados. Pena foi, como já mencionado, todas vendessem o mesmo. Lá está, o lucro em foco.
Certamente que os Cosplayers também valem para esta contagem. Nota-se que em Portugal, de ano para ano, a qualidade deste nicho de mercado vai aumentando. Ainda assim, não se percebe porque não há, por exemplo, perucas à venda no evento, serviços de costura, cabeleireiro, etc...
A simpatia dos assistentes de produção surpreendeu. Muitos voluntários não faziam ideia do que ali estavam a fazer, e alguns chegavam inclusivamente a tirar a t-shirt a meio do serviço para passearem pela feira. Mas havia sempre um segurança disposto a encaminhar para o sítio correcto ou uma pessoa que não descansava enquanto as nossas eventuais questões não estivessem resolvidas.
A Comic-Con claramente tem muito a melhorar e, não obstante estas quezílias, espera-se sinceramente que o consigam fazer, e de ano para ano. Que sejam modestos e parem de pensar apenas em lucro. Façam realmente a diferença neste país, e não sejam como outros eventos. Principalmente, dêem mais destaque aos artistas e impulsionem verdadeiramente a cultura em Portugal.
Autora: Joana Varanda