RESENHA BD
Apocryphus: Monstro, editado por Miguel Jorge
16-01-2022
Desde o primeiro momento que o projeto Apocryphus se afirma pela maturidade estética. O desafio colocado aos criadores que nele publicam é o de criar banda desenhada temática, com argumentos e ilustração cuidada. No ecossistema da edição independente de BD, este projeto é um espaço de elevada qualidade contínua, num contínuo esforço de Miguel Jorge, seu editor.
Monstros é o tema da mais recente edição, que só chegou ao público no segundo semestre de 2021. Como demasiadas coisas na vida de todos, o projeto ficou suspenso graças à pandemia. Algo que é natural, este tipo de projetos vivem mais do contacto direto com o seu público do que na presença em livrarias. Sem eventos onde os fãs possam adquirir estas edições, apresentar os autores e trabalhos, discutir as leituras, as linhas de publicação perdem algum sentido.
Todas as edições da Apocryphus seguem um tema definido, desafio aos criadores. Por detrás dos temas de cada edição há uma profunda dedicação à ficção fantástica, e a ficção científica, que já chegou a ter uma edição dedicada, anda sempre presente. Este pormenor ainda faz gostar mais da revista. Quando pegamos nela, os fãs de ficção científica sabem que vão sempre encontrar algo interessante criado por autores portugueses.
Desde o primeiro momento que o projeto Apocryphus se afirma pela maturidade estética. O desafio colocado aos criadores que nele publicam é o de criar banda desenhada temática, com argumentos e ilustração cuidada. No ecossistema da edição independente de BD, este projeto é um espaço de elevada qualidade contínua, num contínuo esforço de Miguel Jorge, seu editor.
Monstros é o tema da mais recente edição, que só chegou ao público no segundo semestre de 2021. Como demasiadas coisas na vida de todos, o projeto ficou suspenso graças à pandemia. Algo que é natural, este tipo de projetos vivem mais do contacto direto com o seu público do que na presença em livrarias. Sem eventos onde os fãs possam adquirir estas edições, apresentar os autores e trabalhos, discutir as leituras, as linhas de publicação perdem algum sentido.
Todas as edições da Apocryphus seguem um tema definido, desafio aos criadores. Por detrás dos temas de cada edição há uma profunda dedicação à ficção fantástica, e a ficção científica, que já chegou a ter uma edição dedicada, anda sempre presente. Este pormenor ainda faz gostar mais da revista. Quando pegamos nela, os fãs de ficção científica sabem que vão sempre encontrar algo interessante criado por autores portugueses.
Esta edição inicia com uma entrevista ao promissor ilustrador Miguel Ruivo, muito interessante pela forma como desmonta o seu processo criativo. A ficção arranca com Ignorância, escrita por Filipe Homem Fonseca e desenhada por Filipe Coelho, uma história sobre vacinas e ignorância realmente monstruosa, escrita no estilo de ironia brutal que é o esperado do argumentista. Uma metáfora de infeliz presciência para os tempos que vivemos, que os autores esclarecem ter sido concebida antes da explosão pandémica que vivemos.
Um fantástico pós apocalíptico que cruza ilusões e demónios numa história de fantástico negro define A Noite que Está em Ti, por Nuno Duarte, Miguel Jorge e Jacky Filipe. Exótico de Fernando Lucas cruza monstros míticos com a monstruosidade dos vícios humanos, numa história que nos leva ao final da idade média, entre a europa e as américas. Rogério Ribeiro e Phermad trazem-nos uma visão sangrenta e visualmente expressiva que se inspira no rico substrato mítico da reconquista cristã. Pós-Parto tem um argumento perturbante de Keith Cunningham, entre fantasmagorias e traumas do pós-parto, com um trabalho excecional de Diana Andrade na ilustração.
Os dilemas de realidades mediadas por tecnologias, que nos levam a ver o que poderá não existir e confundir o ficcional com o real, são o grande tema de Visão, escrito por Linda Lee e Kieron Gillen (leram bem), ilustrado por Pedro Potier. Nuno Amaral Jorge e Paulo Montes cruzam as lendas antropofágicas das criaturas míticas do norte canadiano com a autofagia social da pobreza numa história onde o monstro Wendigo representa a insanidade que nos consume. Inocência Dias e Henrique Gandum encerram a Apocryphus com aventura em estilo clássico de Fiorde, onde monstros pré-históricos se defrontam com indomáveis vikings.
Projeto de solidez e maturidade, a Apocryphus nunca desilude. A edição é cuidada, num projeto que se tem mostrado sustentável e de continuidade. Com Monstros como tema, as histórias desta edição desafiam e intrigam-nos, jogando com mitos e iconografias, mas também com o horror dos momentos contemporâneos.
Artur Coelho
Um fantástico pós apocalíptico que cruza ilusões e demónios numa história de fantástico negro define A Noite que Está em Ti, por Nuno Duarte, Miguel Jorge e Jacky Filipe. Exótico de Fernando Lucas cruza monstros míticos com a monstruosidade dos vícios humanos, numa história que nos leva ao final da idade média, entre a europa e as américas. Rogério Ribeiro e Phermad trazem-nos uma visão sangrenta e visualmente expressiva que se inspira no rico substrato mítico da reconquista cristã. Pós-Parto tem um argumento perturbante de Keith Cunningham, entre fantasmagorias e traumas do pós-parto, com um trabalho excecional de Diana Andrade na ilustração.
Os dilemas de realidades mediadas por tecnologias, que nos levam a ver o que poderá não existir e confundir o ficcional com o real, são o grande tema de Visão, escrito por Linda Lee e Kieron Gillen (leram bem), ilustrado por Pedro Potier. Nuno Amaral Jorge e Paulo Montes cruzam as lendas antropofágicas das criaturas míticas do norte canadiano com a autofagia social da pobreza numa história onde o monstro Wendigo representa a insanidade que nos consume. Inocência Dias e Henrique Gandum encerram a Apocryphus com aventura em estilo clássico de Fiorde, onde monstros pré-históricos se defrontam com indomáveis vikings.
Projeto de solidez e maturidade, a Apocryphus nunca desilude. A edição é cuidada, num projeto que se tem mostrado sustentável e de continuidade. Com Monstros como tema, as histórias desta edição desafiam e intrigam-nos, jogando com mitos e iconografias, mas também com o horror dos momentos contemporâneos.
Artur Coelho
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Apocryphus: Monstro
Autor: Vários Autores
Editora: Mighell Publishing
Ano de edição: 2021
Páginas: 116 páginas, capa mole
Preço: 15€
Apocryphus: Monstro
Autor: Vários Autores
Editora: Mighell Publishing
Ano de edição: 2021
Páginas: 116 páginas, capa mole
Preço: 15€