ALEX TOTH
2017-02-22
Anteriormente, referíamos a necessidade de o desenhador acumular o papel de escritor, ou seja assumir-se como autor completo. Trata-se de um fenómeno muito mal visto e desencorajado pelos editores e escritores do meio (por razões óbvias), mas é a forma mais fiável de salvaguardar a sua independência e a integridade das suas obras e do seu percurso face às tentativas de manipulação e controlo por parte de agentes exteriores. Não se trata aqui de condenar os escritores. Idealmente, estes, desejando dedicar-se aos comics, também deveriam procurar desenhar. No fundo, em termos idealistas, o desenhador deverá ser alguém que tem as suas próprias ideias, as desenvolve, escreve e produz, tem a última palavra sobre elas e que recolhe o justo dividendo sobre os eventuais lucros que essas obras possam gerar. Ora isto, ainda que ideal, nem sempre é possível. As vicissitudes económicas e constrangedoras que afligem o desenhador são inúmeras. São muito poucos os que chegam a verdadeiros profissionais e desses só um número ínfimo consegue ascender a um plano onde conquista a latitude necessária para fazer o que lhe dá na real gana. Ainda assim, verdade seja dita, muitos desses, quando chegam a esse mesmo patamar, conscientemente ou não, já venderam a alma há muito tempo e acabam por (re)produzir trabalhos polidos, por vezes até interessantes, mas que na sua essência se limitam a repetir aquilo que sempre fizeram, o mais recente blockbuster/bestseller ou pastiches de nostalgia masturbatória. Arrisco dizer que é mais fácil encontrar obras verdadeiramente genuínas entre fazineiros anónimos do que nos mais famosos ou nas vacas sagradas dos mainstream...
Anteriormente, referíamos a necessidade de o desenhador acumular o papel de escritor, ou seja assumir-se como autor completo. Trata-se de um fenómeno muito mal visto e desencorajado pelos editores e escritores do meio (por razões óbvias), mas é a forma mais fiável de salvaguardar a sua independência e a integridade das suas obras e do seu percurso face às tentativas de manipulação e controlo por parte de agentes exteriores. Não se trata aqui de condenar os escritores. Idealmente, estes, desejando dedicar-se aos comics, também deveriam procurar desenhar. No fundo, em termos idealistas, o desenhador deverá ser alguém que tem as suas próprias ideias, as desenvolve, escreve e produz, tem a última palavra sobre elas e que recolhe o justo dividendo sobre os eventuais lucros que essas obras possam gerar. Ora isto, ainda que ideal, nem sempre é possível. As vicissitudes económicas e constrangedoras que afligem o desenhador são inúmeras. São muito poucos os que chegam a verdadeiros profissionais e desses só um número ínfimo consegue ascender a um plano onde conquista a latitude necessária para fazer o que lhe dá na real gana. Ainda assim, verdade seja dita, muitos desses, quando chegam a esse mesmo patamar, conscientemente ou não, já venderam a alma há muito tempo e acabam por (re)produzir trabalhos polidos, por vezes até interessantes, mas que na sua essência se limitam a repetir aquilo que sempre fizeram, o mais recente blockbuster/bestseller ou pastiches de nostalgia masturbatória. Arrisco dizer que é mais fácil encontrar obras verdadeiramente genuínas entre fazineiros anónimos do que nos mais famosos ou nas vacas sagradas dos mainstream...
Um dos tristes exemplos de alguém que, por razões variadas, não foi capaz de assumir este papel e que sofreu criativamente por isso é Alex Toth. Parte da primeira geração de tarefeiros que sustentava a máquina dos estúdios de comics norte-americanos dos anos da Segunda Guerra Mundial, este desenhador começou a trabalhar no meio ainda como um adolescente. Rapidamente se tornou no melhor artesão da sua geração, senhor de uma capacidade ímpar de síntese gráfica, de domínio do claro-escuro e de ousadia experimentalista a nível gráfico (dentro das possibilidades permitidas pelo conservadorismo da época), sendo um exemplo a seguir pelos seus pares, aquilo a que na língua inglesa se chama um "artist's artist".
Infelizmente, a sua incapacidade, com raríssimas excepções, em criar e escrever as suas próprias histórias, relegaram-no para o eterno papel secundário de mais uma rosca na máquina. Alex Toth foi apenas mais um tarefeiro nas trincheiras das indústrias gráficas e visuais dos comic books e do desenho animado norte-americanos. O trágico da situação é que o seu talento gráfico merecia que tivesse sido muito mais. Acrescido a isto, o seu infame temperamento mercurial contribuiu para uma fama de desenhador quase-maldito. No entanto, o seu talento era de tal modo poderoso, que nem mesmo estes reveses impediram a sua visão de ganhar projeção (ainda que quase anónima) a nível mundial. Quem de entre os mais velhos não se recorda de personagens que povoaram os pequenos ecrãns de todo o mundo como Space Ghost ou os Herculoids? Pois é, em todas elas estava a marca inconfundível deste artista, character designer durante anos a fio dos estúdios da Hanna-Barbera.
Hoje, só os mais devotos estudiosos dos comics e da animação reconhecem o trabalho e o talento deste homem. Ficará para sempre a pergunta: que obras teríamos hoje se o percurso de Alex Toth lhe tivesse permitido desenvolver-se enquanto autor completo?
- O Desenhador Fantasma